Sunday, June 30, 2013

Fragmentos

Indagaram uma anciã de 100 anos no cume de um morro no Rio de Janeiro: - Como está o seu colesterol, madame?
Respondeu: - Eu não sou do tempo de colesterol, não. Quem inventou colesterol foram os médicos.
Em seguida, insistiram: - A senhora tem medo da morte?

Respondeu: - Eu não. O povo tem medo da morte e está todo mundo morrendo.
Sosígenes Bittencourt

Fragmentos

Deixei de jogar futebol por 3 motivos:
primeiro, não gosto de ninguém correndo atrás de mim; depois, se for homem, piorou, 
e pra me dar pontapé, Deus me defenda.
Sosígenes Bittencourt

Wednesday, June 26, 2013

Vai-se o São João

Vai-se o São João. E o amontoamos entre os São Joões que passamos. 
Fogueirinhas preguiçosas, resto de cinza, camisa quadriculada, retalhos de vidas. Uma boca bordada na pele, cotocos de cigarro, ebriedade, fuxico. Nenhuma santidade em nome do santo. Ninguém quer ir para o céu, por isso mistura história de santo com samba do crioulo doido. George Bernanos dizia: A santidade é uma aventura, ela é mesmo a única aventura. 
O passado e o futuro são dois tempos que não existem. Somos feitos de agoras. O presente é a conversão instantânea e fugaz do futuro em passado. Ninguém quer pensar, o tempo todo, no tempo. Quem pensa nisso, sofre de aperto no peito, cuja palavra alemã é “angst”, ou seja, angústia, cá entre nós.
Ninguém pense em morrer para ganhar a Eternidade. A Eternidade é o tempo todo, é agora, nós sempre estivemos e estaremos na Eternidade.
Acabamos de misturar a reclusão da divindade com acordes de sanfona e comilança de milho. A ascese do santo, sua oração e sacrifício com espoucar de fogos de artifício.
Vai-se o São João. E o amontoamos entre os São Joões que passamos.
Sosígenes Bittencourt

Monday, June 24, 2013

São João no tempo de eu menino

Das três maiores festas anuais, o São João é a mais singela e tradicional. O Ano Novo nos trespassa de tristeza, porque sugere a contagem do tempo e amontoa os mortos. Abrimos álbum de retrato e botamos pra choramingar. O Carnaval é uma festa perigosa, de extravasar frustrações. O pessoal só falta correr nu pela rua. 
O São João é uma festa mais pacata, que relembra nossas tradições mais atávicas, nossas raízes culturais. Lembro-me do São João das ruas sem calçamento. O mundo parecia um terreiro só. As mulheres cruzavam as pernas, enfiavam as saias entre as coxas, para ralar o milho e o coco, enquanto os homens plantavam o machado nos toros de madeira para fazer as fogueiras. À tardinha, a panela virava uma lagoa de caldo amarelo onde fervia o maná das comezainas juninas. A meninada ensaiava o jeito de ser homem e mulher. De chapéu de palha, bigode a carvão e camisa quadriculada, era quando podíamos chegar mais perto das meninas sem levar carão nem experimentar a sensação de pecado. O coração se alegrava quando sonhávamos com a liberdade de adultos que teríamos um dia. Batia uma gostosíssima impressão de que estávamos bem próximos de fazer o que não podíamos fazer. Os ensaios de quadrilha relembravam a tristeza do último dia. Pois um ano durava uma eternidade, as horas eram calmas, podíamos acompanhar a réstia do sol e contar estrelas. Pamonha, canjica e pé de moleque eram tarefas de dona de casa prendada, de quem o marido se gabava. Tudo era simples e barato, ninguém enricava com a festa. A novidade era a radiola portátil, e os conjuntos eram pobres de tecnologia, mas os instrumentos ricos de som e harmonia, manuseados com habilidade e gosto, na execução do repertório da festa do milho. Quando São Pedro se ia, ficava um aroma de saudade na fumaça das derradeiras fogueiras e no espocar dos últimos fogos.
Sosígenes Bittencourt

Saturday, June 22, 2013

Marcação de Consulta

Uma hora depois.
- Alô, bom dia. É do urologista?
- É, senhora. Bom dia, diga.
- É que eu queria marcar uma consulta para o meu marido.
- Olhe, senhora, consulta só daqui a uma semana.
- Mas o caso é urgente, diz que é próstata, amiga.
- Olhe, nós só podemos marcar consulta daqui a uma semana, senhora.
- Mas eu ando muito preocupada, meu vizinho teve um problema na próstata, já não urinava, terminou falecendo.
- Olhe, daqui a uma semana a senhora liga para marcar, tá bom?
- Marcar o quê, amiga?
- Marcar a consulta, minha senhora.
- Mas, não é a consulta?
- Não, minha senhora, a consulta será marcada para 30 dias.
- Mas, e se for próstata?
- Olhe, quem vai dizer “o que é” é o urologista, senhora.
- E se ele morrer, minha amiga?
- Morrer, quem, minha senhora?
- O meu marido, idiota!
- Aí não é mais com
 o urologista, madame.
Sosígenes Bittencourt

Thursday, June 20, 2013

Educação e Vandalismo

Investir em Educação, no Brasil, não rende dividendo eleitoral, porque a maioria das pessoas não quer estudar, quer dinheiro, daí o sucesso do Bolsa-Família. Os políticos, fisiologistas, sabem disso. Eles não se preocupam com o futuro da nação, pensam na eleição.
As pessoas que estão reivindicando pacificamente são pessoas que sabem o que querem, pessoas que estudam e, por isso, mais qualificadas para conseguir o que desejam.
O brasileiro, de um modo geral, é dinheirista, tem medo de ficar liso. Esquece que o conhecimento produz melhor compreensão da vida, melhor raciocínio, o que lhe faculta melhor escolha, inclusive, daqueles que podem representá-lo.
Aqueles meliantes que estão com um pano amarrado na cabeça e depredando prédio público fazem parte do lúmpen, o lixo das classes sociais, eles são vítimas e causa do próprio estado de miséria.
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, June 18, 2013

O lidar com a AGRESSIVIDADE

Na realidade, o que está existindo é uma desorganização nas manifestações de protesto. As pessoas estão movidas pela emoção, cujo resultado pode ser bom ou ruim. Não existe emoção boa ou ruim, mas o resultado daquilo que fazemos com a emoção que sentimos.
Todos sabemos que a AGRESSIVIDADE é o combustível da AÇÃO. O que tememos é o resultado daquilo que cada um pode fazer com a sua AGRESSIVIDADE. É o medo, por exemplo, do que possa fazer um meliante, com o ódio que sente, no centro de São Paulo.
Essas passeatas não descartam a presença de DESORDEIROS que se infiltram e convertem sua AGRESSIVIDADE em perigosas ações de VANDALISMO, pondo em risco a vida dos próprios manifestantes.
Ora, vejamos o que pode a AGRESSIVIDADE, como combustível da AÇÃO, realizar. Eu tenho diante de mim um balde de gasolina. Se eu jogo em alguém, eu o queimo; se eu ponho numa ambulância, posso salvar uma vida.

Sosígenes Bittencourt

Monday, June 17, 2013

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César e Aline no Amor à Vida

César pode não ser um pai ou esposo bem sucedido, pode não ser um empresário bem sucedido, mas a vida tem suas compensações. Deu-lhe uma secretária digna de um sultão, de um césar romano.
Os beijos entre Antônio Fagundes e Vanessa Giacomo não são beijos técnicos. A menos que a televisão use de insuspeitados recursos de prestidigitação, os beijos são reais e de mexer com o telespectador na poltrona. Sobretudo, se se tratar de um septuagenário encrencado com a família.
Casos como o encenado por César e Aline acontecem desde que o mundo é mundo. É que, antigamente, as pessoas tinham vergonha de espalhafato e perpetravam seus pecados escondidos da vizinhança. Isso era no tempo do buraquinho no lençol e a negativa de autoria.
Walcyr Carrasco deve ser um bom leitor da vida. A novela pode despertar a ideia de que Aline tem alguma frescura psicanalítica, tipo Complexo de Electra, fixação na figura paterna, daquelas revelações freudianas que o Pai da Psicanálise andou espalhando.
Novela só presta assim, quando você sente vontade de matar ou imitar o personagem. Contudo, é bom ficar atento, Walcyr Carrasco pode fazer alguma barbaridade com você. E cuidado para não comprar uma joia para sua secretária na joalheria que sua mulher costuma visitar.
Sosígenes Bittencourt

Sunday, June 16, 2013

Brasil 3, Japão 0, e o pitaco de mainha

Quando terminou o jogo entre Brasil e Japão, minha genitora, que é enjicada com futebol, saiu-se com essa: - O Brasil joga amanhã com quem?
Aí, papai: - Com ninguém, menina, nenhum time joga dois dias em seguida.
Aí, mainha: - Então, amanhã, eu não vou para o fogão. Está tudo errado. Esses caras trabalham um dia na semana para ganhar uma fortuna, e eu trabalho todo dia sem remuneração?

Sosígenes Bittencourt

Saturday, June 15, 2013

Fragmentos

Não há melhor agasalho
que o abraço da pessoa amada.

Sosígenes Bittencourt

Thursday, June 13, 2013

Fragmentos

Santo Antônio Casamenteiro é o santo protetor do Casamento.
Qual o santo protetor do Divórcio?

Sosígenes Bittencourt

Wednesday, June 12, 2013

Movimento dos Sem Namorado

Para quem está tristonho e não tem a quem dar presente no Dia dos Namorados, um protesto, desencadeado no Rio e em São Paulo: Movimento dos Sem Namorados.
Na realidade, esse movimento só tem um sentido: movimentar desocupados. Chamar-se-ia, com muita propriedade, Movimento dos Sem Ter o que Fazer. 
Num país onde tudo conspira contra o núcleo familiar, movimento para arranjar namorado, sob a alegação de que ninguém quer nada sério com ninguém, não tem lá muito sentido. Quer dizer, é vontade de namorar, com perspectiva de encontrar o amor e selar casamento.
Namoro sério, hoje em dia, parece ser coisa do tempo do ronca. Obrigação de amar e se casar é uma invenção histórica do CONSUMISMO, fantasiada pela mídia. Associa-se amor e casamento a FELICIDADE. Ledo engano. Às vezes, o inferno é exatamente essa junção. Não que alguém não possa amar e ser feliz no casamento, mas para ser feliz ninguém tem que necessariamente amar alguém e muito menos se casar. Lembra-me uma conhecida máxima: O amor é como a morte, não se procura, espera-se.
Depois, arrumar namorado em grupo, erguendo faixas e reclamando da solidão é meio confuso. Namoro nasce espontaneamente, quando menos se espera. Era melhor que se reunissem pra conversar e fazer rodízio para saber quem daria certo com quem.

Sosígenes Bittencourt

Tuesday, June 11, 2013

Empregada ontem e hoje

Antigamente, empregada doméstica trabalhava pelo que comia. Hoje, ganha salário mínimo e tira uma soneca depois do almoço.
Antigamente, dona Fulana, de seu Sicrano, levantava a saia de Maria e dava palmada na bunda da empregada. Hoje, se você se descuidar, a empregada belisca o bebê.
Antigamente, empregada vestia timão de chita e calçava tamanco. Hoje, usa Jeans de marca e namora no Smarfhone.
Antigamente, cabelo de empregada era pixaim e esticado na banha de porco. Hoje, são sedosos e vão à cabeleireira.
Antigamente, empregada só sabia o que era um “O” porque tomava café num caneco. Hoje, conjuga o verbo “amar” e arranha o inglês, é bilíngue.
Antigamente, empregada só ouvia Rádio quando estava ligado. Hoje, muda de canal para ver Malhação.
Antigamente, empregada não tinha o direito de espernear. Hoje, decora Pedido de Emenda à Constituição e discute com qualquer recém-formado em Direito.

Sosígenes Bittencourt

Sunday, June 09, 2013

Munduruku e Buruçu em Brasília

Índios Munduruku e Arara estão uma arara com um canteiro de obras em Belo Monte. Tomaram um choque quando souberam que era a instalação de uma hidrelétrica. Pegaram carona nos Terenas, que também perderam a paciência com o assassinato de um índio e foram reclamar em Brasília. É tanta raiva que um índio esfregou uma flecha no focinho de um cara-pálida. Os Mundurukus estão que não podem ver um espantalho de paletó e gravata.

Sosígenes Bittencourt

Sport 1, Palmeiras 0

De repente, o Sport resolve virar um leão anfíbio e nadar na Ilha do Retiro. Eu daria 10 em matéria de natação.
Eu pensava que só o Sport era acostumado a tomar gol no apagar das luzes. Mas, um dia é da caça, o outro é do caçador.
Também não sabia que o Sport estava adivinhando chuva, o que resultou na porcaria que deu para o time do porco. Aliás, quem conhece a pocilga da Ilha é o rubro-negro da Praça da Bandeira.

Sosígenes Bittencourt 

Thursday, June 06, 2013

Esse mês de Junho

Esse mês de junho é, sem dúvida, o mês mais excitante e debochado do ano. Só se fala em namoro, beijo, a Espada de Apolo refletida no Espelho de Vênus. O mundo levanta a saia, desabotoa-se, caem os panos. É o mês do “frisson”, do friozinho na barriga. Diz que há 484 tipos de beijo; que o animal racional dá 24 mil beijos durante a vida; que uns beijam com a cabeça inclinada para a direita, porque ficaram envergados na cápsula uterina; que a saliva do homem injeta testosterona na boca da mulher para ela ficar querendo se entregar. Vinícius de Moraes inventou que “a hora do ‘sim’ é o descuido do ‘não’".
As noites cheiram a lenha queimando, guloseimas de milho. O som é de estampido, sanfona gemendo, arrasta-pé. A visão é de Luiz Gonzaga entrando no céu com gibão e tudo. Tempo de olhares desconfiados, mãos bobas, a musculatura pegando fogo e as vísceras abdominais resfriadas. Raro o mortal que não cometeu uma safadeza carnal nesse clima. Às vezes, com quem nunca viu; às vezes, com sua prima. Descobriram até que casados gostam de boca cheirosinha a pasta de dente, e que solteiros são chegados a um cheirinho de álcool. Vôte! Tempo de mexerico, hipocrisia. Tem gente que mete o pau naquilo que mais adora. Diz que a língua tem toneladas de terminações nervosas, por isso beijar engatilha o desejo e faz bem à saúde. A beijoterapia ensina que a ocitocina faz um elemento ficar gostando do outro. Mas, diz que o beijo movimenta 29 músculos e permuta 250 bactérias, o que pode servir para espalhar a Gripe Suína. Deus nos defenda! Por isso, o jornalista italiano Dino Segre, popularmente conhecido como Pitigrilli, enredou que “o beijo é uma troca de bactérias em campo úmido.” Enfim, o beijo é um bicho danado. Ninguém é o mesmo depois de um beijo. Ensalivado abraço! 

Sosígenes Bittencourt

Wednesday, June 05, 2013

Guaratinguetá 1, Sport 4

Essa minha impressora é uma onda. Até que ela é boazinha. Mas, é muito tagarela. Só porque o Sport confeccionou a proeza de virar para cima do Guaratinguetá, ela já amanheceu com aquela conversinha. Eu ponho um documento para imprimir, e ouço aquela zoadinha: O SPORT O SPORT O SPORT O SPORT ... É muita onda.

Sosígenes Bittencourt

Monday, June 03, 2013

Pitaco Esportivo

Brasil 2, Inglaterra 2
Apesar de ter jogado a melhor partida da Era Felipão, longe estamos da tão almejada tranquilidade para enfrentar a Copa das Confederações. O elenco é dos melhores do mundo, mas os contratados, coletivamente, não se conhecem. Falta convivência, treinamento para pegar entrosamento. Cada um fala um idioma, é uma troca de passes babelesca.
Diferente do que se comenta, vi a mais atuante exibição de Neymar pela Seleção, embora continue achando que é preciso armar um esquema tático onde o jogador seja aproveitado.
Vejo Fred meio perdido. Se a bola não o encontra de frente para o gol, não serve mais para nada. Não é possível um jogador só servir para chutar no gol. No mínimo, precisava ter a habilidade de fazer a bola viajar, como fez Rooney no gol sideral que marcou.
A Inglaterra não sabia o que iria pegar, pois não podia conhecer um adversário que muda tanto de formação. Por isso, entrou com cautela para estudá-lo. Depois de registradas nossas falhas, voltou com outra postura, como costuma fazer o futebol europeu. Na Europa, futebol é menos arte e mais ciência. Foi o que bastou para emparelhar na contenda e virar o placar. A felicidade foi Paulinho vir de trás e constituir o fator surpresa para não passarmos mais um vexame perante o mundo, logo na reinauguração do Maracanã, o santuário de nossa maior paixão.
Sosígenes Bittencourt

Saturday, June 01, 2013

Ladrão Soft

O ladrão soft já não vai à agência bancária,
assalta de sua própria residência.
O
ladrão soft é todo ético,
não quer o dinheiro do cliente,
quer o dinheiro do banco.
O ladrão soft é todo filosófico,
acha que o cliente é o assaltado,
e o banco, o assaltante.
O ladrão soft é todo prudente,
não quer pegar em arma, trocar tiro com a polícia,
arriscar a vida nem por em risco a vida alheia,
por isso fica em casa, protegendo a família.
O ladrão soft é todo religioso,
acredita que roubar é pecado,
mas tem fé no ditado: ladrão que rouba ladrão
tem cem anos de perdão.
O ladrão soft é calorento e cheio de frescura,
não quer transpirar, correndo pela avenida,
prefere o ar-condicionado do escritório,
para roubar, refrigerado.
O ladrão soft é todo tecnológico, cibernético,
clona seu cheque sem abrir o portão,
sabe seu saldo sem ir ao banco,
transfere dinheiro pela compensação.
O ladrão soft é um ser social,
vai a aniversário, casamento, batizado,
só não vai ao delegado, para não ser grampeado.
O ladrão soft é todo especial.
Para ele, foi fundado o Direito Digital.
O ladrão soft tem estilo, anda todo emperiquitado.
Paletó, gravata. Todo enxerido, solta bravata.
O ladrão soft é todo educado:
- Vocês poderiam me passar os pertences, por favor?
E depois do rapa:
- Deus vos dê em dobro o que eu vos tenho roubado.
Sobressaltado abraço!
Sosígenes Bittencourt