Wednesday, August 31, 2011

Deputados absolvem Jaqueline Roriz de Calcutá

Nem envolta nas vestes de Madre Teresa, Jaqueline parece uma santa. Madre Teresa era mais serena. Jaqueline é meio atarantada, coitada. Nem se lembra de que já chamou a deputada Eurides Brito de "cara de pau", quando Eurides teve o mandato cassado, em 2009, porque recebeu dinheiro de Durval Barbosa. Atacada de amnésia, Jaque recebeu também. Engraçado é que recebeu do próprio Durval. Tem jeito?

Só que os deputados resolveram não cassar o mandato de Jaqueline, concederam-lhe absolvição. E daí? Também, pudera, amanhã eles podem cair na mesma esparrela. Então, por que condená-la? A pergunta que se impõe é a seguinte: E a gente? Quem nos absolverá? Cabe aqui relembrar Stanislaw Ponte Preta: Instaure-se a moralidade, ou nos locupletemos todos.

Desmantelado abraço!

Sosígenes Bittencourt

Monday, August 29, 2011

Estudando Português

Diferença entre orações causais e explicativas
Quando vamos estudar as Orações Subordinadas e Coordenadas geralmente nos deparamos com a dúvida de como distinguir uma Oração Subordinada causal de uma Oração Coordenada explicativa. Veja os exemplos:

) Na frase "Não atravesse a rua, porque você pode ser atropelado": Temos uma Oração Subordinada Explicativa, que indica uma justificativa ou uma explicação do fato expresso na oração anterior. As orações são coordenadas e, por isso, independentes uma da outra. Neste caso, há uma pausa entre as orações que vêm marcadas por vírgula.
Não atravesse a rua. Você pode ser atropelado.

) Na frase "Precisavam enterrar os mortos em outra cidade porque não havia cemitério no local.": Temos uma Oração Subordinada Causal, já que a oração subordinada (parte destacada) mostra a causa da ação expressa pelo verbo da oração principal.

Haviany

Síndrome da segunda-feira

Aprendi a gostar da segunda-feira quando comecei a respeitar o domingo. Vê-lo como dia de reflexão e repouso. E dentro do plano de refletir, obviamente, há o de esvaziar a mente, ficar um pouco sem pensar na vida, deixando fluir pelo corpo uma boa música, ver um filme leve, uma história de amor, talvez. Não Saia Rodada, mas ouvir um clássico, tomar um solo de violino, um piano. Conheço amigos que pegam a estrada e vão tomar birinaite na praia para descansar. Funciona? Outros vão ao pagode, remexer o esqueleto para relaxar o quadril.
Mas, o grande pânico da segunda-feira pertence àqueles que trabalham. Quer dizer, os que não gostam do ofício, e é a maioria. Não sei se é do conhecimento de todos, mas trabalho vem de "tripodium", um artefato de tortura medieval em forma de cruz. Só quem exerce uma atividade por vocação é que não sente que está trabalhando no sentido de estar sendo torturado, pois vocação quer dizer "chamamento", é um chamado interior, ânimo, inspiração.
Contudo, apresentemos uma saída. Baseio-me em minha experiência. Uma das atitudes que sugiro para você fazer o que gosta é aprender a gostar do que faz. E uma das tentativas para alcançar este objetivo é procurar fazer bem feito. Uma de minhas práticas mais eficazes é organizar o ambiente de trabalho, tanto do ponto de vista estético quanto do ponto de vista burocrático. Quem chega em meu ambiente de trabalho, sente a impressão de que há vários funcionários trabalhando. No entanto, produzo tudo sozinho, embora não saiba até quando.
Bom dia e aquele abraço!
Sosígenes Bittencourt

Saturday, August 27, 2011

Palavra na palestra

Convidado para uma palestra, em determinado momento me facultaram a palavra. A palestra era sobre Corrupção. O tema não é a minha paixão, mas palestra é sempre bom, é lucro certo. Uma de minhas leitoras acabou de fazer um comentário sobre a educação antigamente e hoje. E este deve ser o motivo de expor o que comentei na palestra e mais alguma coisa.

Quando eu saio colando frases célebres nas paredes para que o povo leia e reflita, eu estou no domínio de uma de minhas virtudes. Ensinar é, para mim, uma forma de conviver. Minha escola é o mundo. Ah! Sosígenes, mas isso não lhe dá nada, nem um centavo! Você não ganha nada com isso!- comentam meus vizinhos. Ora, dá licença. Eu sou um homem que tem defeitos, vícios. Eu não consigo driblar muitas vezes meus pecados, sou um pobre mortal, por que haveria de me livrar de minhas virtudes? Virtude é virtude, virtude não tem preço, não é coisa, virtude é dignidade. É prazer positivo, é o que me faz feliz.

As pessoas me aplaudem quando eu danço nas festas, eu sou o rei do bolero. As pessoas me acariciam quando eu bebo, pagam a conta, me carregam de cadeirinha de algodão. Oh! meus amigos ab imo pectore (do imo do peito), quão agradecida é minh'alma! Vocês acariciam meu narcisismo! Porém, meus encantadores encantados, eu não sou um bebarrão que estuda, eu sou um estudioso que bebe. Eu jamais troquei uma palestra por uma roda de bebedeira. Se todo dia houvesse palestra, penso que jamais iria ao baile. Nosso grande equívoco, o que nos torna uma nação desfuncional, como sentenciou o doido da Noruega, é que vivemos buscando alívio para a dor atrás do trio elétrico, afogando-se na bebida. Porque privilegiamos o futebol, somos loucos por bola e não damos bola para o magistério. Já imaginaram se fôssemos loucos por ciência, adorássemos laboratório, vivêssemos pesquisando? Não, nos livramos da aula para ir a um assustado. Substituímos o estudo por qualquer coisa que distraia. Por isso nossas escolas viraram playground, centro de distração. Como se estudar doesse, fosse uma crucificação. Eu tinha um aluno despranaviado que dava pontapé nas meninas, beliscava as crianças, estirava a língua e estalava banana. Um dia, ele saiu-se com essa: - Professor, o senhor estudou tanto que ficou doido. E eu, cá, pensando: e você estudou tão pouco que enlouqueceu também. Eu, pelo menos, sou louco da boa loucura.

Lúcido abraço!

Sosígenes Bittencourt

Friday, August 26, 2011

Quadro de Frases

*Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz do que o injustiçado.

*O livro é um mestre que fala, mas não responde.

*É possível descobrir mais sobre uma pessoa numa hora de brincadeira do que num ano de conversa.

Platão

Thursday, August 25, 2011

Kadafi e os ratos

Eis o destino dos ditadores, enxotados como ratos, chamando rebelados de traidores. O morcego da Líbia já viu esse filme antes, mas cego pelo poder, parece não enxergar. Convidado a se apresentar a quem tanto oprimiu, Kadafi se esconde, ameaça, é o cúmulo da ilusão de poder. Ordena que expulsem os rebeldes de Trípoli, como se houvesse a quem ordenar. Diz que vai resistir até a morte, menos do medo da morte do que da ira de ser execrado pela viuvez, assassinado pelos órfãos de sua tirania insana. Duro, impávido, não contava com as novidades do futuro. Não contava com um céu que baixaria à terra, viria aos bolsos, ao colo, pendurar-se ao ombro. E aquilo que era fantasia virou possibilidade. Porque as gerações vindouras ganharam a internet. De repente, era possível ver, na aurora da vida, homens e mulheres assumindo o seu corpo, exprimindo seus desejos.

Inacabado abraço!

Sosígenes Bittencourt

Wednesday, August 24, 2011

Dia de Borges

Não conheço melhor maneira de celebrar o aniversário do nascimento de Jorge Luis Borges, do que publicando alguns dos seus pensamentos. Borges nasceu em Buenos Aires, em 24 de agosto de 1899, e faleceu em Genebra, em 14 de junho de 1986.


* O casamento é um destino pobre para uma mulher.

* Todos os caminhos levam à morte. Perca-se.

* A esperança é o mais sórdido dos sentimentos.

* Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria.

* Minha sepultura será o ar insondável.

* Sou um homem de letras, nada mais. Sou um fazedor de sonhos.

* O rouxinol não sabe que te consola.

Sosígenes Bittencourt

Tuesday, August 23, 2011

Fala, Vitória

Agência do Trabalho
Pelo que está escrito na placa, isto deve ser uma Agência do Trabalho. Pela porta fechada e o lixo no batente, não há nenhum empregado na Agência do Trabalho. Pela claridade, deve ser de dia, num daqueles horários em que se trabalha. Pela arquitetura, são os escombros de uma Estação Ferroviária. Quer dizer, nem funciona a Agência do Trabalho, nem tem trem. O estranho é que há propaganda no rodapé da placa. Quem patrocinou o quê? Esta inquietação metafísica encetaria uma dialética para muitos cafés filosóficos. E se tudo parece ser, mas não é, o contribuinte haverá de se perguntar: Há alguém recebendo como funcionário da agência sem trabalho? Lendo gibi numa rede e abiscoitando o tutu do povo sem transpirar? Esses caras devem ser uns nababos. Porque xeleléu tem pra dedéu sob o céu. E por mais que se fotografe e denuncie essas coisas feias, ninguém se une para manifestar sua indignação. O brasileiro é assim, ao invés de lutar pelos seus direitos, fica arengando um com o outro, se engalfinhando feito menino malcriado. Parece um bando de Jeremias, se lamuriando sobre uma esteira rolante. Mesmo que uma Agência do Trabalho não funcione e uma galera de desempregados fique perambulando pelas ruas, com o corpo à disposição dos caprichos de Satanás. Vão é ao circo, distrair as vísceras, esquecer a morte. Ficam bêbados debaixo do saracoteado de qualquer Garota Safada, sem o direito de sentir-lhe os sabonetes. Por isso o doido da Noruega, que fuzilou mais de oitenta pessoas, disse que o Brasil era uma país desfuncional.
Desarticulado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Monday, August 22, 2011

Estudando Português

Cuidado aí, pessoal, a partir de 2012 não tem boquinha, o Acordo Ortográfico estará valendo de verdade. Eu sei que é difícil tirar do pensamento a "idéia" de que "ideia" não tem mais acento. E é bom usar a inteligência, engatilhar a comparação, porque "geleia", "assembleia", "plateia" também não têm - copiou?

Mas, observe o que acontece com esta nova regra. Não se usa o hífen em compostos que apresentam elementos de ligação. Por exemplo: dia a dia, pé de moleque, fim de semana, camisa de força, etc. No entanto, eis as exceções, que devem ser anotadas. Passe o cursor, transfira, imprima e leve na carteira: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa. A explicação? Pergunte aos invencionistas.

Ortográfico abraço!

Sosígenes Bittencourt

Wednesday, August 17, 2011

Assombrosas deduções

Talvez, para quem nasceu ontem, o assassinato da juíza Patrícia Lourival Acioli, de 47 anos, abatida a tiros em frente a sua residência, em Niterói, seja absolutamente normal. Chamar-se-ia de dessubjetivação da barbárie. Já, para os do meu tempo, seja tão assombroso quanto uma película de terror.
Sou do tempo em que não se matava juiz. Sou do tempo em que juiz não tinha automóvel e podia desfilar tranquilamente pela calçada. Quando apontava numa esquina, todos iam para a orla do meio-fio, para ceder-lhe a passarela. Um juiz era do tamanho de um padre. Tinha gente que lhe pedia a bênção. Naqueles idos, a norma era introjetada pelo temor. Quem urinasse fora do caco, ia pro castigo. Criança aprendia a respeitar com medo da punição. Mas, sobretudo, havia autoridade. Ou seja, a norma ditada era embasada no exemplo. Aquilo que se proibia não se praticava. Dizia-se para um adolescente: - Você não sai de casa esse final de semana, porque você me desobedeceu. O condenado botava o pijama e se reconciliava com o juiz do lar. Porque a casa não era só a de alvenaria, era também uma pré-escola, um treinamento para a vida em sociedade.
Hoje, uma juíza é ameaçada por condenados e fuzilada na porta de casa, porque fora sentenciada por um fora da lei. A assombrosa reflexão que fica é a da falta de autoridade. Falta de autoridade que pressupõe falta de exemplo e promove o desrespeito. Não falamos em relação à juíza morta, que queria aplicar a lei, referimo-nos à autoridade pública. A magistratura está sendo desrespeitada. E se ninguém respeita um juiz, o que farão conosco? Por isso, uma professora leva cadeirada na escola, uma filha junta-se ao namorado para roubar os próprios pais, um ancião estupra uma criança, e tudo mais.
Enfim, não seria assombroso chegar à conclusão de que ser juiz é uma imprudência? A juíza não lançou mão da escolta a que tinha direito e foi sacrificada. E nós, que fechamos nossas portas com ferrolho? O que acontecerá conosco se alguém de maus bofes quiser nos matar? Seria preciso que Deus estivesse na guarita. Quer dizer, se Deus não velar pela cidade, de nada adiantará a vigília da sentinela.
Escatológico abraço!
Sosígenes Bittencourt

Sunday, August 14, 2011

FRAGMENTOS

Seria ideal que todo pai merecesse um presente do seu filho.
Sosígenes Bittencourt

Friday, August 12, 2011

Fala, Vitória


e-mail ao poeta Egídio Timóteo Correia

Egídio se manifesta indignado com o desprezo das autoridades competentes, dos poderes públicos e do povo em geral, para com nossos artistas.

Realmente, Egídio, Vitória sempre torceu o nariz para os seus talentos. Isso faz muito mal às gerações, a falta de incentivo à criatividade. É a filosofia do TER sobrepujando o SER. O filósofo Imanuel Kant dizia que o mundo é feito de coisas e pessoas. As coisas têm preço e as pessoas têm dignidade. Porém, o mundo procedeu à coisificação das pessoas. E é bom salientar que quem coisifica também é coisificado. Quando você paga a uma prostituta para levá-la à alcova, ela só vale pelo corpo que lhe oferece, e você só vale pelo dinheiro que lhe dá.
Certa vez, um aluno me perguntou:
- Professor, por que a gente paga a uma rapariga?
Ao que respondi:
- Para se livrar dela, meu filho.
Dessa negociação não sobra nada. Chama-se coisificação. Em Vitória, nós sentimos uma sensação desmerecedora de que estamos sendo tratados como coisas.
Mercenário abraço!

Sosígenes Bittencourt

Não ria se puder

Disse que, numa Tamarineira da vida, o doido passou um tempão com o ouvido colado na parede. Era uma seboseira desgraçada. Não queria dormir, não comia direito, fazia as necessidades fisiológicas ali, uma tristeza. Como os outros doidos não ligavam, porque também não tinham juízo, a enfermeira resolveu chamar o psiquiatra. O psiquiatra veio, afastou o doido, colocou o ouvido na parede: - O que é que você faz tanto aqui? Eu não estou ouvindo nada.

Aí, o doido explicou: - Faz 3 dias que tá assim.

Desvairado abraço!

Sosígenes Bittencourt

Thursday, August 11, 2011

Alemanha 3, Brasil 2

Quem viu Corínthians e Santos, à noite, não diz que aquela seleção que perdeu da Alemanha por 3 a 2 era a Seleção Brasileira. Cadê a pegadinha? A macacada, no clássico paulista, colou um no outro feito visgo de jaca. Parecia que carregava um motorzinho na barriga. Já nossa canarinha, coitada, ficou vendo a Alemanha trocar fichinha, ao ponto de levar grito de olé da torcida do nosso velho "galo apanhado". E não era para menos. Nosso escrete, capitaneado por Mano Menezes, nem marca nem se desmarca. Já que não tem seleção definida, não tem tempo pra treinar, pelo menos corre atrás, bota velocidade, dá o mínimo de trabalho ao adversário. Afinal, não é uma guerra, mas é uma competição, uma contenda onde está em jogo a história do nosso futebol, a paixão do nosso povo, o orgulho de nossa pátria. A inércia, a falta de patriotismo deu muita asa aos "arianos" que se julgam superiores e nos consideram um bando de nanicos. É mimar a alma de Hitler, ajoelhar-se ao nazismo.

Envergonhado abraço!

Sosígenes Bittencourt

Tuesday, August 09, 2011

Quadro de Frases



Espera do teu filho

o que fizeste a teu pai.

Tales de Mileto

O que é mais difícil?

Quando pergunto aos alunos: O que é mais difícil, fazer sexo, ou distinguir Sujeito e Predicado numa oração? Ele logo responde: - Distinguir o Sujeito e o Predicado.
Ledo engano. Uma regra gramatical é uma regra e acabou-se. Fazer sexo com outra pessoa requer muito mais inteligência e imaginação. Implica em refletir sobre o pecado, nas consequências do ato, em noções de higiene, prevenção contra DST, gravidez, amor e paixão, empreender sedução, etc etc etc.
A grande questão é que "sexo" dá prazer, e "estudar", não. Ora, qual a grande função dos pais e mestres, depois da Internet? Mediar esse universo de estímulos ao qual os jovens estão submetidos. Nunca, ser pai foi tão exigido; nunca, ser professor foi tão importante. Eu tenho tentado provar aos alunos que alguém pode ser feliz, sentir prazer nos estudos. Conhecer dá felicidade, estudar dá prazer. O prazer, que é o que se busca, está maquiado pela mídia, a serviço do Capitalismo de Consumo, como associado ao delírio, à ebriedade, embora queira-se combater o uso de drogas. Daí, o vazio e a sensação de inutilidade dos jovens, a perda da esperança. Esse é o quadro. E aproveito para relembrar a célebre reflexão de Einstein: "A alegria de ver e entender é o mais perfeito dom da natureza."
Sosígenes Bittencourt

Monday, August 08, 2011

Aniversariante pé quente

Antes do jogo, não, mas, depois dos 4 a 0 aplicados pelo Botafogo no Vasco da Gama, Zagallo parecia um deus enviado pelo Olimpo para decretar a gloriosa vitória do alvinegro carioca.
Dizendo que sexo aos 80 anos é normal, foi quem mais participou de triunfos em Copas do Mundo na enciclopédia do futebol. Duas vezes campeão como jogador, em 1958 e 1962, uma como treinador, em 1970, ainda auxiliou a de 1994. E tem mais. Outro dia, estava na Disney, vendo bailado de golfinhos, dizendo que se sente com 8 anos de idade. É um driblador nato. Merecidamente, vai virar estátua no Engenhão. O privilégeio será poder contemplar o seu busto, ainda vivo. Quer dizer, apesar de gostar do Botafogo, não se sente uma "estrela solitária" aos 80 anos de idade. Quem se sentiria?
Glorioso abraço!
Sosígenes Bittencourt

Friday, August 05, 2011

Histórias pra contar

Amanheço o dia ouvindo histórias de minha mãe. Não faz nada, não faz nada, faz 56 anos. Hoje, me contou que sonhou com um cachorro mordendo sua mão. Ela estava numa calçada, numa determinada rua, no tempo em que era menina. Porém, a bolsa que carregava era uma bolsa que está ainda agora lá no seu quarto. Ora, isso é o tecido de sua história, de sua vida, do seu tempo. Pena que esteja envolvida no stress do dia a dia de um tempo de aceleração. Aceleração que não nos permite pensar naquilo que fazemos e preservar a imagem, a lembrança daquilo que fazemos para podermos mostrar a peça de nossa existência no futuro.

Lembro-me de uma história que ela conta do tempo em que era criança. Minha mãe morou numa rua onde passava enterro. Não passava enterro todo dia, porque não havia tanto mortal que desse para produzir um defunto a cada 24 horas. Mas, sentadinha na calçada, ou debruçada na janela, tirava o dedinho da boca e dizia, inocentemente, em tom de lamúria: - Passa o enterro de todo mundo, só não passa o de mãe. Essa lembrança deve ter o quê? Uns para lá de 70 anos.

A psicanalista Rita Maria Kehl diz, em uma palestra sobre "Aceleração e Depressão", que nós vivemos num mundo onde a resposta instantânea à multiplicidade de estímulos está nos tirando a possibilidade de enredar a teia de nossa existência, confeccioná-la. Estamos ficando sem passado e perdendo, por isso, uma perspectiva de futuro. Estamos sem consistência, o que nos afunda num vazio imenso, que gera desânimo, falta de alegria, desinteresse e depressão. Isso é de morte!

Desanimado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, August 02, 2011

O sono da razão - II

Este é um outro comentário que encontrei no Yahoo que merece ser postado sobre o quadro do pintor José de Goya: O sono da razão produz monstros.
Scarlet: "Porque se você estivesse no sono da paixão, que é o contrário da razão, teria uma imagem linda das pessoas. Mas quando você se insere no sono da razão, você vai ver as pessoas como elas realmente são, isto é, com defeitos e qualidades. Quando você observa as pessoas movido pela razão, e vê defeitos gravíssimos nelas, você começa a pensar que tal pessoa é um verdadeiro monstro por fazer certas coisas que você repugna. É isto o que significa este pensamento.


E, aqui, eu aproveito para postar alguns dados biográficos do autor.
Francisco José de Goya y Lucientes (17461828), foi um pintor e gravador espanhol. Conhecido como "Goya, o Turbulento" e considerado às vezes como "o Shakespeare do pincel", suas produções artísticas incluem uma ampla variedade representativa de retratos, paisagens, cenas mitológicas, tragédia, comédia, sátira, farsa, homens, deuses e demônios, feiticeiros, e um pouco do obsceno.
Monstruoso abraço!
Sosígenes Bittencourt

Monday, August 01, 2011

O sono da razão - I

Goya: "O sono da razão produz monstros"
Sejamos humildes. Eu não poderia deixar de registrar, no meu blog, essa interpretação de Sérgio Paulo Rouanet do quadro do pintor Francisco de Goya. Boa leitura!

“A coruja tirânica que quer impor sua vontade ao artista é a razão narcísica do hiper-racionalismo. Os morcegos são as larvas e os fantasmas do irracionalismo. Dois animais deficitários, truncados. O morcego tem uma audição aguda, mas é cego. A coruja enxerga de noite, mas não de dia. Falta um terceiro animal na zoologia de Goya, mais completo. Não, não falta. Ele está no canto direito, enorme, olhando fixamente o espectador. É um gato. O gato ouve tudo e tem uma visão diurna e noturna. Sabe dormir e sabe estar acordado. E sabe relacionar-se com o Outro, sem arrogância, ao contrário do seu primo selvagem, o tigre, e sem servilismo, ao contrário do seu inimigo doméstico, o cão. É a perfeita alegoria da razão dialógica, da razão que despertou do seu sonho, é atenta a todos os sons e todas as imagens, tanto do mundo de vigília como do mundo onírico, e conversa democraticamente com todas as figuras do Outro, sem insolência e sem humildade.”

Filosófico abraço!

Sosígenes Bittencourt