Saturday, August 27, 2011

Palavra na palestra

Convidado para uma palestra, em determinado momento me facultaram a palavra. A palestra era sobre Corrupção. O tema não é a minha paixão, mas palestra é sempre bom, é lucro certo. Uma de minhas leitoras acabou de fazer um comentário sobre a educação antigamente e hoje. E este deve ser o motivo de expor o que comentei na palestra e mais alguma coisa.

Quando eu saio colando frases célebres nas paredes para que o povo leia e reflita, eu estou no domínio de uma de minhas virtudes. Ensinar é, para mim, uma forma de conviver. Minha escola é o mundo. Ah! Sosígenes, mas isso não lhe dá nada, nem um centavo! Você não ganha nada com isso!- comentam meus vizinhos. Ora, dá licença. Eu sou um homem que tem defeitos, vícios. Eu não consigo driblar muitas vezes meus pecados, sou um pobre mortal, por que haveria de me livrar de minhas virtudes? Virtude é virtude, virtude não tem preço, não é coisa, virtude é dignidade. É prazer positivo, é o que me faz feliz.

As pessoas me aplaudem quando eu danço nas festas, eu sou o rei do bolero. As pessoas me acariciam quando eu bebo, pagam a conta, me carregam de cadeirinha de algodão. Oh! meus amigos ab imo pectore (do imo do peito), quão agradecida é minh'alma! Vocês acariciam meu narcisismo! Porém, meus encantadores encantados, eu não sou um bebarrão que estuda, eu sou um estudioso que bebe. Eu jamais troquei uma palestra por uma roda de bebedeira. Se todo dia houvesse palestra, penso que jamais iria ao baile. Nosso grande equívoco, o que nos torna uma nação desfuncional, como sentenciou o doido da Noruega, é que vivemos buscando alívio para a dor atrás do trio elétrico, afogando-se na bebida. Porque privilegiamos o futebol, somos loucos por bola e não damos bola para o magistério. Já imaginaram se fôssemos loucos por ciência, adorássemos laboratório, vivêssemos pesquisando? Não, nos livramos da aula para ir a um assustado. Substituímos o estudo por qualquer coisa que distraia. Por isso nossas escolas viraram playground, centro de distração. Como se estudar doesse, fosse uma crucificação. Eu tinha um aluno despranaviado que dava pontapé nas meninas, beliscava as crianças, estirava a língua e estalava banana. Um dia, ele saiu-se com essa: - Professor, o senhor estudou tanto que ficou doido. E eu, cá, pensando: e você estudou tão pouco que enlouqueceu também. Eu, pelo menos, sou louco da boa loucura.

Lúcido abraço!

Sosígenes Bittencourt

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