Sunday, April 08, 2007

Fala, Vitória











Morte de Geane

Conheci Geane num comício. Era uma época de campanha política. Mais nova, tinha 4 filhos menores, oriundos de Catende, onde convivera com o pai das crianças. Pouco conhecida, residia na Vila Mário Bezerra, com sua mãe. Desde que a coloquei para distribuir a microrrevista Fragmentos, começou a ficar muito íntima no centro da cidade. Simpática e prestativa, levei-a para os lugares que freqüentava, sempre recebendo elogios pela sua participação, muito embora não fosse um contrato de trabalho, mas uma parceria, não havendo vínculo empregatício nem remuneração estabelecida. Aos poucos, fui descobrindo-lhe alguns dotes, como cortar cabelo e dançar. Uma das reclamações que ouvia de sua mãe, dona Rode, era de que não gostava de estar em casa, quando tinha 4 menores para cuidar. Naturalmente, passara um bom tempo de sua adolescência enclausurada, sem tempo de se divertir, e agora havia surgido uma oportunidade. Em resumo, depois que passou a namorar um velho amigo meu, continuou querendo levar uma vida muito solta, embora enfrentando severas reclamações de seu companheiro. E de tantas andanças, tanta ânsia por diversão, perde a vida, abraçada com o seu irmão, num desastre de motocicleta, em cima da pista. Contam que ia para uma festa no Cabo de Santo Agostinho. Contam que, quando já estava sem vida, o seu celular tocava; era o seu companheiro, querendo saber onde ela estava. Sabe-se que colidiram com um caminhão.
Não tive outra alternativa. Ainda de madrugada, fui vê-la na casa funerária. Depois, velar-lhe o corpo em sua casa e pervagar a via do sepultamento. A caminhada foi longa, sob o mesmo sol que a aqueceu tantos dias, pelas ruas que atravessou tantas vezes. Ainda agora ouvimos o repicar das colheres de pedreiro e o murmúrio de dor de sua mãe. Adeus, Geane.
Sosígenes Bittencourt

1 comment:

Anonymous said...

Se Lavoura fosse um internauta, chocaria-se ao ler matéria tão chocante.