Sunday, January 17, 2010

O Haiti é ali

O Haiti é ali. Obviamente, não pela proximidade geográfica, mas cibernética. A internet só nos falta fazer sentir o mau cheiro dos mortos, dos soterrados sob as ruínas do tremor geológico. Não o idioma, mas entendemos os seus gemidos.
Diz que Cristóvão Colombo, corajoso e enxerido, boiando sobre mares nunca d’antes navegados, chegou ali em 1492.
Com 9 milhões de moradores, sua Capital é Porto Príncipe, com 2 milhões.
Os índios arauaques e caraíbas fuxicam que os primeiros inquilinos chegaram há mais de 7 mil anos no lugar.
Mas, há algo pior do que o terremoto de 7,0 graus na escala Richter: os dirigentes do Haiti.
Na foto, dois haitianos arengam por causa de alimentos.
Difícil saber quem ainda é descendente de nativo haitiano no Haiti, de tanta escravidão e assassinato, que extinguiram tantos ali. Lugar onde todo mundo manda, embolando de mão em mão, entre espanhóis, franceses, americanos, parece casa de mãe joana, antro de corrupio. Basta saber que, de 20 governantes que se sucederam no poder, entre os séculos XIX e XX, 16 foram defenestrados e assassinados. Outro dia, um missionário contou na televisão que autoridades e civis vendem doações, o que dificulta até praticar o bem ali.
É no Haiti, onde se pratica o Vodu, acusada de espetar boneco para provocar dor e morte em suas vítimas.
A figura mais falada no Haiti é o médico François Duvalier, eleito presidente, em 1957, que implantou Ditadura e danou-se a perseguir a Igreja Católica. Sua guarda pessoal era formada pelos tontons macoutes (bichos-papões), que fazia maldade com o povo. Conhecido como Papa Doc, Duvalier bateu a biela em 1971.
Quando os brasileiros foram jogar ali, um dia desses, ninguém ficou em casa. Os crioulos saíram correndo pelo meio da rua, parecendo que iam encontrar os deuses do Olimpo. Agora, por cima de tanta desgraça humana, vem um terremoto e sepulta mais de cem mil moradores, como se a natureza chamasse o Haiti à atenção.
E ninguém pode nem mangar, pois aqui e ali, por causa de corrupção e falta de educação, também tem Haiti. No Brasil, há um Haiti. Fedendo. Gente amontoada, mijando e fazendo cocô sem tratamento de esgoto. Gambiarras, lata d’água na cabeça, desabamentos, enchentes, soterrados e naufragos arrastados pelo roldão das águas.
Só Deus!
Sosígenes Bittencourt

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