Saturday, October 08, 2011

Morte de Benge

Fazia tempo que eu não via os meus velhos pais chorando. Eu não queria contar essa história. O ser humano é um móbile frágil. É insustentável, a leveza do ser. Mas, já estávamos desconfiados de que Benge não resistiria. Era uma infecção. Estava descolorido, não andava, nos olhava com um olhar de despedida. De ontem para hoje, já não veio para a sala, não fez companhia ao meu pai. Os recantos da casa parecem circunspectos, há um silêncio diferente, as flores do jardim não se movem, ora parecem acenar um adeus, lentamente... Tanto que eu disse a minha mãe: - Mãe, não pegue bicho pra criar, animal é feito gente. A senhora vai sofrer.
Será um domingo triste. A sisudez da morte nos circunda. A cada momento, lembramos alguma coisa de Benge, suas travessuras, seus carinhos, seus gestos quando minha mãe viajava, a noite todinha ao lado do meu pai. Banhamos de lágrimas os seus pertences, apanhando pela casa. Adeus, meu camarada. Você nos ensinou a amar os animais, com o seu carinho. Você é gente, bicho. Nunca nos fez mal, sua timidez nos encantava, desculpa as vezes que fomos arrogantes e incompreensivos contigo. Deus te dê o paraíso.
Lutuoso abraço!
Sosígenes Bittencourt

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