Sunday, November 27, 2011

A invenção de cotas raciais

Essa questão de cotas raciais é uma postura mais de natureza política do que outra coisa. Porque a grande causa do fracasso de negros em concursos públicos e nos vestibulares é a educação de má qualidade. Por quê. Sobretudo porque são pobres. Ora, se você cria cotas para os negros pobres, onde ficariam os brancos pobres? A questão me parece não ser relativa à cor, mas relativa à acessibilidade ao ensino de qualidade. E essa é uma responsabilidade do Estado. A artimanha política é criar sistema de cotas para negros para angariar simpatia da população negra, que é a maioria. Se você for indagar os próprios negros, eles acharão que esse sistema de cotas é uma forma de discriminação. Por exemplo, aquele negro que opta pelo sistema de cotas já denuncia sua incapacidade de disputar num outro tipo de sistema. Ademais, você para instituir um sistema de cotas terá que, obviamente, saber se aquele negro deve ter acesso a um ensino de qualidade, ou não. A pergunta é a seguinte: por que não se cria sistema de cotas para brancos? Há brancos pobres que não têm acesso a ensino competente. Portanto, o grande empecilho não deve ser encarado como a cor, mas como a deficiência no ensino público, que não oferece iguais condições de competitividade entre as classes sociais. O estado não investe, nesta área, como deveria. Por isso, os melhores professores vão para as escolas particulares e fogem das escolas públicas. O discurso é de que educação é prioridade, mas nunca foi, é falácia. É "tertulia flacida ad bovinum adormentarem", ou seja, conversa mole pra boi dormir.
Também seria bom frisar que igualdade, nos termos políticos em que se coloca, para galvanizar popularidade, é engodo, um mito, fundado pela Revolução Francesa. Ela nunca existirá. As pessoas, por si mesmas, estabelecem desigualdades. Porque, paralelamente, depende do empenho de cada um, de talento, de competência. Mesma condição não significa mesmo resultado.
Indiscriminado abraço!
Sosígenes Bittencourt

4 comments:

Anonymous said...

Exatamente! Brilhante explicação. Sistema de cota prova a incapacidade brasileira em relação a educação. Seria melhor lutar para acabar com as divisões que aí estão, onde que tem acesso a uma educação eficiente entra numa universidade com mais tranquilidade , e que não tem, humilha-se nesses sistemas para conseguir seu lugar ao sol. Creio que enquanto houver sistema de cota, a educação de qualidade será sempre privilégio para uns e utopia para outros. Se existisse uma educação de qualidade para todos, será que seria preciso de sistema de cota?

Sosígenes Bittencourt said...

Sistema de cota é tapa buraco, um remendo político para dizer que o governo é bonzinho. O que se faz necessário, em matéria de educação, é igualdade de acesso a ensino de qualidade. E essa matéria é da competência do estado.

Anonymous said...

Meu caro Sosígenes concordo com suas posições no que tange ao atraso histórico na atenção das autoridades brasileiras ao acesso (soluções já em andamento) à escola e ao padrão de qualidade dos estabelecimentos de ensino. Porém, como negro, não abro mão das cotas como medida imediata para o acesso da população negra aos locais onde sempre esteve à margem; aí, sim, após o padrão de ensino basico estar "aprovado" no quesito qualidade, elas não terão motivo de existir. Lembre que foi o negro africano (e não os brancos europeus)que trabalharam sem salário, foram açoitados, comiam os restos, tiveram suas famílias separadas/dizimadas e o Estado brasileiro nunca antes reconheceu sua dívida em permitir tal barbárie.

José Rubens Medeiros said...

Penso similarmente ao professor. A melhor forma de combater (eliminar é impossível) a discriminação multifacetada neste país é conferir efetividade a leis, não sem antes transformar as leis inúteis em leis racionais, de modo que de fato TODOS sejam iguais sob o olhar vigilante (no Brasil, um tanto sonolento) das leis. A despropósito, professor, permita-me perguntar: A expressão "tertulia flacida..." frequentemente vê-se grafada como "tertulia placida...". Os bovinos dormiriam tanto com conversa "flácida" quanto com "conversa "plácida". Chiste à parte, a forma correta é "tertulia flacida" unicamente ou também aceitável a variante "tertulia placida"?