DA RESSACA
A ressaca parece ser um dos sinônimos clínicos
do Carnaval. Isso porque a maioria dos foliões só se sente à vontade para
liberar os seus fantasmas interiores, embebendo a caveira em cachaça. É o que
se poderia chamar de auto-indulgência ou catarse suicida. Dizem que deglutir
ovo cru, tomar chá açucarado ou encher a barriga de água são recursos eficazes
no tratamento da ressaca. Mas, tudo não passa de mero paliativo. O fígado que o
diga, mais sobrecarregado do que Hércules perante os colossais enfrentamentos.
Logo ao receber o álcool, o fígado o transforma em acetaldeído, uma
substância venenosa, acusada de engendrar a macabra indisposição alcoólica. Se
a bebida for escura, tipo vinho tinto ou conhaque, o cão chama-se metanol. A
sensação, às vezes, é de ter engolido um paralelepípedo, o que a ciência médica
chama de peso epigástrico.
O ovo cru é considerado um eficiente gari na remoção do lixo tóxico
porque contém cisteína, um aminoácido sanitário que contém glutationa. Se a
glutationa se esgota, os radicais de oxigênio livres desencadeiam a
deterioração dos tecidos.
A água favorece o reabastecimento hídrico do organismo, pois o álcool
suga os fluidos corporais, fazendo o rim saarizado beber a água da urina, e o
cérebro ficar seco.
O chá açucarado repõe o estoque de açúcar que o álcool roubou do armazém
hepático. A Medicina chama esta ocorrência de hipoglicemia, uma penúria que
afraca a vítima, deixando-a tonta e bamba. Enfim, o ideal seria não beber e
fazer exercício físico no remelexo do ritmo. Sobretudo, evitar a embriaguez,
que faz o corpo periclitar na avenida.
Sosígenes Bittencourt
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