Saturday, December 31, 2011

A esperança

No batente da garagem, há dias, há uma esperança. Apesar de imóvel, a esperança vive, a esperança não morre.
Eu fui dormir, pensando na esperança. Eu acordei, procurando a esperança.
Eu pensava que a esperança havia ido embora. Porém, a esperança permanecia ali, verde como a esperança.
Vieram algumas pessoas, falavam alto, nem se ligaram na esperança. Não sabem o que perderam em não usufruir da esperança.
A esperança é uma poesia, pousada, há dias, num batente aqui de casa. Ninguém se agonia, ninguém tem medo da esperança.
A esperança, se um dia vier a ir embora, estará aqui sua lembrança.
Sosígenes Bittencourt

Thursday, December 29, 2011

Pensando na vida

Sou do tempo em que havia tempo de acompanhar a réstia do sol e contar estrelas. Sou do tempo em que o coral dos grilos orquestrava a sonoplastia das estrelas. Minha avó Celina botava perfume e penteava os cabelos para ouvir o jogo do Sport Club do Recife pelo rádio.
Eu queria passar o final do ano em Boa Viagem. Diz que tem muita lâmpada colorida, fogos de artifício, Jingle Bells, tanta mulher bonitinha e cheirosa que o coração fica pinotando de alegria. O mar roncando surdo e o vento assanhando o cabelo. Ficar de cara pra cima, vendo os arranha-céus. Ali mora uma família. Mas, tenho medo de assaltante. Talvez, eles queiram nos matar.
Eu estava conversando lorota. Um vendedor de picolé me apareceu.
- Chupe um picolé para me ajudar, professor.
- Eu posso até lhe ajudar, não sou obrigado a chupar coisa alguma.
A outra, foi assim:
- Professor, eu quero um dinheiro para ir pra Caruaru.
- Se eu pudesse, eu iria pra Caruaru com você. Contudo, o que é que você vai fazer em Caruaru?
Todo final de ano, a gente bota pra pensar nos mortos. Às vezes, naqueles que vão nascer. Até os que nem estão no ventre. Em verdade, ficamos pensando no vir-a-ser. Quem danado sabe o que vai acontecer? Um dia, fomos espermatozóide e óvulo. Um dia, estaremos num jazigo.
A morte é uma instituição democrática, fundada pelo tempo. Ninguém tem o direito de reclamar. Todos têm o direito de receber. Nunca mais eu fui ao cemitério. Ali, ensurdecem os que viveram, amaram e odiaram como nós, que seremos ossos, sem servir de conselho. Ontem, eu vi passar um enterro. As pessoas nunca tomam a morte como exemplo. Vivem pensando na vida.

Nesses dias, chega o Carnaval. O tempo é breve. No meu tempo, a gente pintava a cara e abria a porta para ver o caboclinho. Brincava de bisnaga. Relembrar é alongar a vida. Relembrar é abrir o livro de nossa história.
Eu nem sei a quem desejar um Próspero Ano Novo. Porém, mesmo assim, não custa nada desejar que você seja feliz, mesmo que não goste desta crônica.
Conversado abraço.
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, December 27, 2011

Para refletir



Caso nossa maior necessidade fosse informação,
Deus nos teria enviado um educador.
Se nossa maior necessidade fosse tecnologia,
Deus teria nos enviado um cientista.
Se nossa necessidade fosse dinheiro,
Deus teria nos enviado um economista.
Mas, uma vez que nossa maior necessidade era o perdão,
Deus nos enviou o Salvador.
Max Lucado

Foto

Rosto de japonesa

Esta é uma foto postada num site erótico japonês. Longe de ser uma imagem pornográfica, sugere o mais inebriante erotismo. De tão sugestiva, serviria até para enfeitar uma mensagem natalina, pela expressão angelical da menina. Nela, cabem todos os pensamentos. O erotismo difere da pornografia porque permite pensar. A pornografia é a degradação do nu, o erotismo é a sugestão do prazer. Um verdadeiro espetáculo!

Erótico abraço!

Sosígenes Bittencourt

Monday, December 26, 2011

Quadro de Frases

Vivemos num mundo onde precisamos nos esconder para fazer amor,

enquanto a violência é praticada em plena luz do dia.

John Lennon

Sunday, December 25, 2011

Acreditar

Acreditar em Deus e na Imortalidade da Alma não faz mal a ninguém, é lucro certo. não é acreditar em algo que você não vê, é acreditar em algo que você sabe. Eu não vejo o outro lado do mundo, mas sei que ele existe. É noite, mas creio na aurora. Sejamos otimistas, cultivemos bons pensamentos, boas ideias, para que os nossos sentimentos sejam bons. Amar o belo enche de beleza nosso coração. Sejamos sábios, buscando compreender o que somos para melhor percepção do que temos. Reciclemos o ódio e a inveja, posto que ódio e inveja são lixos mentais, sejamos garis de nossas emoções. Estudemos nossos desejos antes de buscar a concretização de nossos sonhos. Vamos juntos, a reciprocidade facilita a busca, funda a compreensão, educa para o amor. Pensemos no que pensamos, pois o sentido da vida está no que pensamos da vida.
Filosófico abraço!
Sosígenes Bittencourt

Thursday, December 22, 2011

Quadro de Frases

Ora, a é o firme fundamento das coisas que se esperam,

e a prova das coisas que se não vêem.

Hebreus 11:1

Wednesday, December 21, 2011

Hipocrisias natalinas

O patrão triplicou sua riqueza, e os empregados triplicaram suas dívidas. Apesar dos pesares, todos têm de mostrar os dentes no banquete de confraternização. Para isso, é preciso moderar na bebida, ficar vigilante quanto aos rancores. Uma palavra errada, você pode abraçar o sol desempregado. Não cometa aventuras gástricas, exagerando nos comes e bebes, ninguém o perdoará se você adoecer e faltar ao expediente. Cuidado com intimidade excessiva, enxerimento é fatal na danificação de sua imagem. Se soltarem fogos de artifício, não reclame da zoada nem da fumaça, lembre-se de que o foguetório é para a empresa, não para você. Se o presente que você comprou, cair nas mãos do inimigo secreto, não reclame do destino, isso é feio. Se pedirem para você dar uma palavrinha, não se demore nem fale “difícil”, porque empregado não sabe de nada, quem sabe de tudo é quem venceu na vida, você é um fracassado. Afinal, quem tem tudo na vida é O Cara, quem não tem nada é O Descarado.
E Feliz Natal!

Sosígenes Bittencourt

Tuesday, December 20, 2011

Cuidado com Janeiro

Obviamente que eu não diria “cuidado com o Natal”, porque o nascimento de Jesus não tem nada a ver com isso. Porém, diria que é preciso segurar a emoção com o lado consumista da festividade, para em janeiro não estar com a mão na cabeça, por causa da farra financeira. Segundo alguns discursos evangélicos ou pastorais, Jesus é razão.

Não há riqueza maior no ser humano, força mais criativa do que a emoção, mas é preciso administrar seus excessos com a intermediação da razão. Napoleon Hill já o disse: “O entusiasmo é a maior força da alma.” Contudo, ‘entusiasmo’ deriva de “em + Teos”, ou seja, com Deus na alma, em estado de graça. Não adianta você cobrir-se do supérfluo, para depois carecer do essencial.

Cuidado com Janeiro” significa “cuidado com as dívidas”. Outro dia, vi um economista dizendo que ninguém trabalha para pagar contas, trabalha para se manter. Quem recebe para pagar, não recebe, transfere. Ademais, é preciso confeccionar um colchão de segurança, para nas vacas magras ter como se socorrer. Não vá com tanta sede ao panetone, lembre-se do pão nosso de cada dia.

Prudente abraço!

Sosígenes Bittencourt

Monday, December 19, 2011

Pé de Pitanga

Debruçado sobre o muro aqui de casa, um pé de pitanga vigia a rua. Mulheres que vêm de bairros distantes passam, de braços dados, a admirá-lo.

- Êi, Maria, vê quanta pitanga!

As pitangas, suspensas no ar, parecem se balançar de vaidade, olhando para lá e para cá.

- Menina, e tem de toda cor!

Alguns pinguços também já as admiraram, lambendo os beiços, ébrios de desejo.

- Isso dá um tira-gosto arretado!

Sinto-me contente com tamanha dádiva. A eugenia uniflora, que dá em quintais, empertigada no canto do muro do meu terraço. Sei que a drupa globosa é comum na Mata Atlântica brasileira e na Ilha da Madeira em Portugal. Ao sol vesperal, parecem mimos caídos do céu, esses novelos de cálcio coloridos d'aquém e d'além mar.

Bem sei que alguns a futucam com um pau, no intuito de fazer um ponche, chupar minhas pitangas. Nem por isso vou "chorar as pitangas", me aperrear, ficar me lamuriando. Aliás, lembra-me a célebre reflexão do revolucionário francês Babeuf: Os frutos da terra pertencem a todos, e a terra, a ninguém.
Sou um homem feliz, porque, em meio à struggle for life (luta pela vida), tenho tempo de parar para observar minhas pitangas e produzir esta crônica.

Mimoso abraço!
Sosígenes Bittencourt

Sunday, December 18, 2011

A Praça da Matriz

Quem nunca elogia, fica sem credibilidade para criticar. A reforma na praça ficou, sobretudo, educativa. É uma obra que merece respeito. Afinal, foi feita para o povo, com o dinheiro do povo. Não foi feita para o prefeito nem com o seu dinheiro. Agora, cabe-lhe fazer a manutenção, e a população preservar.

Dentre outras providências, também concordo com a proibição de galeteria no local, para não emporcalhar o ambiente; limitar o número de mesas, para não juntar corriola de alcoólatras; não consentir que o Carnaval circule a praça, porque vão pisar nos jardins, atirar cotoco de cigarro para o ar, subir nos bancos, regar as plantas com mijo.

A praça está com cara de Primeiro Mundo, mas a população, de um modo geral, ainda é africanalhada. Não adianta tergiversar. Basta observar o que fizeram com a Praça da Restauração, onde a rafameia pita marijuana, toma o alheio e faz nenen a céu aberto.

Sincero abraço!

Sosígenes Bittencourt

Thursday, December 15, 2011

Quadro de Frases

Pobre gosta é de luxo, quem gosta de miséria é intelectual.

Joãosinho Trinta

Wednesday, December 14, 2011

Bebedeira em praça pública

Acho que nem os alcoólatras concordariam com a venda de bebidas alcoólicas em praça pública. A safadeza de se conceder boteco em praça foi que afugentou os idosos e as crianças desses espaços públicos sagrados. Promoveu poluição visual e sonora, o que me levou a construir uma frase em cima da célebre reflexão poética de Castro Alves. O poeta baiano disse: A praça é do povo, como o céu é do condor. Eu diria: A gandaia tomou a praça do povo, e a poluição, o céu do condor.
Na minha humilde concepção, privatizar espaço público é conceder apropriação indébita. Parece estelionato, obtenção ilícita de vantagem, em prejuízo alheio. São dois envolvidos, o politiqueiro e o paparicado.
Sabido é Júlio Lossio, o prefeito de Petrolina. Quando o Procurador Geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, foi receber a medalha Senador Nilo Coelho, ele atravessou na frente e implorou a proibição de venda de bebidas alcoólicas nas praças públicas do município. Ora... nem os alcoólatras inveterados têm argumento para reprovar a medida. Tem bebarrão que adora sua família. Ele morre no fundo de um barraco, mas deseja que os seus parentes sejam felizes. Muitos morrem de tristeza, sufocados pelas garras do vício.
Governante sério não tem compromisso com alcoólatra, a não ser com o seu tratamento. Afinal, praça é espaço público, e espaço público é para todos. Se os bêbados invadem, os lúcidos perdem a oportunidade de usufruí-lo. Nenhum lúcido quer correr o risco de se sentar ao lado de um papudinho, acompanhado de sua mãe, esposa ou filhos.
Portanto, equivocado estará o político que pensar que sua popularidade depende de mimar vendedor de birita, corriola de cachaceiros, de promover cachorrada na via pública. Isto é imaturidade.
Confuso abraço!
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, December 13, 2011

FRAGMENTOS

O apaixonado imagina o objeto da paixão

e abraça-se com a imaginação.

Sosígenes Bittencourt

Sunday, December 11, 2011

O abismo da paixão

É difícil acreditar que Jadielson e Silvânia se atiraram no abismo, de mãos dadas, numa versão shakespeareana de Romeu e Julieta. É mais provável que Jadielson tenha arrastado Silvânia para morrer consigo, o que caracterizaria homicídio e suicídio no mesmo salto. Parece um caso típico de paixão. Dois apaixonados que não conseguiam se desvencilhar dos grilhões da loucura e seguirem em paz. O filósofo alemão Nietzsche dizia que “Há sempre um pouco de loucura no amor, mas há sempre um pouco de razão na loucura.” No fundo, eles, talvez, tivessem razão. Não dava mais para viver. O detalhe é que Silvânia preferia viver sofrendo a perder a vida, e Jadielson não aguentava mais tanta agonia. Era paixão em mão dupla.
O que fora fazer Silvânia, já separada, na Serra das Russas, justamente com Jadielson, sabedora do desespero do ex-marido? É que o apaixonado é sempre um assujeitado, um submetido, ele não tem forças para a paixão. Estavam escravizados por um sentimento sem norte, sem direção, sem noção de causa e efeito. Juntos, se desentendiam; separados, sentiam saudade. Um era a droga do outro, bem descrito nos versos:
Meu vício é você! / Meu cigarro é você! / Eu te bebo, eu te fumo / Meu erro maior / Eu aceito, eu assumo / Por mais que eu não queira / Eu só quero você...
Um desejo, não pelo prazer, mas pelo objeto. Porque prazer que dói se resume em sofrimento. Jadielson e Silvânia morreram na Serra, dando sequência ao abismo em que se atiraram. Andavam abismados.

Desesperado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Thursday, December 08, 2011

Malvadezas natalinas

Cuidado com as malvadezas do período natalino. Não vá ficar de cara pra cima, pensando que a humanidade se transformará numa procissão de entes de luz. Fique ligado. O menino Jesus está na lapinha, mas a rua, cheia de Judas Iscariotes.
Foi o que aconteceu a uma estudante universitária, lá no semáforo em frente à Casa dos Pobres, no centro de Vitória de Santo Antão. Um monstro encostou na janela do carro, pediu que lhe passasse a chave do veículo e se mantivesse sentada. O demônio queria que a vítima dirigisse para ele. Foi quando, desesperada, ela abriu a porta e saiu correndo na direção do Colégio Antônio Dias Cardoso, enquanto ele dava partida, margeando o prédio do Fórum.
Aqui, no bairro do Cajá, três meninos passam o dia roubando, e a população só mancuricando. Todos comentam, conhecem os pivetes pelo nome, data de nascimento e árvore genealógica, mas ninguém se mete. Diz que tem um maiorzinho, um médio e um pixototinho. Quando se pergunta: - Você conhece os meninos que roubam aqui no bairro?
Logo se responde: - Claro. Eles moram ali e são filhos de seu fulano e dona fulana.
Nesses dias, aparece uma vítima de natureza árabe ou chinesa e larga um ‘mói’ de bala no cangaço de um deles. Não é brincadeira. Aconteceu com um galeguinho que cheirava cola de sapateiro e vivia roubando aqui no bairro. Ele mesmo comentava: - Eu penso que vão me matar.
Não era pensamento, era certeza. Contam que pegaram ele, dormindo num sofá velho, lá nos cafundós, e meteram ficha.
Portanto, cuidado aí, macacada. Não vá pensar que o clima é de paz e amor, e esquecer a guerra e o ódio que fazem parte da natureza humana. Quem penetra no recinto de sua residência, ou põe uma arma de fogo na sua cabeça, não está amando nem lhe dando boas-vindas, está em guerra com o mundo e odiando os seus semelhantes.
Vigilante abraço!
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, December 06, 2011

Palmadas na berlinda

As palmadas estão na berlinda. Antigamente, menino apanhava, mas não morria no pau. Nunca vi pai matando filho, nem estuprando, engravidando filha, como hoje. A radicalização da medida que proíbe palmada em criança deve advir da violência perpetrada contra menor, sobejamente divulgada no dia a dia da mídia nacional. Nos idos, menino levava palmada, adolescente tomava lapada de cinturão, mas não me lembro de nenhum infanticídio. Aliás, crimes, perpetrados há 40 anos na cidade, contam-se nos dedos. Talvez, porque a população fosse pequena e o jornalismo não desse a cobertura, em tempo real, como agora. Mas, baseando-se na rotina, o adulto de hoje não tem moral para bater em menino, não merece confiança. Qualquer um é suspeito. Tanto que virou esquizofrenia coletiva. Você não pode se acocorar para dar um caramelo a uma criança.

Na cidade de Pinheiros, no Maranhão, um preso foi decapitado pelos carrascos de estimação porque teve uma ninhada de filhos com a própria filha. Por outro lado, a mulherada arruma estuprador como padrasto e, depois de 5 anos, fica dizendo que não sabia. Essa medida deve ser um castigo para os adultos, para o seu péssimo comportamento. Há mais de meio século, na minha cidade, uma professora botou o filho do prefeito, na calçada da escola, com uma banca na cabeça, e o pai achou normal. Ainda deu-lhe um corretivo em casa. O resultado poderia ter sido desastroso, mas o menino deu pra gente. Hoje, uma professora dá uma nota baixa a um aluno e tem a cara arranhada e os braços fraturados. Significa dizer que os adultos perderam a força moral nos exemplos do cotidiano. São políticos sacanas, televisão pornográfica, consumismo desenfreado, supervalorização do TER sobre o SER, impunidade, tudo exibido exaustivamente aos olhos pidões da meninada. Depois, exige-se respeito. O adolescente de hoje é resultado do adulto de hoje, do mundo de hoje. A televisão, por exemplo, sexualiza a adolescência e escandaliza com a consequência. Quer dizer, lucra dos dois lados. São beijos de desentupir pia, virilhas se encontrando. Ninguém aguenta.


Em resumo, não existe palmada educativa. Nenhum ser humano será anjo, ou demônio, porque tomou, ou deixou de tomar palmadas. Entre um pai e um filho, há um abismo imenso, como entre um marido e uma esposa, um patrão e um empregado. Portanto, palmada pode, perfeitamente, ser considerada agressão física. Ora, se um homem não pode bater numa mulher pela disparidade física, por que um adulto poderia bater numa criança? Quando um homem bate numa mulher, sempre acha que tem razão. Quando um pai bate num filho, sempre acha que tem razão. Arvoram-se em juízes. Mas, será que as vítimas acham que merecem apanhar? Ou reagiriam, se pudessem? Não seria o caso de analisar as razões do ódio, já que o ódio jamais será extirpado do coração humano? Impõe-se uma indagação: por que será que os índios não batem em criança?
Polêmico abraço!
Sosígenes Bittencourt

Monday, December 05, 2011

Foto

Parece um desenho, mas não é. Trata-se de uma montagem fotográfica da arte surrealista e poética do holandês Ruud Van Empel, que irá expor suas belíssimas montagens na Bienal de São Paulo, em 2012, na comemoração ao Ano da Holanda no Brasil. Sua obra é de mexer com a respiração. Um verdadeiro ESPETÁCULO!

Inspirado abraço!

Sosígenes Bittencourt

Saturday, December 03, 2011

Eu tive uma namorada em Caruaru

Isso foi na década de 70. Eu era adolescente e achei de me engraçar de uma menina lá em Caruaru. Todo domingo, eu ia passear na pátria de Vitalino. Pulava da cama cedo, me enfatiotava todinho e ia pra BR, pegar ônibus. Os ônibus apostavam carreira. Tinha da São Geraldo - parece que da Jotude - e Caruaruense. Eu viajava com a cabeça na janela para ver a paisagem. A ventania ficava fazendo uma zoadinha no ouvido. Seguia pensando na vida, imaginando o futuro, no horário da esperança. Não sei por que, mas associo a aurora ao porvir. Já minha avó Celina dizia que a noite era a hora da saudade. Sei lá...
A princípio, eu ia assistir a filmes no Cine Santa Rosa e Irmãos Maciel. O Cine Santa Rosa ficava na pracinha, como quem ia para o Bairro do Salgado. Um dia, passou Dr. Jivago, com Omar Sharif e Julie Christie, um filme americano de 1965. O pessoal do meu tempo deve se lembrar. Eu comprava uma carteira de Continental, sentava na avenida e pedia uma cerveja Antártica Paulista. Pedia Brahma Chopp também. Parecia um hominho. Foi quando, passeando pela Feira de Caruaru, conheci uma vendedora de sandálias, alpercatas, um bocado de coisa de couro. Olhos pretos em moldura amendoada, pele morena afogueada, feito um cavalo alazão. Era todinha um chocolate. Nem parecia gente, parecia uma figura de livro, de romance, de literatura. Ou qualquer coisa que só aparece em sonho. Os cabelos batiam na cintura, e a boca tinha um eterno frescor de chiclete Ping-Pong. Eu ficava o dia todo peruando pra namorar com ela. Um dia, a gente namorou numa esquina lá na Caruá. E eu terminei dormindo na Princesa do Agreste, inalando aquele cheirinho de travesseiro de marcela que tem praquelas bandas. Chega dava sono. A morena era boazinha que era danada, toda silenciosa, andava devagar e ria baixinho. Os olhos é que eram tagarelas. Dava vontade de comer um pedaço, embora, naquele tempo, a gente namorasse de roupa, era proibido namorar nu. Eu ficava tão contente que botava pra contar história. Dava um pigarro e enfeitava a conversa. Meus colegas diziam que eu estava mentindo. Minha mãe também pensava que eu mentia. Um dia, descobriu que era poesia.
Adolescente abraço!
Sosígenes Bittencourt

Friday, December 02, 2011

FRAGMENTOS

Como bom jogador, Marcelinho Paraíba precisa aprender a driblar arapuca.

Sosígenes Bittencourt

Thursday, December 01, 2011

Justiça à margem da Lei

A Justiça é cega, mas os homens é que se negam a enxergar o Direito. Marcos Mariano da Silva, perante Themis, a deusa de olhos vendados, não tinha cor, credo nem classe social. Mas, os seus algozes o viam como ex-mecânico, homem sem posses, riqueza, desprovido de beleza. Marcos Mariano não tinha nada que chamasse a atenção dos causídicos, nada que os seduzisse, por isso foi vilipendiado. Porque não há desprezo maior do que você negar justiça a quem merece.
Marcos Mariano não passou 19 anos preso, como inocente, sem que a Justiça o soubesse. Porém, a Justiça só se faz pela ação do homem. E onde estava esse homem? Quem são esses pérfidos indiferentes? A Lei, enquanto teoria, é apenas uma flauta, alguém terá de soprá-la.
Embora cego, Marcos Mariano sabia a verdade, enxergava dentro, mas era um Tirésias esquecido. Como confiar naqueles que lhe negaram a liberdade? Como acreditar na Justiça nas mãos de quem a nega? Porque Marcos Mariano da Silva não foi tratado como marginal, a Justiça foi que agiu à margem da Lei. E de que adianta, agora, indenizá-lo, se ele está morto? Cegou dentro do presídio e morreu sem enxergar a liberdade. Morreu sem poder ver as noites e os dias. Como imaginar que o ex-mecânico Marcos Mariano foi torturado até a morte por aqueles que tinham o dever de lhe conceder o direito de viver?
Vilipendiado abraço!

Sosígenes Bittencourt

Tuesday, November 29, 2011

Um dia, eu fui bater em Mocotó

Um dia, eu fui bater em Mocotó. Mocotó fica na zona rural de Vitória de Santo Antão. Para chegar a Mocotó, vai por Natuba e tem a Ladeira do Comprido. Em Natuba, tem alface que só.
- Onde fica Mocotó? – pergunta-se ao matuto.
- Ali, logo ali. Vá indo, que o senhor chega lá. – estirando os beiços.
E tome a botar marcha, acelerar e debrear, suspirar, cantarolar, o vento assanhando o cabelo. Eu tinha cabelo naquela época. Mocotó já foi lugar de se contratar empregada doméstica. Isso foi no tempo em que empregada só prestava se fosse de sítio. Hoje, elas assistem a Malhação.
E lá ia, eu, pra Mocotó em meu Chevette bege, carregando duas camaradas assanhadas e uma garrafa de pinga. Sequer precisava, posto que, na barraca de Pedro Amaro, só era o que tinha. Até garrafa de Pitú com tampa forrada de cortiça, empoeirada na prateleira. Coisa rara. Diz que uma custa cem mil réis. Aí, botamos pra jogar sinuca e bebericar manguaça com linguiça. Sardinha também. Juntou foi gente.
- Dona fulana, vê quem tá na venda!
- Quem?
- Aquele professor lá da cidade.
Foi em Mocotó que eu vi uma velha de bigode. Um "mói” de gato espalhado pelo chão. Tinha bichano até debruçado na janela. Foi num arruado chamado Vila Marinho.
Mas, no pega-bebo de Pedro, entre uma tacada e outra, uma talagada e outra, uma piada, uma distração, uma risadagem danada. Isso foi durante a tarde todinha.
De repente, começou a anoitecer em Mocotó. Arrumamos os picuás e botamos pra voltar. O Chevette, ora acelerava, ora bufava. Parecia que era o carburador, o giclê entupido. Dava catabi na rodagem. O lençol da noite vinha forrando o dia. Tinha uns meninos pegando carona, encardidos, cheirosinhos a verdura, contentes que só pinto no lixo. Um deles manifestou: - Êita coisinha boinha, mô Deu.
E como não podia deixar de ser, paramos na primeira venda em Lagoa Redonda. As lambisgóias estavam danadas de enxeridas, falantes e esfomeadas.
- Me dá a saideira aí, seu fulano!
E o velho, solícito: - Pois não, meu jovem.
Também vinha pensando: esse mundo jamais fará reforma agrária.
Vesperal abraço!

Sosígenes Bittencourt

FRAGMENTOS

Estudante de Vestibular já está careca de saber
que não se passa em Vestibular sem saber.
Sosígenes Bittencourt

Sunday, November 27, 2011

A invenção de cotas raciais

Essa questão de cotas raciais é uma postura mais de natureza política do que outra coisa. Porque a grande causa do fracasso de negros em concursos públicos e nos vestibulares é a educação de má qualidade. Por quê. Sobretudo porque são pobres. Ora, se você cria cotas para os negros pobres, onde ficariam os brancos pobres? A questão me parece não ser relativa à cor, mas relativa à acessibilidade ao ensino de qualidade. E essa é uma responsabilidade do Estado. A artimanha política é criar sistema de cotas para negros para angariar simpatia da população negra, que é a maioria. Se você for indagar os próprios negros, eles acharão que esse sistema de cotas é uma forma de discriminação. Por exemplo, aquele negro que opta pelo sistema de cotas já denuncia sua incapacidade de disputar num outro tipo de sistema. Ademais, você para instituir um sistema de cotas terá que, obviamente, saber se aquele negro deve ter acesso a um ensino de qualidade, ou não. A pergunta é a seguinte: por que não se cria sistema de cotas para brancos? Há brancos pobres que não têm acesso a ensino competente. Portanto, o grande empecilho não deve ser encarado como a cor, mas como a deficiência no ensino público, que não oferece iguais condições de competitividade entre as classes sociais. O estado não investe, nesta área, como deveria. Por isso, os melhores professores vão para as escolas particulares e fogem das escolas públicas. O discurso é de que educação é prioridade, mas nunca foi, é falácia. É "tertulia flacida ad bovinum adormentarem", ou seja, conversa mole pra boi dormir.
Também seria bom frisar que igualdade, nos termos políticos em que se coloca, para galvanizar popularidade, é engodo, um mito, fundado pela Revolução Francesa. Ela nunca existirá. As pessoas, por si mesmas, estabelecem desigualdades. Porque, paralelamente, depende do empenho de cada um, de talento, de competência. Mesma condição não significa mesmo resultado.
Indiscriminado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Friday, November 25, 2011

Vila Nova 0, Sport 1

Êita, agonia danada! A equipezinha do Vila Nova veio com uma récua de reservas, mas doido para entrar para a história do futebol. Naturalmente, empurrados por um Papai Noel generoso, que deve ter-lhes prometido uma graninha, é claro. O goleiro do Vila Nova pegava bolas espíritas, mesmo com Marcelinho Paraíba fazendo miséria nos lançamentos e cobranças de escanteio. Aí, desabou um dilúvio. O céu ficou carrancudo, começou a lançar uma incógnita sobre o futuro. Eram muitos corações prestes a infartar. Contudo, em meio ao desespero, o destino parecendo enevoado e bruno, profundamente triste, lá vem Bruno, o Mineiro, conduzindo o triunfo na trajetória de sua carreira. Ninguém poderia adivinhar, até implicava. Nem desconfiava que o destino estava exatamente ali, traçado na cabeça de Bruno. E o Sport foi macho até debaixo d'água. Nem as piscinas, armadas pela chuva, impediram o Leão de subir de Divisão. O Sport soube navegar, equilibrar-se na areia movediça. Até que, entre o Leão e o Tigre, Luís Cetin terminou tomando um frango. Agora, é só comemorar o casá! casá! casá!

Essa vai para minha avó Celina - já residindo na Eternidade - que tomava banho e botava perfume, para ouvir os jogos do Sport pelo rádio.

Rubro-negro abraço!

Sosígenes Bittencourt

Thursday, November 24, 2011

FRAGMENTOS

* Eu sonhei que estava morto e continuava estudando.

*Solidão intelectual é ter o que dizer e não ter a quem dizer.
*A minha juventude já não é na lanternagem, é na mecânica das ideias.
*A paixão é a desobediência do desejo.
*Ninguém quer admitir que tem uma parcela de culpa e, por isso, um saldo de padecimento.
*Tem gente indo a pé, porque tem parlamentar voando com o seu dinheiro.
*Não há melhor agasalho que o abraço da pessoa amada.
*Se o salário correr, a inflação pega; se ficar, a inflação come.
*Minha vida é suspender o véu dos preconceitos para enxergar o interior das mulheres.
*Quem tem tudo na vida é O CARA, quem não tem nada na vida é O DESCARADO.
*Meninas grávidas nos verdes anos são como frutas amadurecidas no carbureto.

Sosígenes Bittencourt

Tuesday, November 22, 2011

Ladrão soft

O ladrão soft já não vai à agência bancária,
assalta de sua própria residência.
O ladrão soft é todo ético,
não quer o dinheiro do cliente,
quer o dinheiro do banco.
O ladrão soft é todo filosófico,
acha que o cliente é o assaltado,
e o banco, o assaltante.
O ladrão soft é todo prudente,
não quer pegar em arma, trocar tiro com a polícia,
arriscar a vida nem por em risco a vida alheia,
por isso fica em casa, protegendo a família.
O ladrão soft é todo religioso,
acredita que roubar é pecado,
mas tem fé no ditado: ladrão que rouba ladrão
tem cem anos de perdão.
O ladrão soft é calorento e cheio de frescura,
não quer transpirar, correndo pela avenida,
prefere o ar-condicionado do escritório,
para roubar, refrigerado.
O ladrão soft é todo tecnológico, cibernético,
clona seu cheque sem abrir o portão,
sabe seu saldo sem ir ao banco,
transfere dinheiro pela compensação.
O ladrão soft é um ser social,
vai a aniversário, casamento, batizado,
só não vai ao delegado, para não ser grampeado.
O ladrão soft é todo especial.
Para ele, foi fundado o Direito Digital.
O ladrão soft tem estilo, anda todo emperiquitado.
Paletó, gravata. Todo enxerido, solta bravata.
O ladrão soft é todo educado:
- Vocês poderiam me passar os pertences, por favor?
E depois do rapa:
- Deus vos dê em dobro o que eu vos tenho roubado.
Sobressaltado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Saturday, November 19, 2011

Fala, Vitória

Mestre Zé Guedes
Hoje, creio que pouquíssimas pessoas sabem que quem construiu os jazigos da primeira entrada do Cemitério São Sebastião foi meu bisavô, José Guedes da Costa. E não só, ele também esculpiu os frontispícios do Cemitério e do Mercado de Farinha.

José Guedes era pai de minha avó materna, Natércia Guedes Pereira. Ele morava em frente ao cemitério, onde hoje deve ser uma Casa Funerária que oferece espaço para velar os mortos. Conta, minha mãe, que levava bolacha com café para ele lanchar no canteiro da construção.

José Guedes não tinha formatura em nada e burilava suas obras com a ponta da colher de pedreiro. No braço, estava o caminho entre a intuição e a arte. Foi assim que cinzelou o brasão do Mercado de Farinha, ainda hoje do mesmo jeitinho, porque ninguém saberia refazer a arquitetura tal e qual o Mestre Zé Guedes, com a mesma desenvoltura, a mesma técnica.

Foi no tempo do fogo-fátuo. Minha mãe ficava pastorando o cemitério, escondidinha, para ver as línguas de fogo que saíam das covas. Eu ainda me lembro dessa história que contavam quando era menino lá na Feira das Panelas. A luz era da Pirapama, as ruas ensombradas, e o medo, de caveira, de assombração.
Monumental abraço!
Sosígenes Bittencourt

Friday, November 18, 2011

Fala, Vitória

DANILO FONTES E PESQUISA

Menino exemplar é Danilo Augusto Ferreira Fontes, estudante e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco, filho de dona Eliana. Deve ser fruto de uma composição triádica infalível: educação doméstica, escolar e bom uso da inteligência.
Quem me contou a história foi sua própria genitora - obviamente envaidecida com a conquista de seu rebento - lá na pracinha do Forum, onde pegamos o ônibus do Instituto Federal de Pernambuco em Vitória de Santo Antão. Dona Eliana faz o PROEJA no IFPE, e Danilo apresentou trabalho de MESTRADO na UFPE.
O foco central da laboriosa pesquisa do estudioso aluno é o tratamento da AIDS, cuja proposta é uma maior eficácia terapêutica com redução de custos. O medicamento proposto por Danilo faz bem a todo mundo e ao mundo todo, tanto clínica como financeiramente. Resulta de trabalho orientado pelo prof. Pedro Rolim Neto, apresentado em agosto por Danilo Fontes, assessorado por equipe no Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos. Trata-se de alívio, na via crucis do tratamento, pela junção dos fármacos Zidovudina, Lamivudina e Efavirenz em um só comprimido, reduzindo a dose, de três, para duas vezes ao dia. Só para ilustrar, minha mãe toma um remédio que tem de bater no liquidificador, 3 vezes ao dia, e submeter-se a deglutir um copo de repugnante sabor.
Os medicamentos, que antes apareciam em 3 comprimidos diferentes, são antirretrovirais que inibem a reprodução do vírus e retardam a imunodeficiência. Debruça-se sobre a ciência a sabedoria.
Para você ter uma ideia da importância da invenção, haverá economia em matéria-prima e transporte, num país que já tem 730 mil pacientes contaminados, com 200 mil sendo acudidos pelo SUS, cuja despesa sangra 1 bilhão dos cofres públicos por ano.
Que Danilo Fontes seja a fonte de novas sabedorias.
Científico abraço!
Sosígenes Bittencourt

Dr. Francisco Habermann

Dr. Francisco Habermann é nefrologista e docente da Faculdade de Medicina de Botucatu desde 1970. Dedicado e impressionado com doenças cardiovasculares e renais crônicas, desenvolve campanha para que seja oficializada a "Semana da Hipertensão". Entrevistado, no Canal REDEVIDA, por Dom Antônio, falou sobre o que se deveria fazer para obter boa qualidade de vida. Primeiro, deu uma orientação muito simples, porém extremamente benéfica à saúde: tomar um copo d'água em jejum. Depois, como regra geral, observou que deveríamos "comer a metade, andar o dobro e rir o triplo." E ainda nos aconselhou, como fundo musical, ouvirmos Música Clássica, sugerindo "As 4 Estações", do padre ruivo Antônio Vivaldi.

Dr. Habermann demonstra ser um profissional que, além de amar o ofício escolhido, possui o dom de reabastecer os seus pacientes de. Simplesmente, espetacular!

Salutar abraço!

Sosígenes Bittencourt

Fragmentos (retrospectiva)

(Há 24 anos)

*Deus deu ao homem a água, e o homem deu ao homem a conta d’água.
*No Dia de Finados, choramos por nossos mortos e por nós mesmos um dia.
*Na orla marítima, em tempo de fio-dental, o binóculo procurava um biquíni.
*O que mais aconselharia à polícia era não botar a mão no preso com o ódio do contracheque.
*Agiota até no amor, só dá um beijo por dois.
*Só nas Provas de Recuperação é que se conhece o pai do aluno irrecuperável. (Novembro - 1987)

(Há 23 anos)

*120 dias de licença-maternidade são mais do que o suficiente para a mulher retornar grávida ao trabalho.
*O preço do tira-gosto tira o gosto de beber.
*No dia das eleições, é proibido vender bebida alcoólica e fugir da cachaça de votar.
*Urge que se crie o Pronto Socorro do tempo, para socorrer as vítimas do Horário de Verão.
*Mais um avião cai na Cordilheira dos Andes. Impõe-se um conselho: não andes pela Cordilheira.
(Novembro - 1988)
Sosígenes Bittencourt

Wednesday, November 16, 2011

Quadro de Frases

Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo.

Voltaire

Tuesday, November 15, 2011

Eu sonhei que estava em Recife

Eu sonhei que estava no Recife Antigo, na década de 80, às tantas da madrugada. Parava na esquina, puxava um Hollywood do bolso e acendia. Depois de soltar uma baforada, ficava pensando: por aqui já passou muita gente que já morreu.
Ali, antigamente, tinha um bocado de cabaré. Era bom demais. Rua da Moeda, Vigário Tenório, Torre Malakoff... O Oceano Atlântico ficava ali na frente, ventilando, cheiroso, fazendo uma zoadinha. Tinha o Tonny Drink’s, o Capitólio, Night and Day... As meninas eram esguias, vestidinho curtinho, tamanquinho e rabo de cavalo. A boite estava aromática, ervas pelo chão, uma bola prateada girando à luz negra. A gente pagava 5 mil réis e tinha direito a uma dose de Ron Montilla com um limão escanchado na beira do copo. Recebia, também, um saco de pipoca milho em flor. Aí, veio uma camarada branquinha, sentou-se ao meu lado, apoiou o queixo sobre as mãos enclavinhadas e perguntou: - Tudo bem?
E eu, todo amostrado: Melhorou muito!
Pegou na minha mão, deu um cheiro na minha bochecha e me tirou pra dançar. A gente dançava solto, uns ritmos quentes, americanos. Quando ela ria, o rosto ficava todo iluminado, parecia que eu estava sonhando. Eu era maneiro, o sangue desintoxicado, todo novo. Nunca me esqueço desse sonho que já sonhei tantas vezes. Nunca me esqueço de que, quando fomos dormir, ela escovou os dentes. É a vida. Nem tudo a gente pode contar. O sexo ficou para a cama, e os segredos do amor, para o coração.
Onírico abraço!
Sosígenes Bittencourt

Monday, November 14, 2011

Quadro de Frases

Estão confundindo a minha lucidez com minha loucura.

Glauber Rocha

Sunday, November 13, 2011

Véspera de feriado

Hoje é uma segunda-feira, véspera de feriado. O que eu mais desejaria no Dia da Proclamação da República era que fosse proclamada outra república. Porque república vem de ‘res’+ ‘publica’, duas palavrinhas que significam ‘coisa pública’. E a maior inimiga da república é a corrupção, que quer dizer ‘transferência do que é público para o privado’. Li, outro dia, uma advertência para o homem público: Não faça na vida pública o que você faz na privada. Portanto, é momento de se pensar em República e Corrupção na pátria de Zé Carioca.
Mas, você sabe como é o brasileiro: véspera de feriado é feriado também. A macacada arruma as trouxas e bota pra molhar o bico. A menos que esteja dodói. Porque tem um bocado de gente com o cangaço na cama. Diz que é vírus. Deve ser por causa dessa variação de temperatura. Nunca se viu novembro assim. Esquenta e esfria, esfria e esquenta. De repente, faz um calor de fritar; depois, um frio de tilintar. O organismo perde autodefesa, dana-se a adoecer. Se bem que, no mundo, tem gente pra tudo. Há quem beba cachaça até pra dor de cotovelo.
Relaxado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Saturday, November 12, 2011

FRAGMENTOS

*Tensão na Rocinha não afasta turismo.
Turismo na Rocinha não afasta tensão.
*O técnico do Sport sonhou na Primeira Divisão.
Eu também sonhei...
*Carlos Lupi não é vontade de Dilma, é capricho do PDT.
*Quem exige amor, nunca é correspondido. Ninguém ama na marra.
*O aposentado anda com medo de que o aposentem do recebimento.
*No Brasil, a Esquerda e a Direita já não se matam pelo poder,
entram em conchavo.
*O controle remoto é recente, mas a sabedoria é remota.
*A galinha é uma inflação, inflada pela ração irracional que lhe dão.
*Uma vidente me disse que eu enricaria na velhice. Então, ainda estou muito jovem.
*Um dia, minha mãe descobriu que eu não mentia, fazia poesia.
*Quer saber o que são fragmentos? Estilhace um copo no chão.
Fragmentado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Fala, Vitória


ENTREVISTA NO AMÉLIA COELHO

Convite que me deixou muito contente foi o formulado pela profª. Selma, para conceder entrevista aos alunos do Curso Fundamental na Escola Amélia Coelho. Coisa decente de gente que leva a vida a sério. Educada, chegou-me ao portão e logo me seduziu, pela simplicidade do comportamento e carinho dispensado. Não titubiei, negócio fechado. O evento deu-se na sexta-feira, eu passeando de carro pra lá e pra cá. Só você vendo. A escola tem ares de coisa cuidada por mãe de verdade. Os alunos parecem filhos. O muro limpo, a entrada varrida, a biblioteca climatizada. As professoras sorridentes, denotando vocação para a educação e o ensino. Ensinar é transmitir conhecimentos, educar é burilar o caráter do indivíduo. Resultado: a entrevista virou uma palestra. Fiquei tão alegre com o que vi, tão motivado com o evento, que resolvi motivar os alunos. Falei mais sobre a vida e o universo em que estávamos vivendo do que a vida que levei. Sobretudo a importância da na caminhada da existência. Todavia, uma vez perguntado, falei sobre o meu trabalho de difusão cultural na cidade, minha inspiração literária e o meu entusiasmo pela educação. E terminei deixando-lhes um resumo de minha ampla visão profissional: Ensinar é, para mim, uma forma de conviver. Minha escola é o mundo.
Entusiasmado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Friday, November 11, 2011

Teledramaturgia no Trabalho

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, errou a profissão. Sua vocação para teledramaturgia poderia estar nas novelas da Globo. Arriscaria menos a reputação e ganharia um bom dinheiro.

Carlos Lupi deve ser resultado de compromisso político-partidário entre PT e PDT. Mas, se fazendo de desentendido, quando é acusado de conivência com irregularidades da pasta, Carlos fica puto da vida e dana-se a espernear. De tão atabalhoado, destila asneiras, relembrando assuntos que Dilma quer mais esquecer. Por exemplo, quando Carlos detona que só sai do Ministério à bala, na realidade não desafia Dilma - isso é tergiversação - contudo relembra uma esquerda perseguida, guerrilha, tortura, Ditadura Militar, uma série de baboseiras históricas que o momento político detestaria relembrar. Depois, quando convidado a rogar desculpas, Carlos se retrata e revela seu amor por Dilma. Outra tergiversação. Não é nada disso. Não há amor entre Carlos Lupi e Dilma Roussef, há acordo político-partidário. As palavras ideologia, esquerda, direita já não fazem parte do vocabulário político de nosso tempo, a palavra é “acordo”, cujo antônimo é "arenga". Ninguém dá o sangue nem mata por ideologia, na realidade cumpre compromissos. Por isso, Dilma deve estar muito injuriada com esses expedientes de Carlos, que parece não ouvir o pedido de “psiu” da presidente. Embora não querendo chamá-lo de desequilibrado, mas o ministro do Trabalho, que fala mais do que o homem da cobra, termina sendo demitido por falta de “equilíbrio” parlamentar.

Desastrado abraço!

Sosígenes Bittencourt

Thursday, November 10, 2011

Foto


OFEGANTE AFEGÃ

O retrato desta afegã está simplesmente cinematográfico! Flagrante de 1984, o clássico pertence à coleção de fotografias do fotógrafo estadunidense Steve McCurry, que acaba de ganhar um prêmio, exibindo 100 fotos em São Paulo. Chega dá vontade de ver o resto.

A menina parece um animal acuado, cujos olhos devem ressaltar o pânico que conduz n’alma. De tão fotojornalística, tão textual, já foi capa da National Geographic. De tão expectante, parece ofegar.

Ofegante abraço!

Sosígenes Bittencourt

Wednesday, November 09, 2011

No Dia da Audição

No Dia da Audição, é bom apurar os ouvidos. Já dizia o dramaturgo Nelson Rodrigues: O pior cego é o surdo. Deve ter querido dizer: o pior cego é aquele que não ouve o que se diz.

O povo costuma dizer que, se conselho fosse bom, não se dava, se vendia. Cá com meus botões, eu já acho que quem não ouve conselho, raras vezes acerta. Por exemplo, quanto conselho se dá para não se usar grampo, palito de fósforo, tampa de caneta e outros bregueços pérfurocontundentes, para cutucar os ouvidos. Agora mesmo, anda-se aconselhando não implantar fone de ouvido, no pavilhão auricular, como prótese sonora. Afinal, é bom preservar os ouvidos, porque são dois e uma boca, o que nos aconselha ouvir mais do que falar.

Voltaire dizia que tudo que entra pelo ouvido, vai direto ao coração, o que me levou a deduzir que o coração é a grande metáfora do amor. Porque o coração é o termômetro do sentimento, a mente é que ama. Portanto, não sejas mal-ouvido, ouve conselho, sobretudo os conselhos daqueles que te amam.

Mavioso abraço!

Sosígenes Bittencourt

Monday, November 07, 2011

Se a moda pega

A impressão é de que os alunos da USP querem se distrair. Vamos por princípio. Escola não é lugar de distração, escola é lugar de concentração. A Universidade é uma escola, não é parque de diversão. Depois, os alunos da USP que querem estudar, obviamente, não querem conviver com barulho, pessoas se drogando, nem cavalaria dentro das dependências da Universidade. Esse grupo de alunos que reivindica o direito de fumar maconha no campus universitário deve estar querendo atropelar o direito da maioria, ou seja, querem direitos especiais. Outro detalhe, conviver com drogado é uma coisa, conviver com pessoas se drogando é outra coisa. Eu não quero um animal se drogando na sala de minha residência. Ninguém pode me obrigar a aceitar um alcoólatra enchendo o latão de pinga junto de mim. Esses estudantes querem ficar de papo pro ar, dentro da Universidade, pitando marijuana, inalando crack, como se fosse direito a distração. Daqui a pouco, será direito fumar maconha na igreja, na sala de espera, no elevador, no velório, etc, etc. O que se pode esperar de uma pessoa que está se drogando? O imprevisível. O drogado não modifica o mundo, quem se modifica é ele. E você pode não querer ser visto por alguém que está vendo o mundo diferente. De repente, o cara pode pensar que você é o Cão do Terceiro Livro, que você é doido, que você é um fantasma, e aí? Imagine se a moda pega e todos têm o direito de fazer o que quiser nas escolas. Uma procissão de alunos adentrando a Faculdade, de maconha no bico. Todo mundo louco, se desabotoando, podendo imitar o coito em pé, embolando pelo chão, como as mulheres do deus Dionísio. Observe bem o que esses alunos que invadiram a Reitoria fizeram. Quebraram móveis, riscaram as paredes, lambuzaram tudo, como se estivessem em seu chiqueiro. Desconhecem que aquilo é bem público. Como é que querem ter direitos, atropelando direitos. Na Universidade tem aluno decente, tomado banho, trocado de roupa, exame de vista, livro debaixo do braço, querendo estudar e fazer o futuro. Gente que sente prazer em estudar. Porque estudar não dói, estudar é um movimento sublime d'alma, é fator de real amadurecimento da sociedade, de convivência saudável, semeadura da Democracia. O mundo espera tudo daqueles que estudam, confia naqueles que se formam, e não espera boa coisa daqueles que se drogam.

Equivocado abraço!

Sosígenes Bittencourt

Filmando o destino

Oxalá esteja na câmera do cinegrafista a imagem do seu algoz.
Pode-se imaginar que Gelson Domingos da Silva, de 46 anos, foi vítima de “aberratio ictus”, ou seja, morto fatalmente por um tiro direcionado a um policial. Quer dizer, erro quanto ao alvo. Contudo, não custa desconfiar de que o traficante tenha atirado no cinegrafista, na favela de Antares, Zona Oeste da Cidade outrora Maravilhosa. Relembremos Tim Lopes, torturado e incendiado porque bisbilhotava atividades de narcotraficantes no Rio. Esses funcionários do tráfico, que perderam o amor à vida, não sentem patavinas em relação à vida dos outros. Aliás, eles não matam porque usam drogas, matam para traficá-las. A revolta é com a contrariedade e julgam que matam em legítima defesa. Alguns são viciados e outros detestam. A questão é que droga virou mercadoria e tráfico virou meio de vida. Coisa de Terceiro Mundo, apregoada à falta de emprego, misturada com falta de educação. Gelson estava trabalhando, era um cara batalhador, não tinha nada a ver com o pato. A família confessa que Gelson saiu de casa, naquela manhã, rezando. Parece obra do destino, picardia dos deuses. Porque quem entende de estratégia de operacionalidade são aqueles policiais troncudos, pesadões, que sabem se safar de tiro, embolando pelo chão e se acocorando nas esquinas. É bom tomarem como exemplo. Cinegrafista, dia de domingo, no Rio, é pra se refrescar na orla marítima de Copacabana, empunhando chopp, namorando a vida, não para desafiar a morte. Porque esse negócio de tráfico, de nóia, não tem quem acabe, principalmente porque ninguém quer acabar.
Requiescat in pace!
Sosígenes Bittencourt