Thursday, December 29, 2011

Pensando na vida

Sou do tempo em que havia tempo de acompanhar a réstia do sol e contar estrelas. Sou do tempo em que o coral dos grilos orquestrava a sonoplastia das estrelas. Minha avó Celina botava perfume e penteava os cabelos para ouvir o jogo do Sport Club do Recife pelo rádio.
Eu queria passar o final do ano em Boa Viagem. Diz que tem muita lâmpada colorida, fogos de artifício, Jingle Bells, tanta mulher bonitinha e cheirosa que o coração fica pinotando de alegria. O mar roncando surdo e o vento assanhando o cabelo. Ficar de cara pra cima, vendo os arranha-céus. Ali mora uma família. Mas, tenho medo de assaltante. Talvez, eles queiram nos matar.
Eu estava conversando lorota. Um vendedor de picolé me apareceu.
- Chupe um picolé para me ajudar, professor.
- Eu posso até lhe ajudar, não sou obrigado a chupar coisa alguma.
A outra, foi assim:
- Professor, eu quero um dinheiro para ir pra Caruaru.
- Se eu pudesse, eu iria pra Caruaru com você. Contudo, o que é que você vai fazer em Caruaru?
Todo final de ano, a gente bota pra pensar nos mortos. Às vezes, naqueles que vão nascer. Até os que nem estão no ventre. Em verdade, ficamos pensando no vir-a-ser. Quem danado sabe o que vai acontecer? Um dia, fomos espermatozóide e óvulo. Um dia, estaremos num jazigo.
A morte é uma instituição democrática, fundada pelo tempo. Ninguém tem o direito de reclamar. Todos têm o direito de receber. Nunca mais eu fui ao cemitério. Ali, ensurdecem os que viveram, amaram e odiaram como nós, que seremos ossos, sem servir de conselho. Ontem, eu vi passar um enterro. As pessoas nunca tomam a morte como exemplo. Vivem pensando na vida.

Nesses dias, chega o Carnaval. O tempo é breve. No meu tempo, a gente pintava a cara e abria a porta para ver o caboclinho. Brincava de bisnaga. Relembrar é alongar a vida. Relembrar é abrir o livro de nossa história.
Eu nem sei a quem desejar um Próspero Ano Novo. Porém, mesmo assim, não custa nada desejar que você seja feliz, mesmo que não goste desta crônica.
Conversado abraço.
Sosígenes Bittencourt

2 comments:

silvio de cidade de deus said...

a morte e a única certeza que termos porque um dia vamos morrer.eu particularmente eu gosto da morte.porque ela mata o rico mata o pobre mata o humilde mata o exaltado mata o feio mata o bonito mata o educado mata o bruto mata o homem mata a mulher mata.mata eu mata de sorte que todos morreremos. agora vou citar um versículo da Bíblia que estar em romanos 06 26.que diz que o salário do pecado e a morte mais o dom gratuito de DEUS e a vida por cristo jesus nosso senhor. maravilhoso abraço feliz 2012

Sosígenes Bittencourt said...

A morte é a única instituição democrática.
A morte é solitária, ninguém morre com ninguém.
A morte é o último estágio da consciência.
A morte é a morte e nada mais.
Não há nada que nos pareça mais semelhante à vida do que o que imaginamos para além da morte.
Profundo abraço!