Thursday, June 28, 2007

Retrospectiva


Há 19 anos
Em São Lourenço da Mata, uma empreiteira joga ossos humanos na via pública. O povo, revoltado, faz a caveira do prefeito. São os ossos do ofício.

O alcoólatra sempre inventa um motivo para beber. Um bebeu para comemorar a resolução de ingressar no A. A.

Haja doador de bom rim para salvar portador de rim ruim no Nordeste.

O sertanejo prefere morrer de sede no Sertão a pagar conta d’água na Zona da Mata.

A Funai nem liga para as reclamações da tribo Pataxó Hã-hã-hãe. Nem nem nem.

(Junho - 1988)
Há 18 anos

Os iranianos passam 40 dias de luto, esmurrando o peito e dando tapa na cara, pela morte de Khomeini. (Eles merecem.)

Com o novo aumento do cigarro, como fumar se-me-dão, se não me dão?

Aproxima-se o São João. É preciso espigar-se todo para enxergar uma espiga de milho. Milhas de terra dariam milho aos milhares, enquanto a fome campeia em milhões de vísceras.

(Junho - 1989)
Sosígenes Bittencourt

São Pedro














São Pedro (segundo a tradição teria morrido em cerca de 67 d.C.) e foi um dos doze Apóstolos de Jesus Cristo.
O seu nome original não era Pedro, mas Simão.
Cristo apelidou-o de Petros - Pedro, nome grego, masculino, derivado da palavra "petra", que significa "Pedra" ou "rocha".
Jesus ter-lhe-ia dito: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e o poder da morte não poderá mais vencê-la.
Pedro tem uma importância central na teologia católico-romana. É considerado o príncipe dos apóstolos e o fundador, junto com São Paulo, da Igreja de Roma (a Santa Sé), sendo-lhe reconhecido ainda o título de primeiro Papa.
PAPA quer dizer: Pedro Apóstolo, Príncipe dos Apóstolos.

(Leia em forma de oração. Sem leitura, não há salvação.
Sosígenes Bittencourt)

Monday, June 25, 2007

Nascida para Viver



Nem um acidente de trânsito, no princípio do mês, numa viagem ao interior do Rio, impediu que a rainha do deboche interasse um século de existência. O jornalista Austregésilo de Athayde dizia que “os homens foram condenados a morrer, e ele, condenado a viver.” Bela frase para Dercy Gonçalves, completando 100 anos de anarquia. Reflexões como “a vida é muito boa, contanto que não a levemos muito a sério” e “seriedade excessiva produz úlcera” parecem ter um certo sentido. Tem gente que, de tanto esquentar a cabeça, sua pressão sobe até com água. Se aperreio pagasse compromisso, valeria a pena viver aperreado. E ainda tem mais, Dercy não está nem aí com a morte. Inventaram uma festa para comemorar seu aniversário no dia 6, e ela, sem comer uma fatia de bolo, ainda pediu 15 mil reais pela presença. O ruge-ruge foi no Brooklyn, zona sul de São Paulo. É isso aí, bicho! Numa de suas apresentações teatrais, entrou no palco, deitou-se sobre uma mesa e abriu as pernas em forma de “V” diante da platéia. Não precisava ter feito mais nada. Ainda hoje tem gente que dá gaitada. Quem nasceu para fazer rir, faz bem aos outros e a si mesmo. Não é em vão que já utilizaram palhaços em hospitais de criança, como auxiliares na cura. Nascida em 23 de junho de 1907, a indolor Dolores Gonçalves Costa, solta gracinha com o tempo. Diz que, na realidade, está completando 102 aninhos, pois seu pai só a registrou dois anos depois de seu nascimento, em Santa Maria Madalena, no Rio de Janeiro. Em entrevista, revelou que só começou a pensar na morte aos 40 anos e que seus 100 anos só pesam um pouco na bexiga e no intestino. Disse ainda que não fuma e não é tanque de combustível para botar álcool dentro de si. Certa vez, perguntaram a uma centenária, no Rio, se ela tinha medo da morte. Resposta: – Eu não, tem gente que tem e morre do mesmo jeito.

Sosígenes Bittencourt

Saturday, June 23, 2007

Das advertências dos perigos são-joaninos


Não solte fogos de artifício.
Queimadura é o maior suplício.

Não solte fogos na cozinha.
Você pode virar cardápio.

Não solte fogos, segurando com os dedos.
Você pode perder a cabeça e os dedos.

Não aponte os fogos pra ninguém.
Isso pode gerar um debate, em júri popular,
sobre a diferença entre “culpa” e “dolo”.

Não deixe criança junto de fogueira.
Ela pode querer medir a temperatura do fogo
com a palma da mão.

Não jogue álcool na fogueira –
respeitabilíssimo suicida
a garrafa pode explodir.

Não pule a fogueira, de nádegas sintéticas.
Você pode virar um foguete.

Não corra em chamas, pois o vento
servirá de abano. Role pelo chão,
à maneira dos desesperados.

Sosígenes Bittencourt

Tuesday, June 19, 2007

São João e São João


Das três maiores festas anuais, o São João é a mais singela e tradicional. O Ano Novo nos trespassa de tristeza, porque sugere a contagem do tempo e amontoa os mortos. Abrimos álbum de retrato e botamos pra chorar. O Carnaval é uma festa perigosa, de extravasar frustrações. O pessoal só falta correr nu pela rua. O São João é uma festa mais pacata, que relembra nossas tradições mais atávicas, nossas raízes culturais. Lembro-me do São João das ruas sem calçamento. O mundo parecia um terreiro só. As mulheres cruzavam as pernas, enfiavam as saias entre as coxas, para ralar o milho e o coco, enquanto os homens plantavam o machado nos toros de madeira para fazer as fogueiras. À tardinha, o alguidar de barro virava uma lagoa de caldo amarelo onde fervia o maná das comezainas juninas. A meninada ensaiava o jeito de ser homem e mulher. De chapéu de palha, bigode a carvão e camisa quadriculada, era quando podíamos chegar mais perto das meninas sem levar carão nem experimentar a sensação de pecado. O coração se alegrava quando sonhávamos com a liberdade de adultos que teríamos um dia. Batia uma gostosíssima impressão de que estávamos bem próximos de fazer o que não podíamos fazer. Os ensaios de quadrilha relembravam a tristeza do último dia. Pois um ano durava uma eternidade, as horas eram calmas, podíamos acompanhar a réstia do sol e contar estrelas. Pamonha, canjica e pé-de-moleque eram tarefas de dona de casa prendada, de quem o marido se gabava. Tudo era simples e barato, ninguém enricava com a festa. A novidade era a radiola portátil, e os conjuntos eram pobres de tecnologia, mas os instrumentos ricos de som e harmonia, manuseados com habilidade e gosto, na execução do repertório da festa do milho. Quando São Pedro se ia, ficava um aroma de saudade na fumaça das derradeiras fogueiras e no espocar dos últimos fogos.
Sosígenes Bittencourt

Friday, June 15, 2007

Ariano Suassuna


Ariano Vilar Suassuna
e autor dos célebres Auto da Compadecida e
"A Pedra do Reino".
É defensor militante da cultura brasileira.
Aos 80 anos, Ariano Suassuna
se diz apaixonado pela vida,
por sua mulher e pela literatura.
"Não leio por hábito,
leio por paixão."

Thursday, June 14, 2007

Não ria se puder




Aula de medicina


No Curso de Medicina, o professor se dirige ao aluno e pergunta:
- Quantos rins nós temos?
- Quatro! Responde o aluno.
- Quatro? Replica o professor, arrogante, daqueles que se comprazem em tripudiar sobre os erros dos alunos.
- Traga um feixe de capim, pois temos um asno na sala - ordena o professor a seu auxiliar.
- E para mim um cafezinho ! Replica o aluno ao auxiliar do mestre.
O professor ficou irado e expulsou o aluno da sala. O aluno era, entretanto, o humorista Aparício Torelly Aporelly (1895-1971), mais conhecido como o "Barão de Itararé".
Ao sair da sala, o aluno ainda teve a audácia de corrigir o furioso mestre:
- O senhor me perguntou quantos rins "nós temos". "Nós" temos quatro: dois meus e dois seus. Tenha um bom apetite e delicie-se com o capim!
"A vida exige muito mais compreensão do que conhecimento!"

Tuesday, June 12, 2007

Santo Antônio Casamenteiro




Santo Antônio Casamenteiro é o protetor do casamento.

Qual o santo protetor do divórcio?
Sosígenes Bittencourt

Monday, June 11, 2007

Véspera



Carlos Drummond de Andrade

(1902-1987)

Não ensaies demais as tuas vítimas,

ó amor, deixa em paz os namorados.

Eles guardam em si, coral sem ritmo,

os infernos futuros e passados.

Friday, June 08, 2007

Fala, Vitória










Angélica mudada

Como Angélica mudou. Ninguém a conhece mais. A menina que vendia detergente, moradora das Malvinas. Louca para vencer na vida, quase perde o juízo, pois nem podia estudar. Vivia estafada de tanto viajar pelo interior, na labuta para obter o sustento de sua família. Trabalho intelectualmente estéril, muscular, cuja grandeza consistia em buscar a manutenção de seus dois filhos, pais e irmãos, com a misericórdia que move as almas que amam. Misericórdia vem de misereo + cor, que quer dizer com a miséria no coração. A magnífica capacidade de abrigar a dor do outro dentro de si mesmo. Alguns, os mais curiosos, mais lidos, chamam-na de empatia. Seu nome é Angélica, misto de menina de origem pobre e postura de anjo. Quando se viu, porém, sem horizontes, em Vitória de Santo Antão, danou-se para o Sul do país. Depois de morar no Rio de Janeiro, a outrora apenas Cidade Maravilhosa, passou-se para São Paulo. Tudo isso faz 6 anos. De repente, eis que me aparece, à noitinha, na Pizzaria e Restaurante Chaplin, lugar onde converso com amigos e repasso o que li durante o dia. Naquele instante, como um CD de forró eletrônico nos proibisse de raciocinar, fomos para a praça. Em meio a meninos pedindo um real e alunas que gazeiam aulas para namorar, a observação: “Isso aqui não muda nunca.” Finalmente, sentados em frente a uma barraquinha de cachorro-quente, iniciamos a conversa:

O que queres beber, Angélica ? – pergunto, abismado com o verniz de educação adquirido pela menina.

– Um guaraná – para o meu maior espanto.

Que vieste fazer neste mundo velho ?

– Procurar o pai dos meus filhos para fazê-lo cumprir a Pensão Alimentícia dos menores, e descobrir quem sacou o PIS de meu falecido pai que, calejado de trabalhar na agricultura, nunca se aposentou.

Valha-nos, Deus!
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, June 05, 2007

Estudando Português


Emprego dos Pronomes
PARA EU ou PARA MIM?
Compare as expressões:
Tire a roupa, para eu examiná-lo.
Isso é muito constrangedor para mim.
Na primeira frase, o pronome eu tem a função de sujeito.
Na segunda frase, o pronome não tem a função de sujeito. Por isso se emprega mim, e não eu.
ENTRE EU ou ENTRE MIM?
O padrão culto da língua exige o emprego do pronome mim em expressões como entre mim e você, entre mim e ele(a)(s), uma vez que não desempenha a função de sujeito.
Nunca houve nenhuma briga entre mim e você.
Entre mim e ela, sempre haverá uma amizade sincera.
CONSIGO ou COM VOCÊ?
O pronome consigo é reflexivo; por isso, no padrão culto, não deve ser empregado em referência à pessoa com que se fala.
Leve consigo suas roupas. (pronome reflexivo)
Preciso falar com você.
DEIXE EU VER ou DEI-ME VER?
No padrão coloquial da língua, é comum ouvirmos "Deixe eu ver". Embora correto, porque o pronome é o sujeito do verbo, no padrão formal e culto empregam-se os pronomes oblíquos átonos em vez dos retos. Isso ocorre por razões de eufonia, isto é, para o som ficar mais agradável.
Deixe-me ver seu vestido novo.
Mande-a sair.
Eu a vi entrar.
Use o pronome indicado:
1) Empreste o livro para ..... ler. (eu/mim)
2) Empreste o livro para ..... (eu/mim)
3) Quero ir ao cinema ..... (consigo/com você)
4) Vi ..... entrando no supermercado. (ela/a)
PORTUGUÊS: LINGUAGENS
William Roberto Cereja e
Tereza Cochar Magalhães

Monday, June 04, 2007

Gilberto Freyre


(1900 1987)
Sou um homem paradoxalmente contraditório, sedentário e nômade, gosto de minha província e gosto de viajar.
Gilberto Freyre