Friday, May 11, 2007

Para sempre


Carlos Drummond de Andrade
Poeta mineiro
(1903-1987)

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora ?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia ?
Fosse eu rei do mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

2 comments:

Anonymous said...

Drummond deu passaporte a poesia para que ela viajasse através da carne.

Sosígenes Bittencourt said...

Drummond era uma espécie de arauto da poesia que há nas coisas e espera ser descoberta, espera ser ouvida. Sosígenes Bittencourt