Tuesday, November 29, 2011

Um dia, eu fui bater em Mocotó

Um dia, eu fui bater em Mocotó. Mocotó fica na zona rural de Vitória de Santo Antão. Para chegar a Mocotó, vai por Natuba e tem a Ladeira do Comprido. Em Natuba, tem alface que só.
- Onde fica Mocotó? – pergunta-se ao matuto.
- Ali, logo ali. Vá indo, que o senhor chega lá. – estirando os beiços.
E tome a botar marcha, acelerar e debrear, suspirar, cantarolar, o vento assanhando o cabelo. Eu tinha cabelo naquela época. Mocotó já foi lugar de se contratar empregada doméstica. Isso foi no tempo em que empregada só prestava se fosse de sítio. Hoje, elas assistem a Malhação.
E lá ia, eu, pra Mocotó em meu Chevette bege, carregando duas camaradas assanhadas e uma garrafa de pinga. Sequer precisava, posto que, na barraca de Pedro Amaro, só era o que tinha. Até garrafa de Pitú com tampa forrada de cortiça, empoeirada na prateleira. Coisa rara. Diz que uma custa cem mil réis. Aí, botamos pra jogar sinuca e bebericar manguaça com linguiça. Sardinha também. Juntou foi gente.
- Dona fulana, vê quem tá na venda!
- Quem?
- Aquele professor lá da cidade.
Foi em Mocotó que eu vi uma velha de bigode. Um "mói” de gato espalhado pelo chão. Tinha bichano até debruçado na janela. Foi num arruado chamado Vila Marinho.
Mas, no pega-bebo de Pedro, entre uma tacada e outra, uma talagada e outra, uma piada, uma distração, uma risadagem danada. Isso foi durante a tarde todinha.
De repente, começou a anoitecer em Mocotó. Arrumamos os picuás e botamos pra voltar. O Chevette, ora acelerava, ora bufava. Parecia que era o carburador, o giclê entupido. Dava catabi na rodagem. O lençol da noite vinha forrando o dia. Tinha uns meninos pegando carona, encardidos, cheirosinhos a verdura, contentes que só pinto no lixo. Um deles manifestou: - Êita coisinha boinha, mô Deu.
E como não podia deixar de ser, paramos na primeira venda em Lagoa Redonda. As lambisgóias estavam danadas de enxeridas, falantes e esfomeadas.
- Me dá a saideira aí, seu fulano!
E o velho, solícito: - Pois não, meu jovem.
Também vinha pensando: esse mundo jamais fará reforma agrária.
Vesperal abraço!

Sosígenes Bittencourt

FRAGMENTOS

Estudante de Vestibular já está careca de saber
que não se passa em Vestibular sem saber.
Sosígenes Bittencourt

Sunday, November 27, 2011

A invenção de cotas raciais

Essa questão de cotas raciais é uma postura mais de natureza política do que outra coisa. Porque a grande causa do fracasso de negros em concursos públicos e nos vestibulares é a educação de má qualidade. Por quê. Sobretudo porque são pobres. Ora, se você cria cotas para os negros pobres, onde ficariam os brancos pobres? A questão me parece não ser relativa à cor, mas relativa à acessibilidade ao ensino de qualidade. E essa é uma responsabilidade do Estado. A artimanha política é criar sistema de cotas para negros para angariar simpatia da população negra, que é a maioria. Se você for indagar os próprios negros, eles acharão que esse sistema de cotas é uma forma de discriminação. Por exemplo, aquele negro que opta pelo sistema de cotas já denuncia sua incapacidade de disputar num outro tipo de sistema. Ademais, você para instituir um sistema de cotas terá que, obviamente, saber se aquele negro deve ter acesso a um ensino de qualidade, ou não. A pergunta é a seguinte: por que não se cria sistema de cotas para brancos? Há brancos pobres que não têm acesso a ensino competente. Portanto, o grande empecilho não deve ser encarado como a cor, mas como a deficiência no ensino público, que não oferece iguais condições de competitividade entre as classes sociais. O estado não investe, nesta área, como deveria. Por isso, os melhores professores vão para as escolas particulares e fogem das escolas públicas. O discurso é de que educação é prioridade, mas nunca foi, é falácia. É "tertulia flacida ad bovinum adormentarem", ou seja, conversa mole pra boi dormir.
Também seria bom frisar que igualdade, nos termos políticos em que se coloca, para galvanizar popularidade, é engodo, um mito, fundado pela Revolução Francesa. Ela nunca existirá. As pessoas, por si mesmas, estabelecem desigualdades. Porque, paralelamente, depende do empenho de cada um, de talento, de competência. Mesma condição não significa mesmo resultado.
Indiscriminado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Friday, November 25, 2011

Vila Nova 0, Sport 1

Êita, agonia danada! A equipezinha do Vila Nova veio com uma récua de reservas, mas doido para entrar para a história do futebol. Naturalmente, empurrados por um Papai Noel generoso, que deve ter-lhes prometido uma graninha, é claro. O goleiro do Vila Nova pegava bolas espíritas, mesmo com Marcelinho Paraíba fazendo miséria nos lançamentos e cobranças de escanteio. Aí, desabou um dilúvio. O céu ficou carrancudo, começou a lançar uma incógnita sobre o futuro. Eram muitos corações prestes a infartar. Contudo, em meio ao desespero, o destino parecendo enevoado e bruno, profundamente triste, lá vem Bruno, o Mineiro, conduzindo o triunfo na trajetória de sua carreira. Ninguém poderia adivinhar, até implicava. Nem desconfiava que o destino estava exatamente ali, traçado na cabeça de Bruno. E o Sport foi macho até debaixo d'água. Nem as piscinas, armadas pela chuva, impediram o Leão de subir de Divisão. O Sport soube navegar, equilibrar-se na areia movediça. Até que, entre o Leão e o Tigre, Luís Cetin terminou tomando um frango. Agora, é só comemorar o casá! casá! casá!

Essa vai para minha avó Celina - já residindo na Eternidade - que tomava banho e botava perfume, para ouvir os jogos do Sport pelo rádio.

Rubro-negro abraço!

Sosígenes Bittencourt

Thursday, November 24, 2011

FRAGMENTOS

* Eu sonhei que estava morto e continuava estudando.

*Solidão intelectual é ter o que dizer e não ter a quem dizer.
*A minha juventude já não é na lanternagem, é na mecânica das ideias.
*A paixão é a desobediência do desejo.
*Ninguém quer admitir que tem uma parcela de culpa e, por isso, um saldo de padecimento.
*Tem gente indo a pé, porque tem parlamentar voando com o seu dinheiro.
*Não há melhor agasalho que o abraço da pessoa amada.
*Se o salário correr, a inflação pega; se ficar, a inflação come.
*Minha vida é suspender o véu dos preconceitos para enxergar o interior das mulheres.
*Quem tem tudo na vida é O CARA, quem não tem nada na vida é O DESCARADO.
*Meninas grávidas nos verdes anos são como frutas amadurecidas no carbureto.

Sosígenes Bittencourt

Tuesday, November 22, 2011

Ladrão soft

O ladrão soft já não vai à agência bancária,
assalta de sua própria residência.
O ladrão soft é todo ético,
não quer o dinheiro do cliente,
quer o dinheiro do banco.
O ladrão soft é todo filosófico,
acha que o cliente é o assaltado,
e o banco, o assaltante.
O ladrão soft é todo prudente,
não quer pegar em arma, trocar tiro com a polícia,
arriscar a vida nem por em risco a vida alheia,
por isso fica em casa, protegendo a família.
O ladrão soft é todo religioso,
acredita que roubar é pecado,
mas tem fé no ditado: ladrão que rouba ladrão
tem cem anos de perdão.
O ladrão soft é calorento e cheio de frescura,
não quer transpirar, correndo pela avenida,
prefere o ar-condicionado do escritório,
para roubar, refrigerado.
O ladrão soft é todo tecnológico, cibernético,
clona seu cheque sem abrir o portão,
sabe seu saldo sem ir ao banco,
transfere dinheiro pela compensação.
O ladrão soft é um ser social,
vai a aniversário, casamento, batizado,
só não vai ao delegado, para não ser grampeado.
O ladrão soft é todo especial.
Para ele, foi fundado o Direito Digital.
O ladrão soft tem estilo, anda todo emperiquitado.
Paletó, gravata. Todo enxerido, solta bravata.
O ladrão soft é todo educado:
- Vocês poderiam me passar os pertences, por favor?
E depois do rapa:
- Deus vos dê em dobro o que eu vos tenho roubado.
Sobressaltado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Saturday, November 19, 2011

Fala, Vitória

Mestre Zé Guedes
Hoje, creio que pouquíssimas pessoas sabem que quem construiu os jazigos da primeira entrada do Cemitério São Sebastião foi meu bisavô, José Guedes da Costa. E não só, ele também esculpiu os frontispícios do Cemitério e do Mercado de Farinha.

José Guedes era pai de minha avó materna, Natércia Guedes Pereira. Ele morava em frente ao cemitério, onde hoje deve ser uma Casa Funerária que oferece espaço para velar os mortos. Conta, minha mãe, que levava bolacha com café para ele lanchar no canteiro da construção.

José Guedes não tinha formatura em nada e burilava suas obras com a ponta da colher de pedreiro. No braço, estava o caminho entre a intuição e a arte. Foi assim que cinzelou o brasão do Mercado de Farinha, ainda hoje do mesmo jeitinho, porque ninguém saberia refazer a arquitetura tal e qual o Mestre Zé Guedes, com a mesma desenvoltura, a mesma técnica.

Foi no tempo do fogo-fátuo. Minha mãe ficava pastorando o cemitério, escondidinha, para ver as línguas de fogo que saíam das covas. Eu ainda me lembro dessa história que contavam quando era menino lá na Feira das Panelas. A luz era da Pirapama, as ruas ensombradas, e o medo, de caveira, de assombração.
Monumental abraço!
Sosígenes Bittencourt

Friday, November 18, 2011

Fala, Vitória

DANILO FONTES E PESQUISA

Menino exemplar é Danilo Augusto Ferreira Fontes, estudante e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco, filho de dona Eliana. Deve ser fruto de uma composição triádica infalível: educação doméstica, escolar e bom uso da inteligência.
Quem me contou a história foi sua própria genitora - obviamente envaidecida com a conquista de seu rebento - lá na pracinha do Forum, onde pegamos o ônibus do Instituto Federal de Pernambuco em Vitória de Santo Antão. Dona Eliana faz o PROEJA no IFPE, e Danilo apresentou trabalho de MESTRADO na UFPE.
O foco central da laboriosa pesquisa do estudioso aluno é o tratamento da AIDS, cuja proposta é uma maior eficácia terapêutica com redução de custos. O medicamento proposto por Danilo faz bem a todo mundo e ao mundo todo, tanto clínica como financeiramente. Resulta de trabalho orientado pelo prof. Pedro Rolim Neto, apresentado em agosto por Danilo Fontes, assessorado por equipe no Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos. Trata-se de alívio, na via crucis do tratamento, pela junção dos fármacos Zidovudina, Lamivudina e Efavirenz em um só comprimido, reduzindo a dose, de três, para duas vezes ao dia. Só para ilustrar, minha mãe toma um remédio que tem de bater no liquidificador, 3 vezes ao dia, e submeter-se a deglutir um copo de repugnante sabor.
Os medicamentos, que antes apareciam em 3 comprimidos diferentes, são antirretrovirais que inibem a reprodução do vírus e retardam a imunodeficiência. Debruça-se sobre a ciência a sabedoria.
Para você ter uma ideia da importância da invenção, haverá economia em matéria-prima e transporte, num país que já tem 730 mil pacientes contaminados, com 200 mil sendo acudidos pelo SUS, cuja despesa sangra 1 bilhão dos cofres públicos por ano.
Que Danilo Fontes seja a fonte de novas sabedorias.
Científico abraço!
Sosígenes Bittencourt

Dr. Francisco Habermann

Dr. Francisco Habermann é nefrologista e docente da Faculdade de Medicina de Botucatu desde 1970. Dedicado e impressionado com doenças cardiovasculares e renais crônicas, desenvolve campanha para que seja oficializada a "Semana da Hipertensão". Entrevistado, no Canal REDEVIDA, por Dom Antônio, falou sobre o que se deveria fazer para obter boa qualidade de vida. Primeiro, deu uma orientação muito simples, porém extremamente benéfica à saúde: tomar um copo d'água em jejum. Depois, como regra geral, observou que deveríamos "comer a metade, andar o dobro e rir o triplo." E ainda nos aconselhou, como fundo musical, ouvirmos Música Clássica, sugerindo "As 4 Estações", do padre ruivo Antônio Vivaldi.

Dr. Habermann demonstra ser um profissional que, além de amar o ofício escolhido, possui o dom de reabastecer os seus pacientes de. Simplesmente, espetacular!

Salutar abraço!

Sosígenes Bittencourt

Fragmentos (retrospectiva)

(Há 24 anos)

*Deus deu ao homem a água, e o homem deu ao homem a conta d’água.
*No Dia de Finados, choramos por nossos mortos e por nós mesmos um dia.
*Na orla marítima, em tempo de fio-dental, o binóculo procurava um biquíni.
*O que mais aconselharia à polícia era não botar a mão no preso com o ódio do contracheque.
*Agiota até no amor, só dá um beijo por dois.
*Só nas Provas de Recuperação é que se conhece o pai do aluno irrecuperável. (Novembro - 1987)

(Há 23 anos)

*120 dias de licença-maternidade são mais do que o suficiente para a mulher retornar grávida ao trabalho.
*O preço do tira-gosto tira o gosto de beber.
*No dia das eleições, é proibido vender bebida alcoólica e fugir da cachaça de votar.
*Urge que se crie o Pronto Socorro do tempo, para socorrer as vítimas do Horário de Verão.
*Mais um avião cai na Cordilheira dos Andes. Impõe-se um conselho: não andes pela Cordilheira.
(Novembro - 1988)
Sosígenes Bittencourt

Wednesday, November 16, 2011

Quadro de Frases

Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo.

Voltaire

Tuesday, November 15, 2011

Eu sonhei que estava em Recife

Eu sonhei que estava no Recife Antigo, na década de 80, às tantas da madrugada. Parava na esquina, puxava um Hollywood do bolso e acendia. Depois de soltar uma baforada, ficava pensando: por aqui já passou muita gente que já morreu.
Ali, antigamente, tinha um bocado de cabaré. Era bom demais. Rua da Moeda, Vigário Tenório, Torre Malakoff... O Oceano Atlântico ficava ali na frente, ventilando, cheiroso, fazendo uma zoadinha. Tinha o Tonny Drink’s, o Capitólio, Night and Day... As meninas eram esguias, vestidinho curtinho, tamanquinho e rabo de cavalo. A boite estava aromática, ervas pelo chão, uma bola prateada girando à luz negra. A gente pagava 5 mil réis e tinha direito a uma dose de Ron Montilla com um limão escanchado na beira do copo. Recebia, também, um saco de pipoca milho em flor. Aí, veio uma camarada branquinha, sentou-se ao meu lado, apoiou o queixo sobre as mãos enclavinhadas e perguntou: - Tudo bem?
E eu, todo amostrado: Melhorou muito!
Pegou na minha mão, deu um cheiro na minha bochecha e me tirou pra dançar. A gente dançava solto, uns ritmos quentes, americanos. Quando ela ria, o rosto ficava todo iluminado, parecia que eu estava sonhando. Eu era maneiro, o sangue desintoxicado, todo novo. Nunca me esqueço desse sonho que já sonhei tantas vezes. Nunca me esqueço de que, quando fomos dormir, ela escovou os dentes. É a vida. Nem tudo a gente pode contar. O sexo ficou para a cama, e os segredos do amor, para o coração.
Onírico abraço!
Sosígenes Bittencourt

Monday, November 14, 2011

Quadro de Frases

Estão confundindo a minha lucidez com minha loucura.

Glauber Rocha

Sunday, November 13, 2011

Véspera de feriado

Hoje é uma segunda-feira, véspera de feriado. O que eu mais desejaria no Dia da Proclamação da República era que fosse proclamada outra república. Porque república vem de ‘res’+ ‘publica’, duas palavrinhas que significam ‘coisa pública’. E a maior inimiga da república é a corrupção, que quer dizer ‘transferência do que é público para o privado’. Li, outro dia, uma advertência para o homem público: Não faça na vida pública o que você faz na privada. Portanto, é momento de se pensar em República e Corrupção na pátria de Zé Carioca.
Mas, você sabe como é o brasileiro: véspera de feriado é feriado também. A macacada arruma as trouxas e bota pra molhar o bico. A menos que esteja dodói. Porque tem um bocado de gente com o cangaço na cama. Diz que é vírus. Deve ser por causa dessa variação de temperatura. Nunca se viu novembro assim. Esquenta e esfria, esfria e esquenta. De repente, faz um calor de fritar; depois, um frio de tilintar. O organismo perde autodefesa, dana-se a adoecer. Se bem que, no mundo, tem gente pra tudo. Há quem beba cachaça até pra dor de cotovelo.
Relaxado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Saturday, November 12, 2011

FRAGMENTOS

*Tensão na Rocinha não afasta turismo.
Turismo na Rocinha não afasta tensão.
*O técnico do Sport sonhou na Primeira Divisão.
Eu também sonhei...
*Carlos Lupi não é vontade de Dilma, é capricho do PDT.
*Quem exige amor, nunca é correspondido. Ninguém ama na marra.
*O aposentado anda com medo de que o aposentem do recebimento.
*No Brasil, a Esquerda e a Direita já não se matam pelo poder,
entram em conchavo.
*O controle remoto é recente, mas a sabedoria é remota.
*A galinha é uma inflação, inflada pela ração irracional que lhe dão.
*Uma vidente me disse que eu enricaria na velhice. Então, ainda estou muito jovem.
*Um dia, minha mãe descobriu que eu não mentia, fazia poesia.
*Quer saber o que são fragmentos? Estilhace um copo no chão.
Fragmentado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Fala, Vitória


ENTREVISTA NO AMÉLIA COELHO

Convite que me deixou muito contente foi o formulado pela profª. Selma, para conceder entrevista aos alunos do Curso Fundamental na Escola Amélia Coelho. Coisa decente de gente que leva a vida a sério. Educada, chegou-me ao portão e logo me seduziu, pela simplicidade do comportamento e carinho dispensado. Não titubiei, negócio fechado. O evento deu-se na sexta-feira, eu passeando de carro pra lá e pra cá. Só você vendo. A escola tem ares de coisa cuidada por mãe de verdade. Os alunos parecem filhos. O muro limpo, a entrada varrida, a biblioteca climatizada. As professoras sorridentes, denotando vocação para a educação e o ensino. Ensinar é transmitir conhecimentos, educar é burilar o caráter do indivíduo. Resultado: a entrevista virou uma palestra. Fiquei tão alegre com o que vi, tão motivado com o evento, que resolvi motivar os alunos. Falei mais sobre a vida e o universo em que estávamos vivendo do que a vida que levei. Sobretudo a importância da na caminhada da existência. Todavia, uma vez perguntado, falei sobre o meu trabalho de difusão cultural na cidade, minha inspiração literária e o meu entusiasmo pela educação. E terminei deixando-lhes um resumo de minha ampla visão profissional: Ensinar é, para mim, uma forma de conviver. Minha escola é o mundo.
Entusiasmado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Friday, November 11, 2011

Teledramaturgia no Trabalho

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, errou a profissão. Sua vocação para teledramaturgia poderia estar nas novelas da Globo. Arriscaria menos a reputação e ganharia um bom dinheiro.

Carlos Lupi deve ser resultado de compromisso político-partidário entre PT e PDT. Mas, se fazendo de desentendido, quando é acusado de conivência com irregularidades da pasta, Carlos fica puto da vida e dana-se a espernear. De tão atabalhoado, destila asneiras, relembrando assuntos que Dilma quer mais esquecer. Por exemplo, quando Carlos detona que só sai do Ministério à bala, na realidade não desafia Dilma - isso é tergiversação - contudo relembra uma esquerda perseguida, guerrilha, tortura, Ditadura Militar, uma série de baboseiras históricas que o momento político detestaria relembrar. Depois, quando convidado a rogar desculpas, Carlos se retrata e revela seu amor por Dilma. Outra tergiversação. Não é nada disso. Não há amor entre Carlos Lupi e Dilma Roussef, há acordo político-partidário. As palavras ideologia, esquerda, direita já não fazem parte do vocabulário político de nosso tempo, a palavra é “acordo”, cujo antônimo é "arenga". Ninguém dá o sangue nem mata por ideologia, na realidade cumpre compromissos. Por isso, Dilma deve estar muito injuriada com esses expedientes de Carlos, que parece não ouvir o pedido de “psiu” da presidente. Embora não querendo chamá-lo de desequilibrado, mas o ministro do Trabalho, que fala mais do que o homem da cobra, termina sendo demitido por falta de “equilíbrio” parlamentar.

Desastrado abraço!

Sosígenes Bittencourt

Thursday, November 10, 2011

Foto


OFEGANTE AFEGÃ

O retrato desta afegã está simplesmente cinematográfico! Flagrante de 1984, o clássico pertence à coleção de fotografias do fotógrafo estadunidense Steve McCurry, que acaba de ganhar um prêmio, exibindo 100 fotos em São Paulo. Chega dá vontade de ver o resto.

A menina parece um animal acuado, cujos olhos devem ressaltar o pânico que conduz n’alma. De tão fotojornalística, tão textual, já foi capa da National Geographic. De tão expectante, parece ofegar.

Ofegante abraço!

Sosígenes Bittencourt

Wednesday, November 09, 2011

No Dia da Audição

No Dia da Audição, é bom apurar os ouvidos. Já dizia o dramaturgo Nelson Rodrigues: O pior cego é o surdo. Deve ter querido dizer: o pior cego é aquele que não ouve o que se diz.

O povo costuma dizer que, se conselho fosse bom, não se dava, se vendia. Cá com meus botões, eu já acho que quem não ouve conselho, raras vezes acerta. Por exemplo, quanto conselho se dá para não se usar grampo, palito de fósforo, tampa de caneta e outros bregueços pérfurocontundentes, para cutucar os ouvidos. Agora mesmo, anda-se aconselhando não implantar fone de ouvido, no pavilhão auricular, como prótese sonora. Afinal, é bom preservar os ouvidos, porque são dois e uma boca, o que nos aconselha ouvir mais do que falar.

Voltaire dizia que tudo que entra pelo ouvido, vai direto ao coração, o que me levou a deduzir que o coração é a grande metáfora do amor. Porque o coração é o termômetro do sentimento, a mente é que ama. Portanto, não sejas mal-ouvido, ouve conselho, sobretudo os conselhos daqueles que te amam.

Mavioso abraço!

Sosígenes Bittencourt

Monday, November 07, 2011

Se a moda pega

A impressão é de que os alunos da USP querem se distrair. Vamos por princípio. Escola não é lugar de distração, escola é lugar de concentração. A Universidade é uma escola, não é parque de diversão. Depois, os alunos da USP que querem estudar, obviamente, não querem conviver com barulho, pessoas se drogando, nem cavalaria dentro das dependências da Universidade. Esse grupo de alunos que reivindica o direito de fumar maconha no campus universitário deve estar querendo atropelar o direito da maioria, ou seja, querem direitos especiais. Outro detalhe, conviver com drogado é uma coisa, conviver com pessoas se drogando é outra coisa. Eu não quero um animal se drogando na sala de minha residência. Ninguém pode me obrigar a aceitar um alcoólatra enchendo o latão de pinga junto de mim. Esses estudantes querem ficar de papo pro ar, dentro da Universidade, pitando marijuana, inalando crack, como se fosse direito a distração. Daqui a pouco, será direito fumar maconha na igreja, na sala de espera, no elevador, no velório, etc, etc. O que se pode esperar de uma pessoa que está se drogando? O imprevisível. O drogado não modifica o mundo, quem se modifica é ele. E você pode não querer ser visto por alguém que está vendo o mundo diferente. De repente, o cara pode pensar que você é o Cão do Terceiro Livro, que você é doido, que você é um fantasma, e aí? Imagine se a moda pega e todos têm o direito de fazer o que quiser nas escolas. Uma procissão de alunos adentrando a Faculdade, de maconha no bico. Todo mundo louco, se desabotoando, podendo imitar o coito em pé, embolando pelo chão, como as mulheres do deus Dionísio. Observe bem o que esses alunos que invadiram a Reitoria fizeram. Quebraram móveis, riscaram as paredes, lambuzaram tudo, como se estivessem em seu chiqueiro. Desconhecem que aquilo é bem público. Como é que querem ter direitos, atropelando direitos. Na Universidade tem aluno decente, tomado banho, trocado de roupa, exame de vista, livro debaixo do braço, querendo estudar e fazer o futuro. Gente que sente prazer em estudar. Porque estudar não dói, estudar é um movimento sublime d'alma, é fator de real amadurecimento da sociedade, de convivência saudável, semeadura da Democracia. O mundo espera tudo daqueles que estudam, confia naqueles que se formam, e não espera boa coisa daqueles que se drogam.

Equivocado abraço!

Sosígenes Bittencourt

Filmando o destino

Oxalá esteja na câmera do cinegrafista a imagem do seu algoz.
Pode-se imaginar que Gelson Domingos da Silva, de 46 anos, foi vítima de “aberratio ictus”, ou seja, morto fatalmente por um tiro direcionado a um policial. Quer dizer, erro quanto ao alvo. Contudo, não custa desconfiar de que o traficante tenha atirado no cinegrafista, na favela de Antares, Zona Oeste da Cidade outrora Maravilhosa. Relembremos Tim Lopes, torturado e incendiado porque bisbilhotava atividades de narcotraficantes no Rio. Esses funcionários do tráfico, que perderam o amor à vida, não sentem patavinas em relação à vida dos outros. Aliás, eles não matam porque usam drogas, matam para traficá-las. A revolta é com a contrariedade e julgam que matam em legítima defesa. Alguns são viciados e outros detestam. A questão é que droga virou mercadoria e tráfico virou meio de vida. Coisa de Terceiro Mundo, apregoada à falta de emprego, misturada com falta de educação. Gelson estava trabalhando, era um cara batalhador, não tinha nada a ver com o pato. A família confessa que Gelson saiu de casa, naquela manhã, rezando. Parece obra do destino, picardia dos deuses. Porque quem entende de estratégia de operacionalidade são aqueles policiais troncudos, pesadões, que sabem se safar de tiro, embolando pelo chão e se acocorando nas esquinas. É bom tomarem como exemplo. Cinegrafista, dia de domingo, no Rio, é pra se refrescar na orla marítima de Copacabana, empunhando chopp, namorando a vida, não para desafiar a morte. Porque esse negócio de tráfico, de nóia, não tem quem acabe, principalmente porque ninguém quer acabar.
Requiescat in pace!
Sosígenes Bittencourt

Saturday, November 05, 2011

Quadro de Frases

Faça amor, mas não faça ninguém.

Quem não nasce não sofre.

Quem não nasce não chora.

Quem não nasce não morre.

Moacyr Franco

Crise financeira e ilusões

Quando eu ouço falar em crise financeira, só penso numa série de palestras que tratam de 3 ilusões extremamente eufóricas, mas que exigem limites: a paixão, o dinheiro e o poder. Observe o ensaio sobre as palestras, resumido por Renato Janine Ribeiro:

"Vamos falar de pelo menos três ilusões: uma foi a dos valores vazios, que a crise depreciou, ao preço de inúmeras falências; outra é a do amor-paixão, que nos faz atribuir todas as perfeições a uma pessoa que, obviamente, não pode ser tanta coisa assim; e a ilusão do poder, que nos engana sobre os outros: quem manda sente vaidade, quem o cerca o bajula. Ora, nosso mundo não consegue um entusiasmo que não seja eufórico. Mas um entusiasmo assim é ilusório. É possível viver sem ilusões? Penso que não é mais esta a questão, e sim: É necessário viver com menos ilusões."

Mas, sobre a questão financeira, em rápidas pinceladas, Renato fala sobre "como que menos é mais e como que mais é menos". E vira-se para a plateia, assegurando que muitos dos que ali estão, estariam gastando muito mais do que o necessário para sobreviver. Depois, que era preciso certas perdas, certos prejuízos, para uma retomada de vida mais consistente, onde o menos seria mais, depois que o mais passou a ser menos. Isso não só serve para a Europa, que vive uma crise, considerada por Delfim Neto como antiga, mas para as pessoas de um modo geral.
Econômico abraço!
Sosígenes Bittencourt

Friday, November 04, 2011

Sport 4, Boa Esporte 1

Não foi uma boa o que aconteceu com o Boa, mas foi uma boa o que aconteceu com o Sport. O que não é uma boa é pensar que o Sport, por causa dessa goleada, irá para o Grupo dos 4. Não. Ele irá para o Grupo dos 4, se fizer o que não fez durante o Campeonato: Gol! O Sport estava com fastio desde que meteu 4 gols no Vitória da Bahia. Contra o Náutico, por exemplo, foi um time apático. Aliás, o Sport não é um time, é um bando de jogadores. E bandoleiros. O que a diretoria não entendeu é que os bandoleiros não quiseram jogar com PC Gusmão. Esperou demais para mandá-lo embora. Jogador de futebol tem essa safadeza. Agora, dizer que o Sport irá para o Grupo dos 4, por causa desta proeza, é precoce. Vai depender de boa vontade. Elenco tem, mas é preciso garra e arrumação tática. O grupo precisa ser um time, não um bando de jogadores. Por que foi que resolveram jogar, ontem, depois que a vaca já está indo pro brejo, e não o fizeram antes? Júnior Viçosa sabe, ou não sabe fazer gol? Com a resposta a Diretoria do Sport.

Rubro e Negro abraço!

Sosígenes Bittencourt

Wednesday, November 02, 2011

Passa o Dia de Finados

Passa o Dia de Finados. Finda o Dia de Finados.
E ninguém vê finados. Porque finados findaram,
não têm hora, dia, tempo, mais nada...

Passa o Dia de Finados
tão rápido quanto fora a vida dos finados.

Ninguém desejaria que os finados voltassem
ao mundo para findar outra vez.
Já nos basta morrer uma vez.
Porque só os finados estão livres da morte.
Sobretudo, do medo da morte.

Seria suprema malvadeza do destino nos impor
mais de um fim, embora morra nossa infância,
nossa adolescência, nossa mocidade
e sigamos vivos, vivos até o fim derradeiro.

Passa o Dia de Finados.
E perpassam os finados que conhecemos.
Parece até que os vemos.
De preferência, sorrindo. O mesmo jeito,
a mesma voz, os trejeitos, o figurino.
Nós é que ficamos tão diferentes. Talvez,
nem soubéssemos conversar com os finados,
como antigamente.

Sosígenes Bittencourt

Quadro de Frases



Minha sepultura será o ar insondável.

Jorge Luis Borges

Tuesday, November 01, 2011

Dia de Finados

No Dia de Finados, choramos por nossos mortos e por nós mesmos um dia.
Sosígenes Bittencourt

Eu fui como tu és, e tu serás como eu sou.
Inscrição tumular