Vai-se o São João
Vai-se o São João. E o amontoamos entre os São Joões que passamos. Fogueirinhas preguiçosas, resto de cinza, camisa quadriculada, retalhos de vidas. Uma boca bordada na pele, cotocos de cigarro, ebriedade, fuxico. Nenhuma santidade em nome do santo. Ninguém quer ir para o céu, por isso mistura história de santo com samba do crioulo doido. George Bernanos dizia: A santidade é uma aventura, ela é mesmo a única aventura.
O passado e o futuro são dois tempos que não existem. Somos feitos de agoras. O presente é a conversão instantânea e fugaz do futuro em passado. Ninguém quer pensar, o tempo todo, no tempo. Quem pensa nisso, sofre de aperto no peito, cuja palavra alemã é “angst”, ou seja, angústia, cá entre nós.
Ninguém pense em morrer para ganhar a Eternidade. A Eternidade é o tempo todo, é agora, nós sempre estivemos e estaremos na Eternidade.
Acabamos de misturar a reclusão da divindade com acordes de sanfona e comezaina de milho. A ascese do santo, sua oração e sacrifício com espoucar de fogos de artifício.
Vai-se o São João. E o amontoamos entre os São Joões que passamos.
Sosígenes Bittencourt
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