O Bar da Cocheira fica como quem vai para o Matadouro. É
uma casa de família. O barzinho é um fundo de quintal, de dona Léo de Zé Pedreiro.
Quando bate a tardinha, sobe aquele aroma adocicado de chiqueiro de porco, relembrando
a década de sessenta. Zé Pedreiro não diz nadinha, pai das meninas, de mulheres
diferentes, todas contentes. A mais velha deve ser Maria de Nazaré, loirinha,
meio sofrida por uma paixão que se acabou. Na televisão, toca até Zezo dos
Teclados, com aquela gemedeira romântica que faz a mulherada querer beijar na
boca. Tem dobradinha, quiabada, sarapatel, tripinha de “pôico”, tudo no estrinque.
Chega dá vontade de tomar uma lapada de cachaça e passar a boca na manga da
camisa. Todo ser humano tem um maloqueiro dentro do peito. Sobretudo se nasceu
no interior, no tempo que fazer sexo era pecado e urinar na rua era falta de educação.
Deus me defenda! No tempo que mulher da vida chamava-se rapariga e tinha mais
vergonha na cara do que a geração de Malhação. Morreram quase todas. Outro dia,
eu vi Maria Guarda-Roupa.
O Bar de dona Léo fica lá na esquina, como quem vai para o
Matadouro. As meninas descem da Faculdade e vão beber cerveja. Tem até
estudante de Pedagogia. Umas meninas sabidas, falantes, de batom, cabelo na
escova e sadália de dedinho. Se não fosse isso, a vida seria muito chata.
Sosígenes Bittencourt
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