Quando fui a São Paulo, em minha
viagem inaugural, não confiei nos efeitos lentos da cerveja, ensopei-me de
vinho. Talvez, não tenha morrido de medo, porque a aeromoça parecia um anjo, o
que me lembrava mais o paraíso eterno do que as coivaras medonhas da morada de
Satanás.
O zumbido do avião, as luzinhas lá
embaixo, tremeluzindo na escuridão, as macaquices sobre como preparar-se para
um pouso forçado eram de estimular a peristalse intestinal.
Quando me
lembrava de Ariano Suassuna, sentia vontade de pedir para parar. Ariano dizia
que “não ficava abismado quando um avião caía, ficava impressionado quando ele
subia”. Mas, ao imaginar o seu rosto magro e pálido, afundado em sua cadeira de
balanço, logo me voltava para a aeromoça loira e de tez angelical, rogando-lhe
mais um Chateau. Imagine se soubesse que há gambiarras no Sindacta 1 e Zona
Cega do norte de Mato Grosso à Bahia, sem “salvador”...
Como senti
temores aeronáuticos, aprisionado na gigantesca geringonça que me levava para
São Paulo... Ao sair de Recife, vi a orla marítima de Boa Viagem se
distanciando, com sua grinalda de espuma à beira-mar. Ao começar a descer sobre
a capital bandeirante, vi um mundaréu de edifícios embaçados por cinzentas
nuvens de chuva. O ranger do avião parecia uma sentença para aqueles executivos
ainda ressonando ao lado. Não tem quem não rogue a Deus vigiar por nós, contra
as maquinações do Diabo.
Ao sair, a
aeromoça: - Fez boa viagem, senhor?
E eu, livre e
contente: - Sobrevoando as nuvens, ao seu lado, eu me senti no céu.
Aí, minha colega
ao lado: - Já estás conversando besteira.
Sosígenes
Bittencourt
1 comment:
Very nice bllog you have here
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