Monday, July 31, 2006

O Assassino de Estimação


Quantas pessoas estão convivendo com os seus futuros assassinos e não o enxergam no cotidiano de suas vidas. Os parentes, vizinhos, amantes, os que convivem. Quem mandou aquela mulher que foi para a Espanha, deixar sua filha com o seu irmão, aqui em Recife? Jamais enxergou no olhar, na expressão fisionômica, nas palavras um lampejo que denunciasse o algoz de sua própria filha? Não. Havia um véu que encobria o ricto macabro do tio que conhecia os motivos de querer trucidá-la. Sua psicopatia, sua natureza anti-social disfarçava, na sombra, no silêncio, o ódio insuportável, o irrefreável desejo de matar. Nem nós outros, abismados diante da tela do televisor, indignados, conseguimos entrever na face, no depoimento injustificado do verdugo, o desfecho, a leitura retrospectiva do crime.
Quantas mulheres estão tomando o café da manhã, ao lado dos seus futuros criminosos... Dormem juntos, se beijam, produzem filhos, vítima e homicida irmanados.
Ilana Casoy, escritora e pesquisadora do crime, que publicou “O Quinto Mandamento – Caso de Polícia” (que aborda Suzane von Richthofen) – faz importantes observações sobre pessoas que matam. “O criminoso não tem cara, não tem jeito, não tem estereótipo. A psicopatia, o transtorno anti-social que eles sofrem é uma perturbação que faz o indivíduo entender com a razão o que está fazendo, mas não com a emoção – ele não tem controle sobre seus desejos.” . Não que se pretenda espalhar o pânico, mas muitas mulheres ameaçadas por seus amantes, morrem por arrogância, porque acham que são capazes de modificá-los, domá-los, dominá-los, e aí aceitam o seu perdão, continuando a conviver sob constantes ameaças. A dura realidade vem depois, quando, consumado o ato, não se arrependem por suas vítimas.
Sosígenes Bittencourt

No comments: