Sem vida noturna
Cadê a vida noturna de Vitória de Santo Antão? Onde comer carne na brasa com aquela cerveja com sabor de cerveja, como fazíamos em Zefinha Menezes, na zona de baixo meretrício? Onde reencontrar a paz do cabaré de antigamente? Havia normas mais rígidas do que na Praça Leão Coroado de hoje. Mulher ocupada não olhava nem de lado. Homem que levava rapariga ao quarto, para imitar o ato da procriação, não podia passar seixo. Doença que se pegava, eventualmente, curava-se com Tetrex. Ninguém portava arma de fogo, e instrumento perfurocortante era para descascar laranja. Todo mundo conhecia todo mundo, e os valentões só se engalfinhavam quando ouviam pilhéria e eram cantados para brigar. Alguns ficaram famosos por lutas históricas e cinematográficas. Mão de Onça, Didi da Bicicleta, Para-rama e Biu Laxixa. Contam que, um dia, Biu arretou-se e brigou com a população todinha, lá na Praça 3 de Agosto. Mas, era só. Ninguém vivia assustado como hoje em dia. Quando passa das 10h da noite, o povo corre para dentro de casa como baratas dedetizadas se enfiassem em suas malocas. A rua Primitivo de Miranda parece um navio que afundou. Cadê a dança no Salão Azul? Mulheres de saia, o quadril arredondado, dançarinas e amantes. Mére de Escada, Creuza Galega, Maria Guarda-Roupa, Nazid, Juliana e Monolita? Até Francisco Petrônio, com sua voz aveludada, era requisitado na radiola portátil. As composições eram verdadeiros poemas musicados. Guisado de boi sem anabolizante, com macaxeira sem agrotóxico, lá em Sitonho. Safoneiros, violonistas. Cacareco, caminhoneiro e palhaço de circo, junto com Albino Santana, relembrando modas antigas, celebrizadas por Altemar Dutra, Aguinaldo Timóteo e Nelson Gonçalves. Cervejas geladíssimas, em copo americano; não essa química rala, morna, servida em copo de matéria plástica. Cadê aquela cozinheira que gostou de um velho, lá de Caruaru, e danou-se no meio do mundo? Eita, saudade!...
Sosígenes Bittencourt
3 comments:
Gostaria de ter vivenciado esta época, onde ainda existia boemia.
Perfeita esta crônica...fiquei com saudades do que não vivi. Mas lembrei de meu pai.
Esse foi um tempo o qual até quem não usufruiu sente uma vaga saudade do que nunca passou. Sempre que puder, estarei revivendo aqueles bons tempos, para quem gosta do lado literário da vida. Por isso digo: vivo dividido entre duas literaturas, a escrita e a vida real.
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