Sou
da “era do silêncio”, quando se tinha tempo de pensar no tempo e naquilo que se
pensava.
Sou
do tempo que comida tinha gosto de comida. Tomate, por exemplo, não tinha gosto
de xarope.
Eu comi ovo de galinha séria e bebi leite de vaca decente. As
galinhas eram criadas soltas, pulando cerca e comendo minhoca. As vacas não
tomavam anabolizante, não eram avacalhadas pelos seus criadores.
Nunca mais eu vi uma laranja-de-umbigo. Essa laranja dá à
luz uma laranjinha protuberante e dentro de uma cavidade, parecendo um peitinho
desabrochando. Dulcíssima que nem um favo de mel. Chega dá gosto.
Sosígenes Bittencourt
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Nunca mais eu vi um maracujá-açu. A gente abria uma das extremidades, colocava açúcar e sentava no chão, pra comer de papo pro ar. As tardes escorriam lentamente, dava para ouvir o tic-tac do relógio de parede, acompanhar a réstia do sol atravessando a cristaleira. Minha avó queria que eu lesse a página policial do jornal, e eu imitava o locutor da Rádio Tamandaré.
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