Wednesday, July 30, 2014

NOSTALGIA E MELANCOLIA



Os gregos designavam NOSTALGIA como a dor dos que viajam, a dor dos navegantes, de "nostós" e "algós" - viagem e dor. Ora, a nostalgia é a saudade que dói, mas a recordação de um prazer, a lembrança daquilo que se distanciou. Diferente da MELANCOLIA, que é a saudade que dói, mas uma recordação daquilo que poderia ter sido e não foi. Melancolia significa "tristeza", "melané" "kholé" - "bile" "negra", da qual originava-se a "dor", produzida pelo baço. É uma imaginação e uma desilusão.

Ora, um encontro, em setembro, reunirá amigos da geração dos anos 60. Nosso encontro pode gerar NOSTALGIA, uma saudade de algo que efetivamente aconteceu, e uma MELANCOLIA, algo que deixou de acontecer.

Contudo, essas dores poderão ser suavizadas pela poesia que as envolverá. E da dor, brotará a beleza. O poeta alemão Wolghang Goethe dizia: Faz da tua dor um poema, e ela será suavizada.

Sosígenes Bittencourt

Monday, July 28, 2014

UM CERTO MÊS DE JULHO



Exatamente no mês que faz 59 anos que fui dado à luz, perco 3 seres humanos do mesmo ofício. Porque ninguém se diploma na arte de escrever. Escrever é destino, é-se escritor desde menino.

No dia do meu aniversário, 19 de julho, dia em que comemorei 59 anos que morreram, ou seja, que afundaram na escuridão do passado para nunca mais voltar, faleceu o escritor Rubem Alves, um dos defensores da ideia de que o aniversário não comemora anos de vida, comemora anos que morreram. Daí, o apagar as luzes e soprar uma velinha no escuro.

Isso, depois de haver contabilizado a morte, já no dia 18, do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, uma inteligência notável pelo bom aproveitamento na faina de ler e escrever, e um palestrante das ruas e mesas de bar, característica de quem nasceu para criar personagens e viver como um ator no palco da existência.

E como se não bastasse, logo em seguida, no dia 24, a morte encena a peça de conduzir o escritor Ariano Suassuna à morada eterna. Ariano falecido é um morto que nos permite sonhar, um morto que fala sem emitir palavras, de tanto que comemorou a vida, fazendo da existência uma narrativa, transformando os dias numa palestra.

Enfim, Esses cidadãos não tinham problema com a morte, tinham compromisso com a vida. E se perpetuaram através de suas obras. Deram-se o direito de morrer sem jamais serem esquecidos, concedendo o legado de suas inteligências “urbe et orbe” – à cidade e o mundo.

Sosígenes Bittencourt

Sunday, July 27, 2014

CARTA DO MEU AVÔ A SEUS FILHOS



Vitória de Santo Antão, 1 de Novembro de 1957

Meus filhos Sóflocles, Sócrates e Simônides

Sentindo-me irremediavelmente doente, peço-lhes, paternalmente, receber e cumprir os meus últimos conselhos. Procurem seguir, sempre, a diretriz da honra e do dever, procurando trabalhar, dignamente, em benefício próprio e da família. Auxiliem-se mutuamente, em caso de necessidade, vivendo em harmonia, unidos, pois a união é uma força indestrutível. Saibam, sempre, desculpar e perdoar ofensas. O perdão não humilha; ao contrário, dignifica. Ouçam os conselhos de sua mãe, a quem tudo devem. Os conselhos maternos devem ser ouvidos e acatados. Detestem bebidas alcoólicas. O álcool conduz ao crime e à miséria: é o maior inimigo da humanidade.

Seu pai, Felippe Bittencourt

Saturday, July 26, 2014

O HOMEM ACHA A PAZ CHATA



A guerra é o cúmulo da insanidade coletiva, é a única disputa em que não há vencedor. A guerra é a legalidade do crime. Pergunta a quem perdeu um filho, sobre a vitória. Quem foi o vencedor da guerra que levou um ente querido? Os latinos diziam: SI VIS PACEM PARA BELLUM, ou seja, se queres a paz, prepara-te para a guerra. Por que não disseram SI VIS PACEM PARA PACEM, se queres a paz, prepara-te para a paz.
O homem acha a paz chata, por isso inventou a guerra, que é mais emocionante. O mundo conspira contra a paz, seduzido pelos motivos de sofrimento. O ser humano é um escravo cerebral das sensações, dependente químico das emoções existenciais mais impactantes. Acha mais emocionante a luta do que a comunhão. Gosta da paixão, embora sofra, desprezando o cultivo do amor, que é manso e sereno. Quando alguém mais brando diz que ama, o contemplado se abusa, enjoa. Prefere alguém prepotente que disfarça, atordoa, fere. Os cristãos disputam Jesus no grito, se dividem em nome do Senhor. O ninho dos profetas, a pátria das religiões é um barril de pólvora. Os regimes teocráticos são assassinos. As Coreias, desenvolvidas, reconstruídas com base na disciplina e na educação, sentem saudade da guerra, arengam tanto quanto as cubatas africanas, antros de ladrões, analfabetos e miseráveis. A mídia vende mais desastres ecológicos, conflitos humanos, crimes, catástrofes, porque o coração humano se emociona e prestigia. Por mais que o mundo produza bens e serviços, evolua científica e tecnologicamente, a paz parece, a cada aurora, mais distante.
Caótico abraço!
Sosígenes Bittencourt

Wednesday, July 23, 2014

MORTE DE ARIANO


 
Imagino Ariano Suassuna entrando no céu.

Surge Uma Mulher Vestida de Sol e pergunta:

- Ariano, você sabia que morreu?

E o artesão do Auto da Compadecida:

- E quem foi que nasceu pra não morrer?

Sosígenes Bittencourt