Embora estivesse a negócio, eu vi o mar. O automóvel
contornava a orla marítima de Boa Viagem, e senti a vibração coronariana e
pulmonar e renal de estar a passear. Tudo mudava. Os negócios a resolver submetidos
à vontade de nadar, uma espécie de ovação aos versos de Fernando Pessoa:
Navegar é preciso, viver não é preciso.
E aí, eu me lembrei de que o mar me faz
pensar em Deus, o que me encoraja a viver e, talvez, me encoraje a morrer. E me
acorreram duas outras orações de espetacular inspiração: As árvores são os
braços que sustentam o céu, e o mar é o espelho líquido do infinito.
Passavam as árvores, como criaturas acenando, e o sol
derramava sua luz aloirada sobre o ondear do oceano.
Boa tarde, Recife, o meu coração ia cantando e relembrando
velhos carnavais, clarins, velhos são joões, rojões e arraias, monumentos antigos,
sargaço e quintais.
Veio o vento e suspendeu o vestido da banhista
displicente que nunca saberá o quanto fiquei contente.
A vida é assim mesmo,
uma vez vivos no mundo, não tem mais jeito, o jeito que tem é viver.
Oceânico abraço!
Sosígenes Bittencourt
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