Eis-me em 1956, inalando, há um ano,
o oxigênio. Porquanto, sem o oxigênio
morreríamos; por causa do oxigênio,
morreremos.
Arrimado a uma caneta,
eis minhas primeiras impressões das letras.
O A parecia um par de pernas arqueadas.
O B, uma mulher grávida.
O C me lembrava uma ferradura: às vezes, uma lua.
O D me lembrava um algarismo romano, sisudo como um Cardeal.
O E me sugeria um tridente.
O F era todinho uma seta apontando.
O G parecia um pilar.
O H era um trampolim pra se balançar.
O I, enfermo, cadavérico como um tuberculoso.
O J parecia uma sereia.
O L lembrava um canto de parede. Chega dava preguiça.
O M era um aracnídeo.
O N, um zigue-zague.
O O dava pra ser do orbe terráqueo ao esfíncter anal.
O P parecia um estandarte.
O Q, um bichano, de costas.
O R parecia uma postura, um exercício físico.
O S, um chicote.
O T era, tranqüilo, um martelo; às vezes, um poste.
O U me lembrava um jarro.
O V, o gesto de erguer os braços.
O X, a suástica, a cruz gamada.
O Z parecia um raio.
Ainda tinha o W, que me lembrava um castiçal,
e o Y, que era escritinho uma mulher.
Sosígenes Bittencourt