O Jogo do Bicho e o FGTS

Minha avó paterna morreu com mais de 80 anos, jogou no Bicho a vida inteira e jamais deixou de receber o prêmio todas as vezes em que acertou no quinto. Ao longo de minha vida, também nunca ouvi falar de um calote da Banca. Em abril de 1994, o cambista José Pergentino deu a seguinte declaração ao Diário de Pernambuco: “Joguei no bicho a vintém, para minha mãe. É a coisa mais lícita do mundo, principalmente em Pernambuco.” Nesta mesma edição do DP, o secretário da Segurança Pública, Augusto Costa, dizia não ver nenhum problema em fazer uma fezinha no avestruz, na águia ou no cachorro.
Certa vez, ao me encomendarem uma frase sobre o Jogo do Bicho, eu nem hesitei: O Jogo do Bicho é a coisa mais honesta do mundo; desonestos são nossos sonhos. E até hoje, não vi ninguém discordar da reflexão. Por outro lado, conheço as histórias mais escalafobéticas sobre a sorte de pessoas que melhoraram na vida a partir de uma milhar jogada no Bicho. A coisa é tão séria que ninguém confia na sua legalização. Principalmente, quando quem fareja é a Caixa Econômica Federal. Qual o cambista que desejaria ver o Jogo do Bicho legalizado pela CEF? Ninguém quer nem ouvir falar na “estatização” da contravenção mais praticada no país. A população vive escaldada de Salário Mínimo, Previdência Social e FGTS. O cara trabalha 35 anos para receber o FGTS e, na hora H, é uma burocracia da gota para ensacar o próprio dinheiro. Haja vista a moda de pagar o FGTS em suaves parcelas semestrais, como se o dinheiro não estivesse depositado ou não pertencesse ao trabalhador. De onde viria tal autoridade? Dizem que por trás do Jogo do Bicho há traficantes e assassinos. Mas, onde não há? Será que no meio político não há? Na Medicina? Na Advocacia? Será? Isso, sim, é que é uma zebra.

Sosígenes Bittencourt