Monday, June 04, 2012

Licor de Jenipapo

Acabei de ganhar uma garrafa de Licor de Jenipapo. Fazia tempo que eu não tomava um licor caseiro. Começo a prelibar, antegozar o momento de bebericá-lo, imaginando-lhe o gosto, pelo olfato. Não se pode destampar uma garrafa de licor, no vexame, sem o menor pudor, ou sem a inteligência de botar pra sonhar. É preciso ser feliz, usufruir desse momento, porque a felicidade não é um grande evento, ela é feita de pequenas felicidades. Eu também me senti muito feliz ao esbarrar no portão, de olhos pendurados numa mulher que estava desfilando em frente aqui de casa. A mulher era tão bonita, tão cheirosa, entonada numa jeans de marca, com um sapato branco e o decote fazendo sanefa no horizonte dos seios, que eu fiquei abestalhado. Deu a impressão de que o amor não é uma ideia, é o instinto. Não é possível ser infeliz, com tantas felicidades encangadinhas umas nas outras. Basta prestar a atenção.
Fui ao computador e imprimi um adesivo, com o registro do presente: Licor de Jenipapo. E ainda fiz uma graça, imprimi um jenipapinho e colei no pescoço da garrafa. Eu não sei quem disse àquela menina que ela tem uma boca licorosa. Eu penso que é hormônio que trescala. Penso que seria excepcional tomar uma delicada mordida no nariz antes de beijá-la.
O jenipapo é uma fruta da família das rubiáceas, mesma família botânica que produz o grão para fazer café. Em Guarani, significa “fruta para pintar”. Ora, se você ganhou alguma coisa, faça o mesmo, pinte com palavras o que você sentiu. Como diria o poeta Affonso Romano de Sant’Anna: Arte e vida se misturam. Fantasia e realidade se acrescentam.
Sosígenes Bittencourt

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