Por causa de umas bolinhas de gude
Terça-feira é dia de nada. Nem um joguinho de futebol para a gente se aperrear. Resolvi, então, dar prosseguimento àquele trabalho artesanal em minha biblioteca-dormitório. Como precisava de umas bolinhas de gude, tomei banho, troquei de roupa, botei perfume e fui à feira de bugigangas da cidade. Lá tem um mundaréu de coisas, de CD de Saia Rodada a fumo de rolo e Sarapatel pra tirar o gosto da cachaça. E tem umas meninas nos corredores, convidando clientes a se sentirem mais jovens: - Diga, moço! Diga, moço! – balançando as mercadorias na cara da gente.
Mas, voltando às bolinhas de gude, no meu tempo tinha até bolinhas do tipo carioca e carambola. Bonitas que só. E lá vou eu, alegre que nem um fedelho, comprar meu brinquedo para enfeitar minha biblioteca-dormitório. Não estava fazendo nada de mais. Foi quando, de repente, explodiu aquele “tebêi” na minha testa. Uma pancada surda, forte, contundente, que eu só via uma mocinha na minha frente, sentada num tamborete, com a testa franzida e a cara pálida de espanto. Rápido, como um raio, um matuto corria por dentro do beco, com uma máquina de costura na cabeça.
Recobrada a noção das coisas, embora a mocinha ainda ondulasse naquele cantinho, como num sonho, segui em frente. Finalmente, mais atento, cheguei a uma barraca de brinquedos, onde encontrei as tais bolinhas que procurava. A moça, extremamente delicada, olhou para o meu rosto e revelou: - Moço, sua testa está cortada.
- Eu sei, minha filha. A como são essas bolinhas de gude?
- Moço, deixe eu pegar alguma coisa para o senhor limpar a sua testa?
- Obrigado, boneca! Eu queria umas bolinhas mais escuras, você tem?
- Olhe, tem esses saquinhos de 1 real, com bolinhas maiores e bolinhas menores – sem parar de olhar para minha face arranhada, minando sangue.
Efetuei minha compra, ela me ofereceu mais uma “tirambeca” de papel higiênico, eu enxuguei o sangue e saí por ali, pensando: Que bom que o mundo fosse governado pelas mulheres.
Já um pouco mais na frente, onde parei para comprar um CD, uns rapazes, que tomaram conhecimento do fato, tagarelavam sobre o assunto: - Eu queria que fosse na cara de minha mãe!
O outro: - Um cara correndo por aqui, com uma máquina na cabeça, só pode ser um ladrão!
- Se fosse comigo, eu tomava a máquina e lascava a cabeça dele.
Foi quando amenizei: - Mas, a vida é assim mesmo, ainda bem que foi na cabeça de um cidadão ainda jovem, pior se fosse na cabeça de um velho.
Risadagem geral!
Sosígenes Bittencourt
No comments:
Post a Comment