Nunca mais eu vi Suely.
Desde a década de 70 que eu não vejo Suely. Suely morava naquela rua ao lado da
Praça Duque de Caxias – na calçada onde foi um banco e depois um supermercado.
Suely era bonitinha que
era danada, tinha cheiro de mulher no rosto, no ombro, na cortina dos cabelos.
Sei lá, talvez um cheiro de lençol, de quarto de dormir. Olhos semicerrados,
lânguidos, pelos amarelinhos nos braços e duas pernas saudáveis.
Naqueles idos, quando
tudo era proibido, rapaz não cheirava moça sem sentir sensação de amar. Sensorialmente,
depois de olhar, o amor entrava pelo olfato, ia direto ao coração. Muitas
vezes, vendo a tarde escorrer lentamente, ficava matutando... se eu casasse com
Suely, ia ficar chamando, o tempo todo, pelo seu nome: Suely... Suely... nome
adocicado, sibilante, feminino que só, parece um assovio.
Suely foi o meu
primeiro estremecimento de amor. Eu não sei o que ela sentia. Eu ficava calado,
só mancuricando, com medo de dizer besteira, gaizo. O difícil em conquistar uma
mulher bonita é que o coração atrapalha o raciocínio.
Sosígenes Bittencourt
2 comments:
É verdade professor. A emoção ultrapassa a razão.
A emoção dá-se muito rapidamente, a razão é lenta, baixa devagar como um paraquedas.
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