Exatamente no mês que faz 59 anos que fui dado à luz,
perco 3 seres humanos do mesmo ofício. Porque ninguém se diploma na arte de
escrever. Escrever é destino, é-se escritor desde menino.
No dia do meu aniversário, 19 de julho, dia em que
comemorei 59 anos que morreram, ou seja, que afundaram na escuridão do passado
para nunca mais voltar, faleceu o escritor Rubem Alves, um dos defensores da
ideia de que o aniversário não comemora anos de vida, comemora anos que
morreram. Daí, o apagar as luzes e soprar uma velinha no escuro.
Isso, depois de haver contabilizado a morte, já no dia
18, do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, uma inteligência notável pelo bom
aproveitamento na faina de ler e escrever, e um palestrante das ruas e mesas de
bar, característica de quem nasceu para criar personagens e viver como um ator
no palco da existência.
E como se não bastasse, logo em seguida, no dia 24, a
morte encena a peça de conduzir o escritor Ariano Suassuna à morada eterna. Ariano
falecido é um morto que nos permite sonhar, um morto que fala sem emitir
palavras, de tanto que comemorou a vida, fazendo da existência uma narrativa,
transformando os dias numa palestra.
Enfim, Esses cidadãos não tinham problema com a morte,
tinham compromisso com a vida. E se perpetuaram através de suas obras. Deram-se
o direito de morrer sem jamais serem esquecidos, concedendo o legado de suas
inteligências “urbe et orbe” – à cidade e o mundo.
Sosígenes Bittencourt
2 comments:
Agora, quando alguém faz aniversário, todos festejam, se alegram e riem. Por quê? Por causa do nosso sistema límbico, responsável pela memória emocional. Tanto porque diante de um morto, todos choram, pela memória que guardam do primeiro morto. Mas, no entanto, um aniversário é um tempo que morreu assim como uma morte. Se nascêssemos, vendo gente chorando nas festas e rindo nos sepultamentos, ainda hoje estaríamos experimentando essas emoções. Compreende?
O aniversário, ao contrário de comemorar a vida, comemora um tempo que morreu. Por isso, tão bem simbolizado pela velinha que você apaga na escuridão. Porque é, na realidade, a despedida de um tempo que foi e nunca mais será. O passado é o destino, porque é o que se cumpriu e não há possibilidade de modificá-lo. O passado é eterno, porque é um tempo que não tem princípio nem fim, não há como reiniciá-lo nem terminá-lo. Palmas e muito obrigado!
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