Saturday, August 01, 2015

MANHÃ DE SÁBADO

Manhã de sábado. O celular toca:
- Está onde, professor?
- Viajando, minha filha.
- Viajando onde?
- Em minha casa.
- E sua casa anda?
- Não, estou lendo Manuel Bandeira.
- E o senhor viaja, quando lê, é?
- Tem gente que viaja cheirando loló.
- Então leia pra mim.
- Veja essa, por exemplo:
BRISA
Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina.
Forte abraço!
Sosígenes Bittencourt

1 comment:

Sosígenes Bittencourt said...

A poesia é uma droga que embriaga, mas não impede o caminho da volta; antes, ela é o bom fruto da embriaguez da lucidez.
Para viajar, não é preciso sair de casa. Em casa, podemos empreender uma viagem mais emocionante, como na montanha, no bosque ou no deserto "per aspera ad astra" (às estrelas por ásperos caminhos).
Vejo poesia em tudo, por isso ando pelo cantinho da calçada.