Manhã de sábado. O celular toca:
- Está
onde, professor?
- Viajando,
minha filha.
- Viajando
onde?
- Em minha
casa.
- E sua
casa anda?
- Não,
estou lendo Manuel Bandeira.
- E o
senhor viaja, quando lê, é?
- Tem gente
que viaja cheirando loló.
- Então
leia pra mim.
- Veja
essa, por exemplo:
BRISA
Vamos
viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei
aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás
aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui
faz muito calor.
No
Nordeste faz calor também.
Mas lá
tem brisa:
Vamos
viver de brisa, Anarina.
Forte
abraço!
Sosígenes
Bittencourt
1 comment:
A poesia é uma droga que embriaga, mas não impede o caminho da volta; antes, ela é o bom fruto da embriaguez da lucidez.
Para viajar, não é preciso sair de casa. Em casa, podemos empreender uma viagem mais emocionante, como na montanha, no bosque ou no deserto "per aspera ad astra" (às estrelas por ásperos caminhos).
Vejo poesia em tudo, por isso ando pelo cantinho da calçada.
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