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Sou do tempo em que não se matava juiz. Sou do tempo em que juiz não tinha automóvel e podia desfilar tranquilamente pela calçada. Quando apontava numa esquina, todos iam para a orla do meio-fio, para ceder-lhe a passarela. Um juiz era do tamanho de um padre. Tinha gente que lhe pedia a bênção. Naqueles idos, a norma era introjetada pelo temor. Quem urinasse fora do caco, ia pro castigo. Criança aprendia a respeitar com medo da punição. Mas, sobretudo, havia autoridade. Ou seja, a norma ditada era embasada no exemplo. Aquilo que se proibia não se praticava. Dizia-se para um adolescente: - Você não sai de casa esse final de semana, porque você me desobedeceu. O condenado botava o pijama e se reconciliava com o juiz do lar. Porque a casa não era só a de alvenaria, era também uma pré-escola, um treinamento para a vida em sociedade.
Hoje, uma juíza é ameaçada por condenados e fuzilada na porta de casa, porque fora sentenciada por um fora da lei. A assombrosa reflexão que fica é a da falta de autoridade. Falta de autoridade que pressupõe falta de exemplo e promove o desrespeito. Não falamos em relação à juíza morta, que queria aplicar a lei, referimo-nos à autoridade pública. A magistratura está sendo desrespeitada. E se ninguém respeita um juiz, o que farão conosco? Por isso, uma professora leva cadeirada na escola, uma filha junta-se ao namorado para roubar os próprios pais, um ancião estupra uma criança, e tudo mais.
Enfim, não seria assombroso chegar à conclusão de que ser juiz é uma imprudência? A juíza não lançou mão da escolta a que tinha direito e foi sacrificada. E nós, que fechamos nossas portas com ferrolho? O que acontecerá conosco se alguém de maus bofes quiser nos matar? Seria preciso que Deus estivesse na guarita. Quer dizer, se Deus não velar pela cidade, de nada adiantará a vigília da sentinela.
Escatológico abraço!
Sosígenes Bittencourt
2 comments:
é meu irmãozinho, e agora? e agora josé?...estamos presos em nossos próprios calabouços!!! tem nada não, deixe estar, porque o mal por si só se destroi.
O mal contém, em si, o próprio castigo. Não sei como há pessoas que querem ser felizes, praticando o mal. Se o bem não é capaz de fazer alguém feliz, o que o faria? A receita me parece simples.
A questão primeira deste assombroso assassinato é o privilégio que se dá ao TER em detrimento do SER. As pessoas estão treinadas para TER e valorizar quem tem, onde os meios justificam o fim. Não interessa se você é um salafrário, o importante é que você tenha. Os assassinos, obviamente, TINHAM, a juíza ERA. Como sua categoria, ou seja, dentro da magistratura há maus exemplos, personagens apontados pela mídia, sobretudo enxovalhados na internet, que usaram a toga para TER e resultaram publicamente execrados, ela paga pelos pecadores. A ambição dos condenados e o envolvimento com o crime daqueles que deveriam punir nos assombra, porque ficamos relegados à própria sorte.
Assombrado abraço!
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