Talvez, para quem nasceu ontem, o assassinato da juíza Patrícia Lourival Acioli, de 47 anos, abatida a tiros em frente a sua residência, em Niterói, seja absolutamente normal. Chamar-se-ia de dessubjetivação da barbárie. Já, para os do meu tempo, seja tão assombroso quanto uma película de terror.
Sou do tempo em que não se matava juiz. Sou do tempo em que juiz não tinha automóvel e podia desfilar tranquilamente pela calçada. Quando apontava numa esquina, todos iam para a orla do meio-fio, para ceder-lhe a passarela. Um juiz era do tamanho de um padre. Tinha gente que lhe pedia a bênção. Naqueles idos, a norma era introjetada pelo temor. Quem urinasse fora do caco, ia pro castigo. Criança aprendia a respeitar com medo da punição. Mas, sobretudo, havia autoridade. Ou seja, a norma ditada era embasada no exemplo. Aquilo que se proibia não se praticava. Dizia-se para um adolescente: - Você não sai de casa esse final de semana, porque você me desobedeceu. O condenado botava o pijama e se reconciliava com o juiz do lar. Porque a casa não era só a de alvenaria, era também uma pré-escola, um treinamento para a vida em sociedade.
Hoje, uma juíza é ameaçada por condenados e fuzilada na porta de casa, porque fora sentenciada por um fora da lei. A assombrosa reflexão que fica é a da falta de autoridade. Falta de autoridade que pressupõe falta de exemplo e promove o desrespeito. Não falamos em relação à juíza morta, que queria aplicar a lei, referimo-nos à autoridade pública. A magistratura está sendo desrespeitada. E se ninguém respeita um juiz, o que farão conosco? Por isso, uma professora leva cadeirada na escola, uma filha junta-se ao namorado para roubar os próprios pais, um ancião estupra uma criança, e tudo mais.
Enfim, não seria assombroso chegar à conclusão de que ser juiz é uma imprudência? A juíza não lançou mão da escolta a que tinha direito e foi sacrificada. E nós, que fechamos nossas portas com ferrolho? O que acontecerá conosco se alguém de maus bofes quiser nos matar? Seria preciso que Deus estivesse na guarita. Quer dizer, se Deus não velar pela cidade, de nada adiantará a vigília da sentinela.
Escatológico abraço!
Sosígenes Bittencourt
Sou do tempo em que não se matava juiz. Sou do tempo em que juiz não tinha automóvel e podia desfilar tranquilamente pela calçada. Quando apontava numa esquina, todos iam para a orla do meio-fio, para ceder-lhe a passarela. Um juiz era do tamanho de um padre. Tinha gente que lhe pedia a bênção. Naqueles idos, a norma era introjetada pelo temor. Quem urinasse fora do caco, ia pro castigo. Criança aprendia a respeitar com medo da punição. Mas, sobretudo, havia autoridade. Ou seja, a norma ditada era embasada no exemplo. Aquilo que se proibia não se praticava. Dizia-se para um adolescente: - Você não sai de casa esse final de semana, porque você me desobedeceu. O condenado botava o pijama e se reconciliava com o juiz do lar. Porque a casa não era só a de alvenaria, era também uma pré-escola, um treinamento para a vida em sociedade.
Hoje, uma juíza é ameaçada por condenados e fuzilada na porta de casa, porque fora sentenciada por um fora da lei. A assombrosa reflexão que fica é a da falta de autoridade. Falta de autoridade que pressupõe falta de exemplo e promove o desrespeito. Não falamos em relação à juíza morta, que queria aplicar a lei, referimo-nos à autoridade pública. A magistratura está sendo desrespeitada. E se ninguém respeita um juiz, o que farão conosco? Por isso, uma professora leva cadeirada na escola, uma filha junta-se ao namorado para roubar os próprios pais, um ancião estupra uma criança, e tudo mais.
Enfim, não seria assombroso chegar à conclusão de que ser juiz é uma imprudência? A juíza não lançou mão da escolta a que tinha direito e foi sacrificada. E nós, que fechamos nossas portas com ferrolho? O que acontecerá conosco se alguém de maus bofes quiser nos matar? Seria preciso que Deus estivesse na guarita. Quer dizer, se Deus não velar pela cidade, de nada adiantará a vigília da sentinela.
Escatológico abraço!
Sosígenes Bittencourt
2 comments:
é meu irmãozinho, e agora? e agora josé?...estamos presos em nossos próprios calabouços!!! tem nada não, deixe estar, porque o mal por si só se destroi.
O mal contém, em si, o próprio castigo. Não sei como há pessoas que querem ser felizes, praticando o mal. Se o bem não é capaz de fazer alguém feliz, o que o faria? A receita me parece simples.
A questão primeira deste assombroso assassinato é o privilégio que se dá ao TER em detrimento do SER. As pessoas estão treinadas para TER e valorizar quem tem, onde os meios justificam o fim. Não interessa se você é um salafrário, o importante é que você tenha. Os assassinos, obviamente, TINHAM, a juíza ERA. Como sua categoria, ou seja, dentro da magistratura há maus exemplos, personagens apontados pela mídia, sobretudo enxovalhados na internet, que usaram a toga para TER e resultaram publicamente execrados, ela paga pelos pecadores. A ambição dos condenados e o envolvimento com o crime daqueles que deveriam punir nos assombra, porque ficamos relegados à própria sorte.
Assombrado abraço!
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