Isso sou eu, em Recife, no dia em que fui dar uma aula inaugural a uns alunos de Engenharia na Universidade Federal de Pernambuco. Fiquei ancho com a recepção. Foi a primeira vez que senti uma incontrolável vaidade intelectual. Os estudantes ficaram atentos, eu discursando sobre O Milênio do Saber. Ai de quem não souber; será portador de deficiência. A motivação foi recíproca, em mão dupla, os alunos me motivaram. Fui falar uma coisa, falei uma miríade. Parecia o homem da cobra. Senti, pelos corredores da Universidade, a circunspecção de uma procissão de lentes. No campus, a aragem do porvir. Principalmente, minha morte. Depois, fomos a um restaurante numa avenida movimentada da cidade. De frente para a calçada, vi um Recife encimentado sobre o Recife que vi quando menino. Aqui e acolá, um fragmento do Recife de Gilberto Freyre se balançando na Vivenda de Santo Antônio de Apipucos, de João Cabral de Melo Neto com sua invenção de vidas severinas, de Manuel Bandeira e sua cabeçorra vigiando a Rua da União.
O garçon: - O sanitário dos homens fica ali. Não deixe o celular na mesa. Os meninos levam.
Eu, ingênuo: - Que meninos?
O garçon: - Qualquer um.
Putz! Levar celular já faz parte de nossa cultura. Assim como não ceder a poltrona do ônibus aos idosos e, sobretudo, mulheres emprenhadas. Aí, lembrei-me do poeta Mauro Mota, para o meu consolo: "Quem morre, em Recife, engana a morte."
Saudoso abraço!
Sosígenes Bittencourt
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