Saturday, December 31, 2011

A esperança

No batente da garagem, há dias, há uma esperança. Apesar de imóvel, a esperança vive, a esperança não morre.
Eu fui dormir, pensando na esperança. Eu acordei, procurando a esperança.
Eu pensava que a esperança havia ido embora. Porém, a esperança permanecia ali, verde como a esperança.
Vieram algumas pessoas, falavam alto, nem se ligaram na esperança. Não sabem o que perderam em não usufruir da esperança.
A esperança é uma poesia, pousada, há dias, num batente aqui de casa. Ninguém se agonia, ninguém tem medo da esperança.
A esperança, se um dia vier a ir embora, estará aqui sua lembrança.
Sosígenes Bittencourt

Thursday, December 29, 2011

Pensando na vida

Sou do tempo em que havia tempo de acompanhar a réstia do sol e contar estrelas. Sou do tempo em que o coral dos grilos orquestrava a sonoplastia das estrelas. Minha avó Celina botava perfume e penteava os cabelos para ouvir o jogo do Sport Club do Recife pelo rádio.
Eu queria passar o final do ano em Boa Viagem. Diz que tem muita lâmpada colorida, fogos de artifício, Jingle Bells, tanta mulher bonitinha e cheirosa que o coração fica pinotando de alegria. O mar roncando surdo e o vento assanhando o cabelo. Ficar de cara pra cima, vendo os arranha-céus. Ali mora uma família. Mas, tenho medo de assaltante. Talvez, eles queiram nos matar.
Eu estava conversando lorota. Um vendedor de picolé me apareceu.
- Chupe um picolé para me ajudar, professor.
- Eu posso até lhe ajudar, não sou obrigado a chupar coisa alguma.
A outra, foi assim:
- Professor, eu quero um dinheiro para ir pra Caruaru.
- Se eu pudesse, eu iria pra Caruaru com você. Contudo, o que é que você vai fazer em Caruaru?
Todo final de ano, a gente bota pra pensar nos mortos. Às vezes, naqueles que vão nascer. Até os que nem estão no ventre. Em verdade, ficamos pensando no vir-a-ser. Quem danado sabe o que vai acontecer? Um dia, fomos espermatozóide e óvulo. Um dia, estaremos num jazigo.
A morte é uma instituição democrática, fundada pelo tempo. Ninguém tem o direito de reclamar. Todos têm o direito de receber. Nunca mais eu fui ao cemitério. Ali, ensurdecem os que viveram, amaram e odiaram como nós, que seremos ossos, sem servir de conselho. Ontem, eu vi passar um enterro. As pessoas nunca tomam a morte como exemplo. Vivem pensando na vida.

Nesses dias, chega o Carnaval. O tempo é breve. No meu tempo, a gente pintava a cara e abria a porta para ver o caboclinho. Brincava de bisnaga. Relembrar é alongar a vida. Relembrar é abrir o livro de nossa história.
Eu nem sei a quem desejar um Próspero Ano Novo. Porém, mesmo assim, não custa nada desejar que você seja feliz, mesmo que não goste desta crônica.
Conversado abraço.
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, December 27, 2011

Para refletir



Caso nossa maior necessidade fosse informação,
Deus nos teria enviado um educador.
Se nossa maior necessidade fosse tecnologia,
Deus teria nos enviado um cientista.
Se nossa necessidade fosse dinheiro,
Deus teria nos enviado um economista.
Mas, uma vez que nossa maior necessidade era o perdão,
Deus nos enviou o Salvador.
Max Lucado

Foto

Rosto de japonesa

Esta é uma foto postada num site erótico japonês. Longe de ser uma imagem pornográfica, sugere o mais inebriante erotismo. De tão sugestiva, serviria até para enfeitar uma mensagem natalina, pela expressão angelical da menina. Nela, cabem todos os pensamentos. O erotismo difere da pornografia porque permite pensar. A pornografia é a degradação do nu, o erotismo é a sugestão do prazer. Um verdadeiro espetáculo!

Erótico abraço!

Sosígenes Bittencourt

Monday, December 26, 2011

Quadro de Frases

Vivemos num mundo onde precisamos nos esconder para fazer amor,

enquanto a violência é praticada em plena luz do dia.

John Lennon

Sunday, December 25, 2011

Acreditar

Acreditar em Deus e na Imortalidade da Alma não faz mal a ninguém, é lucro certo. não é acreditar em algo que você não vê, é acreditar em algo que você sabe. Eu não vejo o outro lado do mundo, mas sei que ele existe. É noite, mas creio na aurora. Sejamos otimistas, cultivemos bons pensamentos, boas ideias, para que os nossos sentimentos sejam bons. Amar o belo enche de beleza nosso coração. Sejamos sábios, buscando compreender o que somos para melhor percepção do que temos. Reciclemos o ódio e a inveja, posto que ódio e inveja são lixos mentais, sejamos garis de nossas emoções. Estudemos nossos desejos antes de buscar a concretização de nossos sonhos. Vamos juntos, a reciprocidade facilita a busca, funda a compreensão, educa para o amor. Pensemos no que pensamos, pois o sentido da vida está no que pensamos da vida.
Filosófico abraço!
Sosígenes Bittencourt

Thursday, December 22, 2011

Quadro de Frases

Ora, a é o firme fundamento das coisas que se esperam,

e a prova das coisas que se não vêem.

Hebreus 11:1

Wednesday, December 21, 2011

Hipocrisias natalinas

O patrão triplicou sua riqueza, e os empregados triplicaram suas dívidas. Apesar dos pesares, todos têm de mostrar os dentes no banquete de confraternização. Para isso, é preciso moderar na bebida, ficar vigilante quanto aos rancores. Uma palavra errada, você pode abraçar o sol desempregado. Não cometa aventuras gástricas, exagerando nos comes e bebes, ninguém o perdoará se você adoecer e faltar ao expediente. Cuidado com intimidade excessiva, enxerimento é fatal na danificação de sua imagem. Se soltarem fogos de artifício, não reclame da zoada nem da fumaça, lembre-se de que o foguetório é para a empresa, não para você. Se o presente que você comprou, cair nas mãos do inimigo secreto, não reclame do destino, isso é feio. Se pedirem para você dar uma palavrinha, não se demore nem fale “difícil”, porque empregado não sabe de nada, quem sabe de tudo é quem venceu na vida, você é um fracassado. Afinal, quem tem tudo na vida é O Cara, quem não tem nada é O Descarado.
E Feliz Natal!

Sosígenes Bittencourt

Tuesday, December 20, 2011

Cuidado com Janeiro

Obviamente que eu não diria “cuidado com o Natal”, porque o nascimento de Jesus não tem nada a ver com isso. Porém, diria que é preciso segurar a emoção com o lado consumista da festividade, para em janeiro não estar com a mão na cabeça, por causa da farra financeira. Segundo alguns discursos evangélicos ou pastorais, Jesus é razão.

Não há riqueza maior no ser humano, força mais criativa do que a emoção, mas é preciso administrar seus excessos com a intermediação da razão. Napoleon Hill já o disse: “O entusiasmo é a maior força da alma.” Contudo, ‘entusiasmo’ deriva de “em + Teos”, ou seja, com Deus na alma, em estado de graça. Não adianta você cobrir-se do supérfluo, para depois carecer do essencial.

Cuidado com Janeiro” significa “cuidado com as dívidas”. Outro dia, vi um economista dizendo que ninguém trabalha para pagar contas, trabalha para se manter. Quem recebe para pagar, não recebe, transfere. Ademais, é preciso confeccionar um colchão de segurança, para nas vacas magras ter como se socorrer. Não vá com tanta sede ao panetone, lembre-se do pão nosso de cada dia.

Prudente abraço!

Sosígenes Bittencourt

Monday, December 19, 2011

Pé de Pitanga

Debruçado sobre o muro aqui de casa, um pé de pitanga vigia a rua. Mulheres que vêm de bairros distantes passam, de braços dados, a admirá-lo.

- Êi, Maria, vê quanta pitanga!

As pitangas, suspensas no ar, parecem se balançar de vaidade, olhando para lá e para cá.

- Menina, e tem de toda cor!

Alguns pinguços também já as admiraram, lambendo os beiços, ébrios de desejo.

- Isso dá um tira-gosto arretado!

Sinto-me contente com tamanha dádiva. A eugenia uniflora, que dá em quintais, empertigada no canto do muro do meu terraço. Sei que a drupa globosa é comum na Mata Atlântica brasileira e na Ilha da Madeira em Portugal. Ao sol vesperal, parecem mimos caídos do céu, esses novelos de cálcio coloridos d'aquém e d'além mar.

Bem sei que alguns a futucam com um pau, no intuito de fazer um ponche, chupar minhas pitangas. Nem por isso vou "chorar as pitangas", me aperrear, ficar me lamuriando. Aliás, lembra-me a célebre reflexão do revolucionário francês Babeuf: Os frutos da terra pertencem a todos, e a terra, a ninguém.
Sou um homem feliz, porque, em meio à struggle for life (luta pela vida), tenho tempo de parar para observar minhas pitangas e produzir esta crônica.

Mimoso abraço!
Sosígenes Bittencourt

Sunday, December 18, 2011

A Praça da Matriz

Quem nunca elogia, fica sem credibilidade para criticar. A reforma na praça ficou, sobretudo, educativa. É uma obra que merece respeito. Afinal, foi feita para o povo, com o dinheiro do povo. Não foi feita para o prefeito nem com o seu dinheiro. Agora, cabe-lhe fazer a manutenção, e a população preservar.

Dentre outras providências, também concordo com a proibição de galeteria no local, para não emporcalhar o ambiente; limitar o número de mesas, para não juntar corriola de alcoólatras; não consentir que o Carnaval circule a praça, porque vão pisar nos jardins, atirar cotoco de cigarro para o ar, subir nos bancos, regar as plantas com mijo.

A praça está com cara de Primeiro Mundo, mas a população, de um modo geral, ainda é africanalhada. Não adianta tergiversar. Basta observar o que fizeram com a Praça da Restauração, onde a rafameia pita marijuana, toma o alheio e faz nenen a céu aberto.

Sincero abraço!

Sosígenes Bittencourt

Thursday, December 15, 2011

Quadro de Frases

Pobre gosta é de luxo, quem gosta de miséria é intelectual.

Joãosinho Trinta

Wednesday, December 14, 2011

Bebedeira em praça pública

Acho que nem os alcoólatras concordariam com a venda de bebidas alcoólicas em praça pública. A safadeza de se conceder boteco em praça foi que afugentou os idosos e as crianças desses espaços públicos sagrados. Promoveu poluição visual e sonora, o que me levou a construir uma frase em cima da célebre reflexão poética de Castro Alves. O poeta baiano disse: A praça é do povo, como o céu é do condor. Eu diria: A gandaia tomou a praça do povo, e a poluição, o céu do condor.
Na minha humilde concepção, privatizar espaço público é conceder apropriação indébita. Parece estelionato, obtenção ilícita de vantagem, em prejuízo alheio. São dois envolvidos, o politiqueiro e o paparicado.
Sabido é Júlio Lossio, o prefeito de Petrolina. Quando o Procurador Geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, foi receber a medalha Senador Nilo Coelho, ele atravessou na frente e implorou a proibição de venda de bebidas alcoólicas nas praças públicas do município. Ora... nem os alcoólatras inveterados têm argumento para reprovar a medida. Tem bebarrão que adora sua família. Ele morre no fundo de um barraco, mas deseja que os seus parentes sejam felizes. Muitos morrem de tristeza, sufocados pelas garras do vício.
Governante sério não tem compromisso com alcoólatra, a não ser com o seu tratamento. Afinal, praça é espaço público, e espaço público é para todos. Se os bêbados invadem, os lúcidos perdem a oportunidade de usufruí-lo. Nenhum lúcido quer correr o risco de se sentar ao lado de um papudinho, acompanhado de sua mãe, esposa ou filhos.
Portanto, equivocado estará o político que pensar que sua popularidade depende de mimar vendedor de birita, corriola de cachaceiros, de promover cachorrada na via pública. Isto é imaturidade.
Confuso abraço!
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, December 13, 2011

FRAGMENTOS

O apaixonado imagina o objeto da paixão

e abraça-se com a imaginação.

Sosígenes Bittencourt

Sunday, December 11, 2011

O abismo da paixão

É difícil acreditar que Jadielson e Silvânia se atiraram no abismo, de mãos dadas, numa versão shakespeareana de Romeu e Julieta. É mais provável que Jadielson tenha arrastado Silvânia para morrer consigo, o que caracterizaria homicídio e suicídio no mesmo salto. Parece um caso típico de paixão. Dois apaixonados que não conseguiam se desvencilhar dos grilhões da loucura e seguirem em paz. O filósofo alemão Nietzsche dizia que “Há sempre um pouco de loucura no amor, mas há sempre um pouco de razão na loucura.” No fundo, eles, talvez, tivessem razão. Não dava mais para viver. O detalhe é que Silvânia preferia viver sofrendo a perder a vida, e Jadielson não aguentava mais tanta agonia. Era paixão em mão dupla.
O que fora fazer Silvânia, já separada, na Serra das Russas, justamente com Jadielson, sabedora do desespero do ex-marido? É que o apaixonado é sempre um assujeitado, um submetido, ele não tem forças para a paixão. Estavam escravizados por um sentimento sem norte, sem direção, sem noção de causa e efeito. Juntos, se desentendiam; separados, sentiam saudade. Um era a droga do outro, bem descrito nos versos:
Meu vício é você! / Meu cigarro é você! / Eu te bebo, eu te fumo / Meu erro maior / Eu aceito, eu assumo / Por mais que eu não queira / Eu só quero você...
Um desejo, não pelo prazer, mas pelo objeto. Porque prazer que dói se resume em sofrimento. Jadielson e Silvânia morreram na Serra, dando sequência ao abismo em que se atiraram. Andavam abismados.

Desesperado abraço!
Sosígenes Bittencourt

Thursday, December 08, 2011

Malvadezas natalinas

Cuidado com as malvadezas do período natalino. Não vá ficar de cara pra cima, pensando que a humanidade se transformará numa procissão de entes de luz. Fique ligado. O menino Jesus está na lapinha, mas a rua, cheia de Judas Iscariotes.
Foi o que aconteceu a uma estudante universitária, lá no semáforo em frente à Casa dos Pobres, no centro de Vitória de Santo Antão. Um monstro encostou na janela do carro, pediu que lhe passasse a chave do veículo e se mantivesse sentada. O demônio queria que a vítima dirigisse para ele. Foi quando, desesperada, ela abriu a porta e saiu correndo na direção do Colégio Antônio Dias Cardoso, enquanto ele dava partida, margeando o prédio do Fórum.
Aqui, no bairro do Cajá, três meninos passam o dia roubando, e a população só mancuricando. Todos comentam, conhecem os pivetes pelo nome, data de nascimento e árvore genealógica, mas ninguém se mete. Diz que tem um maiorzinho, um médio e um pixototinho. Quando se pergunta: - Você conhece os meninos que roubam aqui no bairro?
Logo se responde: - Claro. Eles moram ali e são filhos de seu fulano e dona fulana.
Nesses dias, aparece uma vítima de natureza árabe ou chinesa e larga um ‘mói’ de bala no cangaço de um deles. Não é brincadeira. Aconteceu com um galeguinho que cheirava cola de sapateiro e vivia roubando aqui no bairro. Ele mesmo comentava: - Eu penso que vão me matar.
Não era pensamento, era certeza. Contam que pegaram ele, dormindo num sofá velho, lá nos cafundós, e meteram ficha.
Portanto, cuidado aí, macacada. Não vá pensar que o clima é de paz e amor, e esquecer a guerra e o ódio que fazem parte da natureza humana. Quem penetra no recinto de sua residência, ou põe uma arma de fogo na sua cabeça, não está amando nem lhe dando boas-vindas, está em guerra com o mundo e odiando os seus semelhantes.
Vigilante abraço!
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, December 06, 2011

Palmadas na berlinda

As palmadas estão na berlinda. Antigamente, menino apanhava, mas não morria no pau. Nunca vi pai matando filho, nem estuprando, engravidando filha, como hoje. A radicalização da medida que proíbe palmada em criança deve advir da violência perpetrada contra menor, sobejamente divulgada no dia a dia da mídia nacional. Nos idos, menino levava palmada, adolescente tomava lapada de cinturão, mas não me lembro de nenhum infanticídio. Aliás, crimes, perpetrados há 40 anos na cidade, contam-se nos dedos. Talvez, porque a população fosse pequena e o jornalismo não desse a cobertura, em tempo real, como agora. Mas, baseando-se na rotina, o adulto de hoje não tem moral para bater em menino, não merece confiança. Qualquer um é suspeito. Tanto que virou esquizofrenia coletiva. Você não pode se acocorar para dar um caramelo a uma criança.

Na cidade de Pinheiros, no Maranhão, um preso foi decapitado pelos carrascos de estimação porque teve uma ninhada de filhos com a própria filha. Por outro lado, a mulherada arruma estuprador como padrasto e, depois de 5 anos, fica dizendo que não sabia. Essa medida deve ser um castigo para os adultos, para o seu péssimo comportamento. Há mais de meio século, na minha cidade, uma professora botou o filho do prefeito, na calçada da escola, com uma banca na cabeça, e o pai achou normal. Ainda deu-lhe um corretivo em casa. O resultado poderia ter sido desastroso, mas o menino deu pra gente. Hoje, uma professora dá uma nota baixa a um aluno e tem a cara arranhada e os braços fraturados. Significa dizer que os adultos perderam a força moral nos exemplos do cotidiano. São políticos sacanas, televisão pornográfica, consumismo desenfreado, supervalorização do TER sobre o SER, impunidade, tudo exibido exaustivamente aos olhos pidões da meninada. Depois, exige-se respeito. O adolescente de hoje é resultado do adulto de hoje, do mundo de hoje. A televisão, por exemplo, sexualiza a adolescência e escandaliza com a consequência. Quer dizer, lucra dos dois lados. São beijos de desentupir pia, virilhas se encontrando. Ninguém aguenta.


Em resumo, não existe palmada educativa. Nenhum ser humano será anjo, ou demônio, porque tomou, ou deixou de tomar palmadas. Entre um pai e um filho, há um abismo imenso, como entre um marido e uma esposa, um patrão e um empregado. Portanto, palmada pode, perfeitamente, ser considerada agressão física. Ora, se um homem não pode bater numa mulher pela disparidade física, por que um adulto poderia bater numa criança? Quando um homem bate numa mulher, sempre acha que tem razão. Quando um pai bate num filho, sempre acha que tem razão. Arvoram-se em juízes. Mas, será que as vítimas acham que merecem apanhar? Ou reagiriam, se pudessem? Não seria o caso de analisar as razões do ódio, já que o ódio jamais será extirpado do coração humano? Impõe-se uma indagação: por que será que os índios não batem em criança?
Polêmico abraço!
Sosígenes Bittencourt

Monday, December 05, 2011

Foto

Parece um desenho, mas não é. Trata-se de uma montagem fotográfica da arte surrealista e poética do holandês Ruud Van Empel, que irá expor suas belíssimas montagens na Bienal de São Paulo, em 2012, na comemoração ao Ano da Holanda no Brasil. Sua obra é de mexer com a respiração. Um verdadeiro ESPETÁCULO!

Inspirado abraço!

Sosígenes Bittencourt

Saturday, December 03, 2011

Eu tive uma namorada em Caruaru

Isso foi na década de 70. Eu era adolescente e achei de me engraçar de uma menina lá em Caruaru. Todo domingo, eu ia passear na pátria de Vitalino. Pulava da cama cedo, me enfatiotava todinho e ia pra BR, pegar ônibus. Os ônibus apostavam carreira. Tinha da São Geraldo - parece que da Jotude - e Caruaruense. Eu viajava com a cabeça na janela para ver a paisagem. A ventania ficava fazendo uma zoadinha no ouvido. Seguia pensando na vida, imaginando o futuro, no horário da esperança. Não sei por que, mas associo a aurora ao porvir. Já minha avó Celina dizia que a noite era a hora da saudade. Sei lá...
A princípio, eu ia assistir a filmes no Cine Santa Rosa e Irmãos Maciel. O Cine Santa Rosa ficava na pracinha, como quem ia para o Bairro do Salgado. Um dia, passou Dr. Jivago, com Omar Sharif e Julie Christie, um filme americano de 1965. O pessoal do meu tempo deve se lembrar. Eu comprava uma carteira de Continental, sentava na avenida e pedia uma cerveja Antártica Paulista. Pedia Brahma Chopp também. Parecia um hominho. Foi quando, passeando pela Feira de Caruaru, conheci uma vendedora de sandálias, alpercatas, um bocado de coisa de couro. Olhos pretos em moldura amendoada, pele morena afogueada, feito um cavalo alazão. Era todinha um chocolate. Nem parecia gente, parecia uma figura de livro, de romance, de literatura. Ou qualquer coisa que só aparece em sonho. Os cabelos batiam na cintura, e a boca tinha um eterno frescor de chiclete Ping-Pong. Eu ficava o dia todo peruando pra namorar com ela. Um dia, a gente namorou numa esquina lá na Caruá. E eu terminei dormindo na Princesa do Agreste, inalando aquele cheirinho de travesseiro de marcela que tem praquelas bandas. Chega dava sono. A morena era boazinha que era danada, toda silenciosa, andava devagar e ria baixinho. Os olhos é que eram tagarelas. Dava vontade de comer um pedaço, embora, naquele tempo, a gente namorasse de roupa, era proibido namorar nu. Eu ficava tão contente que botava pra contar história. Dava um pigarro e enfeitava a conversa. Meus colegas diziam que eu estava mentindo. Minha mãe também pensava que eu mentia. Um dia, descobriu que era poesia.
Adolescente abraço!
Sosígenes Bittencourt

Friday, December 02, 2011

FRAGMENTOS

Como bom jogador, Marcelinho Paraíba precisa aprender a driblar arapuca.

Sosígenes Bittencourt

Thursday, December 01, 2011

Justiça à margem da Lei

A Justiça é cega, mas os homens é que se negam a enxergar o Direito. Marcos Mariano da Silva, perante Themis, a deusa de olhos vendados, não tinha cor, credo nem classe social. Mas, os seus algozes o viam como ex-mecânico, homem sem posses, riqueza, desprovido de beleza. Marcos Mariano não tinha nada que chamasse a atenção dos causídicos, nada que os seduzisse, por isso foi vilipendiado. Porque não há desprezo maior do que você negar justiça a quem merece.
Marcos Mariano não passou 19 anos preso, como inocente, sem que a Justiça o soubesse. Porém, a Justiça só se faz pela ação do homem. E onde estava esse homem? Quem são esses pérfidos indiferentes? A Lei, enquanto teoria, é apenas uma flauta, alguém terá de soprá-la.
Embora cego, Marcos Mariano sabia a verdade, enxergava dentro, mas era um Tirésias esquecido. Como confiar naqueles que lhe negaram a liberdade? Como acreditar na Justiça nas mãos de quem a nega? Porque Marcos Mariano da Silva não foi tratado como marginal, a Justiça foi que agiu à margem da Lei. E de que adianta, agora, indenizá-lo, se ele está morto? Cegou dentro do presídio e morreu sem enxergar a liberdade. Morreu sem poder ver as noites e os dias. Como imaginar que o ex-mecânico Marcos Mariano foi torturado até a morte por aqueles que tinham o dever de lhe conceder o direito de viver?
Vilipendiado abraço!

Sosígenes Bittencourt