Tuesday, April 30, 2013

Os abutres de São Bernardo do Campo


A dentista incendiada em São Bernardo é qualquer um de nós. Porque assassinos, como seus algozes, há em toda parte. Basta um descuido e podemos vislumbrar a morte.
Na realidade, os abutres de São Bernardo não são meros ladrões, são criminosos, armados pelo ódio. Roubo seguido de morte peculiariza homicídio miserável.
Há confissão de que brincaram, fazendo malabarismos com o isqueiro, antes de atear fogo na vítima. Elevou-se ao êxtase a sanha assassina. E, dentre os 4 suspeitos, há um menor de 17 aninhos, elencados como protagonistas, no teatro da barbárie.
Cinthya Magaly Moutinho de Souza somos todos nós, espreitados por inimigos da humanidade, sem pátria e sem misericórdia, sobretudo sem temor a Deus, munidos de ódio para nos trucidar.
Não há como acreditar que esses desalmados não sejam conhecidos por outras atrocidades. Não obstante, num círculo concêntrico, somos prisioneiros do medo, o medo de denunciar. Quem confiaria em ser testemunha de acusação, protegida pelo Estado? Estará dormindo, aquele que fez a denúncia anônima? Como viverá?
Sosígenes Bittencourt

Monday, April 29, 2013

Beijo pra Cinema


O beijo mais ensaiado de todos os tempos foi aquele dado pela atriz Grace Kelly em James Stewart no filme “Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock. Foram necessárias 87 repetições da cena para satisfazer o diretor, cuja exigência por perfeição era quase tão célebre quanto seus filmes.
Foi tanto glamour e tanto desejo exibidos,
que não nasceu menino porque estavam vestidos.
Sosígenes Bittencourt

Friday, April 26, 2013

Recordar é Viver


No tempo de eu menino
Dentre as figuras lendárias e bizarras das quais tive notícias e algumas conheci, em Vitória de Santo Antão, espero que alguém relembre MÃO DE ONÇA, CAFINFIM, PAPA-RAMA, DIDI DA BICICLETA, BIU LAXIXA E O CORCUNDA ANÍBAL.
Mané Capão, sem menosprezo ao animal, era todinho um macaco. Haja vista que andava de pernas arqueadas, pendendo para os lados, erguendo a cabeça e fazendo bico com a beiçola. Às vaias e insultos que recebia, respondia na pedrada. Não é preciso dizer que lascou cabeça de gente, estilhaçou vidraças e botou muito sujeito pra correr. Recordemo-lo. Penso que quem o insultava era pior do que ele. 
Mão de Onça nunca deu um soco num atrevido para não vê-lo estatelado no chão. Papa-rama brigava com 4, na braçada. Parecia um viking. Didi da Bicicleta tinha o corpo fechado, porque a caixa dos peitos era rendada de tiros sem ter baixado à sepultura. Cafinfim dava óleo queimado para os presos beberem, e Biu Laxixa era tão doido que, quando corria na frente, ninguém corria atrás. E ainda tinha Ferro, um negão que dava beliscão em menino.
Não sei quem se lembra, mas eu conheci a figura cinematográfica do corcunda Aníbal. Andava pelas ruas resmungando e exalando um nauseante aroma de pão e banana, como se fosse um personagem de filme de terror. Aníbal tinha o hábito de apalpar o seio das mulheres, o que o tornava mais apavorante. Não sei do que morreu nem exatamente quando, o que lhe empresta uma feição misteriosa e hugoana, à la O Corcunda de Notre Dame.
Sosígenes Bittencourt

Thursday, April 25, 2013

Celeuma em torno do Ciúme


LIVRE é quem sente ciúme de quem lhe faz bem e respeita. Quem sente ciúme de quem lhe faz mal e desrespeita é ESCRAVO da maldade.
Há 4 tipos de ciumentos clássicos a saber: o Zeloso, o Enciumado, o Ciumento e o Paranóico.
O Zeloso é aquele que quer o bem, é o altruísta. Ele fecha a janela do quarto para o seu amor não pegar um resfriado. Ele ajusta o horário para pegar o amor no trabalho.
O Enciumado é o ciumento eventual, o constrangimento passa. Ele sempre está questionando gestos, relações de amizade, horários, meio desconfiado, mas tudo passa à menor explicação.
O Ciumento ciumento é o que quer restringir a liberdade do outro, ele dita normas. Dá grito, chama palavrão, bate a porta, irrita-se com facilidade.
O Paranóico é o que tem convicção de que é traído, mesmo sem prova. Ele delira. Vê chifre em cabeça de cachorro. Acorda assustado, todo semelhante é seu competidor.
Ora, o ciúme é natural em quem gosta de alguém, o contrário seria a INDIFERENÇA. É que nos acostumamos a confundir ciúme com espalhafato. Porque ciúme pode ser desejo de POSSE e CONTROLE, o que não se identifica com amor, ou medo de perder o objeto amado, o que pode caracterizar baixa AUTOESTIMA
Sosígenes Bittencourt

Wednesday, April 24, 2013

Racismo e Imaturidade


O homem é o único animal que sabe que vai morrer. A pomba não sabe, a galinha não sabe. Portanto, o racismo não é uma consequência da diferença entre o branco e o preto. Racismo é falta de maturidade, deficiência no lidar com o ÓDIO. Tanto que, quando alguém é branco e você odeia, chama-o de AMARELO SAFADO, o que dá no mesmo ÓDIO e no mesmo "RACISMO", se assim quer-se chamar.
Sosígenes Bittencourt

Monday, April 22, 2013

Abril, Brasil, rimas em "il"


Nada há que mais se pareça
com o Descobrimento do Brasil
que o mês de abril.

Ricas rimas, alveolares articulações
de rimas em “il”.

Aves marinhas esvoaçantes
sob um céu de anil
a 21 de abril,
que Cabral, alcaide-mor de Azurara,
Senhor de Belmonte, viu.

Achou, não achou, descobriu:
ventos tangeram caravelas;
das proezas, a mais bela,
à terra do Brasil.

Sosígenes Bittencourt

Fragmentos


Pior que a traição, foi a contradição:
Tiradentes, que tirava dentes, teve a cabeça extraída.
Sosígenes Bittencourt

Saturday, April 20, 2013

Um dia, em Cumbuco, no Ceará


Um dia, eu fui bater na praia de Cumbuco, no Ceará.
Havia passeio de Bugre, dunas, o céu bem pertinho do mar. Eu vi gente a cavalo, senti cheirinho de fumo de rolo, vi paraquedista bailando no ar. Parecia uma comunhão entre as zonas rural e urbana na orla marítima do Ceará.
Foi em Cumbuco que eu vi a morena mais linda do mundo. Fantasiada de índio, vendendo umas castanhas do tamanho de um caju. Morena avermelhada, carnadura torneada e carinha de menina. Fiquei tão abestalhado que terminei confeccionando a seguinte revelação: Eu já não me sinto uma FORTALEZA, nem sei o que CEARÁ de mim.
Já de volta, acomodado no avião, sobrenadando um acolchoado de nuvens sob a luz solar, vinha matutando: que coisas tão lindas, eu vim de Pernambuco vê na praia de Cumbuco, aqui no Ceará. E supliquei à aeromoça: - Moça, me dê uma bebidinha quente para eu sonhar.
À saída, a mesma aeromoça me perguntou: - O senhor fez boa viagem?
Ao que, meio sonhando, respondi: - Viajando com você, acima das nuvens, eu me senti do céu pra lá.
Sosígenes Bittencourt 

Thursday, April 18, 2013

Transitividade do verbo Namorar


Namorar não é o que as pessoas pensam. Namorar não é beijar, se entrançar, ficar nu.
Namorar é desejar, beliscar o olho, lançar galanteios.
Tanto que o verbo é transitivo direto: quem namora, namora alguém, não namora COM alguém.
Ex: Eu namoro fulana. Fulana me namora.
Sosígenes Bittencourt

Wednesday, April 17, 2013

No tempo de eu menino


Bacharel Mário Bezerra da Silva
Isso foi no tempo de Coca-Cola à base de noz de cola, acondicionada em garrafa de vidro. Hoje, toma-se xarope gaseificado em ampola de alumínio.
Uma noite, eu presenciei a banda do Colégio 3 de Agosto executar a "Marcha para a Cavalaria Ligeira", de Franz von Suppé, em frente à Igreja do Rosário dos Pretos. Foi um verdadeiro espetáculo!
Mário Bezerra me deu uma aula, no primeiro andar, sobre Análise Sintática, que nunca mais esqueci a diferença entre Sujeito e Predicado. Não imito direitinho, com o livro de Português, de José Brasileiro Vilanova, nas mãos, em respeito à alma do insigne diretor.
Vi, muitas vezes, o povo sair da calçada para o bel. Mário Bezerra desfilar de queixo erguido, meio de bandinha, com os sapatos rigorosamente engraxados. O paletó conhecia o caminho, da Rua Horácio de Barros à Praça 3 de Agosto.
Mário era perfeccionista, gostava dos pontos nos “ii”, por isso, chegado a uns histerismos quando desobedeciam suas ordens. Contam que Mário só tinha um pulmão, mas quando dava um grito, as colunas do colégio estremeciam.
Não obstante, foi o sujeito que botou moral em colégio, no município. Depois dele, já soube de aluno que urinou, do primeiro andar para o pátio, que nem um Dionísio desvairado, e menino que deu rasteira e puxavante de cabelo em professora de Moral e Cívica.
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, April 16, 2013

Inveja e Sucesso


Não há sentimento bom nem ruim, mas o resultado daquilo que você faz com o sentimento. Por exemplo, INVEJA é um sentimento positivo quando invejamos o BELO e buscamos reproduzir. Muita gente fez sucesso na vida imitando. O ser humano é um animal que imita desde o nascimento até a morte. Agora, SUCESSO é um detalhe. Tem traficante que é um SUCESSO. Dribla a Justiça, faz fortuna, costurando boas amizades, sem dar um tiro. Quem quer imitar?
A AGRESSIVIDADE, por exemplo, é o combustível da AÇÃO. Se você tem gasolina nas mãos e incendeia seu semelhante, poderá matá-lo. Mas, se você põe numa ambulância e socorre um acidentado, poderá salvá-lo. Quer dizer, nós não estamos preocupados com a AGRESSIVIDADE, mas com o que os meliantes estão fazendo com a AGRESSIVIDADE nas grandes cidades. Agora, SUCESSO é um detalhe. Quem quer ser um SUCESSO, trocando soco em campeonato de luta de box?
Sosígenes Bittencourt

Monday, April 15, 2013

Síndrome da Segunda-feira


Aprendi a gostar da segunda-feira quando comecei a respeitar o domingo. Vê-lo como dia de reflexão e repouso. E dentro do plano de refletir, obviamente, há o de esvaziar a mente, ficar um pouco sem pensar na vida, deixando fluir pelo corpo uma boa música, ver um filme leve, uma história de amor, talvez. Não Saia Rodada, mas ouvir um clássico, tomar um solo de violino, um piano. Conheço amigos que pegam a estrada e vão tomar birinaite na praia para descansar. Funciona? Outros vão ao pagode, remexer o esqueleto para relaxar o quadril.
Mas, o grande pânico da segunda-feira pertence àqueles que TRABALHAM. Quer dizer, os que NÃO GOSTAM DO OFÍCIO, e é a maioria. Não sei se é do conhecimento de todos, mas trabalho vem de "TRIPODIUM", um artefato de tortura medieval em forma de cruz. Só quem exerce uma atividade por VOCAÇÃO é que não sente que está trabalhando no sentido de estar sendo torturado, pois vocação quer dizer "CHAMAMENTO", é um chamado interior, ânimo, inspiração.
Contudo, apresentemos uma saída. Baseio-me em minha experiência. Uma das atitudes que sugiro para você fazer o que gosta é APRENDER a gostar do que faz. E uma das tentativas para alcançar este objetivo é procurar fazer BEM FEITO. Uma de minhas práticas mais eficazes é organizar o ambiente de trabalho, tanto do ponto de vista estético quanto do ponto de vista burocrático. Quem chega em meu ambiente de trabalho, sente a impressão de que há vários funcionários trabalhando. No entanto, produzo tudo sozinho, muito embora não saiba até quando.
Bom dia e aquele abraço!
Sosígenes Bittencourt

Saturday, April 13, 2013

Dia do Beijo


Quem inventou o beijo deve ter sido a natureza,
por isso todo dia é DIA DO BEIJO
e toda hora é hora de beijar.
O beijo é um ato SOLIDÁRIO, pois só acontece a dois.
Ninguém se beija a si mesmo,
pois só dispõe de uma boca para beijar.
O beijo só é SOLITÁRIO quando é só vontade
e fica beijando sem beijar.
O beijo é uma permuta de MUCOS no roçar das MUCOSAS.
O beijo não precisa de nada além do próprio beijo,
não precisa de amor nem de odiar.
O beijo confunde o desejo.
O beijo é uma fricção cerebral, podendo ser o bem e o mal.
O beijo é dopamina, analgésico, sinestésico,
mina de prazer na intimidade da língua.
Difícil saber onde começa e onde termina.
Sosígenes Bittencourt

Friday, April 12, 2013

No tempo de eu menino


Eu brinquei muito no tempo de eu menino. Porque os brinquedos não falavam nem se buliam. A criança é que dava som e movimento aos brinquedos. Quando o carrinho ou a boneca se quebravam, a criança chorava, ficava desesperada.
Eu me lembro do cheiro, da forma, da cor de um trem, de um avião, de um soldadinho de chumbo, de um jipinho.
A meninada também brincava com caixa de xarope, colecionava tampinha de garrafa, cédula de cigarro, imitando dinheiro. As meninas eram maravilhosas nos cuidados com o bebê e no preparo das comidas, porque boneca não falava nem balançava os bracinhos. Nós éramos poetas e não sabíamos.
Joguei pião e bola de gude na rua sem calçamento. Mas, pular corda era a suprema alegria ao frescor vesperal da tarde. Porque as meninas vinham brincar com a gente. Quando pulavam, as trancinhas, os rabinhos de cavalo balançavam. E um cheirinho de talco e sabonete se espalhava no ar.
Nós éramos poetas e não sabíamos.
Sosígenes Bittencourt

Thursday, April 11, 2013

São Jorge não tem nada a ver com isso


Glória Perez perdeu a oportunidade de dar outros nomes à novela “Salve Jorge”, baseada em alguns personagens. Por exemplo:
Théo - O grande babaca.
Lívia Marine - A tirana romântica.
Morena - A burrinha do morro.
Mustafá - O árabe enganado.
Pescoço - O maconheiro apaixonado.
Berna - A mentirosa da Turquia.
Érika - A militar neurastênica.
Russo - O arranca-toco.
Stênio - O advogado equivocado.
São Jorge não tem nada a ver com isso.
Sosígenes Bittencourt

Wednesday, April 10, 2013

A TV Globo faz você de bobo


A menina de Gretchen, dançando “Conga, la Conga”, é de um mau gosto fora do cardápio.
Thammy não parece um homem, nem uma mulher, e, quando ri, faz careta. É feinha de cara e malfeita de corpo. Fraquíssima atriz e, quando dança, parece um elefantinho de circo.
Glória Perez é cheia de invenção sem graça. Além de inventar um namoro entre Lívia Marine e Théo, na novela “Salve Jorge”, ainda bota Jô pra namorar Russo - uma mulher enjoada com homem, namorando um arranca-toco. A paciência é a maior das virtudes.
Por isso, nunca é demasiado repetir: A TV Globo faz você de bobo.
Isso me lembra a história do filho do matuto quando chegou de São Paulo.
O matuto: - O que você viu em São Paulo, meu filho?
O menino: - Eu vi Roberta Close, papai.
O matuto: - E como é ela, meu garoto?
O filho: - Ela é assim, papai.
Coloca batom na boca,
Coloca esmalte no pé,
Quer ser homem, mas não pode,
Quer ser mulher, mas não é.
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, April 09, 2013

No tempo de eu menino


Sou do tempo em que havia tempo de acompanhar a réstia do sol e contar estrelas.
Sou do tempo em que o coral dos grilos executava a sonoplastia das estrelas.
Se os primeiros anos de vida marcam o homem, como uma tatuagem na memória, devo ter influência de minha primeira infância na Feira das Panelas, em Vitória de Santo Antão. Comi macaquinho de feijão com farinha e jaca dura no palito. Sou do tempo da laranja-da-baía-de-umbigo. Nunca mais vi um maracujá-açu.
Sou do tempo em que menino não pitava “cannabis sativa”, não portava arma de fogo nem namorava nu. Criança não estirava língua nem estalava banana para os mais velhos; tempo da palmatória nos argumentos de matemática.
Sou do tempo em que safadeza sexual era pecado e urinar no meio da rua era falta de educação.
Levei chinelada porque tudo que ia contar, enfeitava de adjetivo, num arrodeio que parecia invenção. Mais tarde, minha mãe descobriu que não era mentira, era poesia.
Minhas maiores alegrias foram quando aprendi a soletrar e que mulher foi feita pra namorar.
Um dia, eu vi o Cego de Apoti, cantando na feira. Era um cidadão que enxergava com a voz.
Às vezes, uso chapéu de palha para saber se tenho cara de matuto.
Sosígenes Bittencourt

Monday, April 08, 2013

Da automotivação


Uma vez vivo no mundo, não tem mais jeito, o jeito que tem é viver. Conhecimento é cultura, não implica sabedoria. Sabedoria é fazer bom uso da inteligência. A inteligência é uma faculdade humana, cuja virtude é a Sabedoria (sofia, para os gregos). Este deverá ser o caminho da automotivação. Não espere ser motivado pelo mundo, motive-se para motivar o mundo.
Sosígenes Bittencourt

Saturday, April 06, 2013

Recordar é Viver


Zezinho Mesquita e Dodó da Pitú Lanches
Esse bailado entre Zezinho Mesquita e Dodó da Pitú Lanches elege o tempo como o alquimista que a tudo transforma. Somos feitos de tempo e daquilo que fazemos com o tempo de que dispomos. Um dia, fomos espermatozóide afogando-se em óvulo; um dia, seremos as cinzas do que fomos. Reporto à celebérrima inscrição tumular, creditada ao mutismo de um morto: EU FUI COMO TU ÉS, E TU SERÁS COMO EU SOU. PENSA NISTO E VAI COM DEUS.
Sosígenes Bittencourt

Friday, April 05, 2013

Recordar é Viver


Diplomação Ginasial
Eu quero dedicar este baú de lembranças às meninas que estão me aperreando por fotografias do tempo da brilhantina.
Eu estudei no Colégio Municipal 3 de Agosto, em Vitória de Santo Antão-PE, na década de 60. Fiz Curso de Admissão e fui o orador, por ocasião da entrega dos Diplomas do Curso Ginasial.
No Curso de Admissão, fui aluno das professoras Antonieta de Barros Lima, Zezé Lacerda, Glorinha Tavares e Carminha Monteiro. Eu parecia "gente", estudioso e falante, tagarelava mais do que o Homem da Cobra. Tinha um medo do Bacharel Mário Bezerra da Silva que me pelava. Isso foi quando o Boletim Escolar era assinado em casa, e o Diretor podia botar menino de castigo, cheirando a parede, detrás da porta.
Eu sou do tempo do disco de vinil e do picolé de mangaba. Nunca mais, eu vi um maracujá-açu nem uma laranja-baía-de-umbigo. Passei minha infância na Feira das Panelas e comecei a estudar no Grupo Escolar Papa João XXIII, depois chamado Cardeal Roncalli. Sou do tempo da Revolução de 64, quando matuto era gente e camponês era comunista. A Diretora era Maria Celeste, que foi presa com a cabeça pelada, porque era metida com Francisco Julião e Miguel Arraes de Alencar.
Sosígenes Bittencourt

Wednesday, April 03, 2013

Recordar é Viver


Fernando Tôtinha e Dona Bibi
O pai de Fernando, seu Tôta, tinha uma venda de esquina, onde, hoje, é a Feira do Abacaxi. Uma vez, minha mãe me pediu para comprar 500 gramas de queijo e uma barra de sabão. Eu pedi 500 gramas de sabão e uma barra de queijo. Tem jeito?
Em outra oportunidade, eu vi seu Tôta passando um carão em Fernando. Naquela época, quem fazia presepada, levava carão. Às vezes, um tabefe no focinho.
Na Feira do Abacaxi, presenciei um episódio digno de nota. Um matuto vendia seus abacaxis, passando a peixeira nas barbatanas da fruta e revelando suas vontades ao freguês: - Bora! Bora! Bora! Vamos comprar o abacaxi, que eu tô doido pra ir pra casa!
Conheci uma Dona Bibi, lá no Dique, que lia mão. Numa noite, estávamos, eu e uma corriola, bebericando cerveja, quando resolvemos apelar para suas adivinhações. Ela me disse que eu iria ficar rico quando envelhecesse. Por isso, acho que ainda estou muito jovem.
Sosígenes Bittencourt

Monday, April 01, 2013

Dia da Mentira


O cara que disser que nunca mentiu é mentira. E o que disser que odeia mentira é porque não quer ser enganado. Tem gente que, de tanto mentir, termina pensando que a mentira é verdade. Às vezes, também, a mentira não é propriamente uma mentira, é uma poesia, uma fábula, uma forma especial de falar a verdade. Nesse ofício, tem animal fabuloso de tanta criatividade.
Impõe cautela, no entanto, pensar que tudo é mentira. Minha mãe conta a história de um menino que vivia pedindo socorro na piscina, imitando um afogamento. No dia que estava morrendo afogado, ninguém ligou para o seu apelo.
Tem mentira contada tantas vezes que apaga da memória a verdade. Quando, um dia, alguém conta a verdade, ninguém acredita. "Duvido! Isso é mentira!"
Mas, a mentira serve, muitas vezes, para ajeitar a convivência. É a tal da hipocrisia. "Que menino lindo! A senhora não envelhece nunca! Eu te desejo muitos e muitos anos de vida! Como você está linda com esse vestido de chita!
Eu não sei se é verdade, mas contam que o Dia da Mentira começou com o Rei da França, Carlos IX, em 1564. Ele resolveu mudar o primeiro dia do ano, que era 1º de abril, para 1 de janeiro. Aí, no Dia da Mentira, o pessoal se danava a mandar presentes esquisitos e convidar gente pra festa que não iria acontecer. Tal como mandar uma chupeta para um ancião, ou convidar você para um aniversário e viajar para a praia.
A maior mentira que já se contou no Brasil foi dizer que a Revolução de 1964 foi no dia 31 de março, porque já era madrugada de 1 de abril.
Acredito que ninguém melhor para desmentir adulto do que criança. Daquela que tira o dedo da boca e diz: "Mainha disse que não gostava da senhora, não..." Daí, ter confeccionado uma frase: Se queres saber o que pensa teu vizinho, olha para a fisionomia das crianças.
Mas, vejamos algumas das mais célebres e corriqueiras mentiras:
1. Marido: Não é nada disso que você está pensando.
2. Esposa: Só te perdoo pelos nossos anos de casados.
3. Delegado: Tomaremos providências.
4. Aniversariante: Presente? Não precisava.
5. Bêbado: Sei perfeitamente o que estou fazendo.
6. Casal sem filhos: Venha sempre nos visitar. Adoramos suas crianças.
7. Advogado: Esse processo é rápido.
8. Ambulante: Qualquer coisa, volte aqui que a gente troca.
9. Dentista: Não vai doer nadinha.
10. Desiludida: Não quero mais saber de homem.
Mentiroso abraço!
Sosígenes Bittencourt