Eu brinquei muito no tempo de eu menino. Porque os brinquedos não falavam
nem se buliam. A criança é que dava som e movimento aos brinquedos. Quando o
carrinho ou a boneca se quebravam, a criança chorava, ficava desesperada.
Eu me lembro do cheiro, da forma, da cor de um trem, de um avião,
de um soldadinho de chumbo, de um jipinho.
A meninada também brincava com caixa de xarope, colecionava
tampinha de garrafa, cédula de cigarro, imitando dinheiro. As meninas eram
maravilhosas nos cuidados com o bebê e no preparo das comidas, porque boneca
não falava nem balançava os bracinhos. Nós éramos poetas e não sabíamos.
Joguei pião e bola de gude na rua sem calçamento. Mas, pular
corda era a suprema alegria ao frescor vesperal da tarde. Porque as meninas vinham
brincar com a gente. Quando pulavam, as trancinhas, os rabinhos de cavalo
balançavam. E um cheirinho de talco e sabonete se espalhava no ar.
Nós éramos poetas e não sabíamos.
Sosígenes Bittencourt
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