Saturday, November 02, 2013

No dia que "me morreram"

Sim, é isso mesmo. Vez por outra, inventam que eu morri. Não sei se pela vontade de que eu morra, ou por achar lógica no boato.
Tem gente que mente para se distrair. Em outros, pode ser uma tara ou uma questão psicanalítica.
Eu sei que a mentira tem de ter lógica, senão ninguém acredita. Também creio que inventar a morte de alguém merece  imaginação, arte, e eu me presto para dar dimensão a essa mentira. O ruim é alguém não ir ao meu verdadeiro sepultamento, porque julgou haver sido mentira a nota de falecimento. Compreende?
Sobre a expressão "ME MORREREM", explico que, na realidade, eu não morri, nem me mataram, "me morreram" - verbo que criei para traduzir quando inventam minha morte. Portanto, como não passei para o outro lado, posso também inventar o outro lado. E aí, quando me imaginei morto, inventei um planeta só de mulheres, o que traduz minha compulsão metafísica pelo gênero feminino. Também nunca vi uma ninfa espalhar que eu havia morrido.
Aliás, morrer de mentira faz mais sucesso do que morrer de verdade. Não é todo dia que se é um morto andando pela cidade.
Inventado abraço!

Sosígenes Bittencourt

1 comment:

Sosígenes Bittencourt said...

Eu não sei o que fazer com a morte, por isso todos nós nos morremos. Eu me morro, tu te morres, ele se morre, ou seja, é quando nós inventamos nossa morte. (Cruel é alguém inventar a sua morte, ou seja, "alguém morrer você".) Morrer-se é uma forma de inventar a própria morte em busca de uma explicação, ou um consolo, talvez.. Vou aconselhar o meu verbo "morrer-se" à Academia Brasileira de Letras. Compreende?