Sunday, November 10, 2013

Repercussão de um seio

Um dia, eu vi um seio nuzinho pelo buraquinho da fechadura. Eu nunca tinha visto aquilo que só tinha o direito de imaginar.
Às vezes, ficava revirando um corpete, escondido por trás da porta, os olhos encatitados, com medo de levar uma surra, medo de pecado, medo de castigo, medo de deus.
Naquela época, criança não podia ver tudo que queria. Criança era temente a Deus. Havia infância naquela época.
Foi no tempo que menino brincava com caixinha de xarope, colecionava tampinha de garrafa. Imagine um seio, um seio nuzinho. Um seio alaranjado, recebendo uma réstia de sol pela brecha do telhado. Parecia um pudim de carne.
Era uma dessas Marias criadas no meio do mato, matuta acanhada. Eu não sabia se ficava ou se corria, o medo me atrapalhava. Eu ia lá, vinha cá, o seio ali, nuzinho, servindo de vitrine à minha curiosidade.
Um dia, mainha me pegou correndo pelo quintal, ofegante, todo espantado. Gaguejei tanto que levei uns tabefes para dizer o que estava fazendo. Não era nada, não era nada, era eu querendo ver o seio nu, doido para sentir aquela emoção de novo.
Revelava-se o futuro cidadão, morto de curiosidade. Já dizia o poeta inglês William Wordsworth: A criança é pai do homem.

Sosígenes Bittencourt

No comments: