Manhã,
cedinho, mulher aporta na minha porta:
-
Moço, me dê um trocadinho para ajudar uma criança que nasceu e não tem
nadinha...
Na
realidade, toda criança nasce sem nadinha. Maneirinha, pouco cabelo, sem dente,
o cérebro vazio. Contudo, toda criança nasce de alguém que tem tudinho para
fabricar uma criança, inclusive um cérebro cheio de vontade, cheio de apetite.
Vou
lá dentro, pego um trocado e lhe dou. Prefiro considerar que todo mundo é
honesto até que prove o contrário, do que imaginar que todo mundo é desonesto
até que prove o contrário.
Imaginar
que todos que batem na porta são salafrários e mentirosos, ou querem nos matar,
pode ser um tipo de esquizofrenia, delírio persecutório. Até já cheguei a
pensar que, no Natal, era preciso um certo cuidado, pois Jesus estava na
lapinha, e a rua cheia de Judas Iscariotes.
Olhei
para aquela mulher e ainda me sobrou inspiração para desejar-lhe um Feliz
Natal. Afinal, o Natal pertence a todos; a felicidade é que depende de cada um
de nós.
Sosígenes
Bittencourt
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