Monday, January 08, 2007
Terrorismo à brasileira
Não adianta querer negar. O assistencialismo, outrora tão condenado pelo PT, foi exatamente o que alavancou a reeleição de Lula no último pleito à presidência da República. O Bolsa-Família é um aprimoramento do Fome Zero e de capital importância na captação do voto do eleitorado na fronteira da inanição. Como, com esse discurso, não haveria graça nem repercutiria, Lula resolveu chamar os traficantes que atearam fogo nos ônibus no Rio de Janeiro de terroristas. Aí, sim, olhos se arregalaram, orelhas se arrebitaram e os holofotes da mídia se acenderam. Longe de parecer uma simples metáfora, provocou discussão nos meios jurídicos e jornalísticos sobre a real significação da palavra. Na realidade, para os que viram uma família, encurralada num ônibus incendiado, virar cinzas, não há palavra mais adequada, discurso mais emocionante. Aquela família somos nós. A indignação vem pela empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro, ou pelo temor de amanhã sermos as vítimas. Importante salientar que, da mesma forma, inocentes pagam com suas vidas quando milícias à cata de traficantes fazem tombar inocentes nas escadarias dos morros. O qüiproquó é grande. Os traficantes querem traficar para sobreviver, os milicianos querem matá-los para não morrer, e as forças armadas, convocadas para conter o crime organizado, terão de combater a ambos. Ninguém crê, obviamente, na resolução definitiva do problema, por causa de suas raízes. Sem educação e oportunidades de sobrevivência - o que reduz, efetivamente, as desigualdades sociais - os conglomerados humanos partem para solucionar os seus problemas. Como a droga oferece trabalho e é moeda, passa a ser uma alternativa. Se o resultado será o mal, o mal já foi causado, não há tempo para discussão de conteúdo moral-filosófico. Há uma frase antiga que diz: A necessidade tem cara de cão. Sosígenes Bittencourt
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