Já se tornou emblemático, um refrão, eu dizer que sou do tempo em que menino não fumava maconha, não portava arma de fogo nem namorava nu. Quem pitava canabis sativa era índio. Sou do tempo em que adolescente era chamado de menino. Depois da filhocracia, regime em que os filhos desobedecem e desafiam os pais, adolescente e meliante são quase sinônimos. Sou do tempo em que menina brincava de boneca, não brincava de fazer bebê de verdade. Também, coitadas, não dá para segurar as calcinhas com o que vêem de sexo na telinha da babá eletrônica do século XX, desde os cueiros. Sou de antes da invenção de Dodô e Osmar. Época em que música tinha letra e se entendia o que o cantor dizia. Na era do baticum, do forró eletrônico e do pagode de periferia, as almas de minha geração pervagam a via crucis do barulho. E não adianta ameaça de juiz, promotor, delegado ou assemelhado. A desobediência impávida não toma nem conhecimento. Sou do tempo em que cabaré era lá na rua de baixo, junto à linha férrea ou à beira do rio. Menino não entrava. Os homens eram cavalheiros, trocavam de roupa e se perfumavam para conquistar as raparigas. Rapariga não andava nua e não tinha obrigação de ficar com quem não queria. Tinha que ser conquistada. Não havia música de baixo calão. As modas eram românticas, os boêmios suspiravam. Uma vez negociada a carne no tabuleiro da paixão, era remunerada. Quem passasse seixo, não fornicava com mais ninguém no bas fond. Havia ordem na zona. Hoje, o cabaré é nas praças, nos clubes, nas ruas de família. Basta que um engraçadinho queira comemorar o aniversário, uma récua de desocupados invade o pedaço, arrebitam a mala do carro, danam decibéis na vizinhança, endoidam o cabeção e fazem neném em plena via pública. É uma verdadeira esculhambação!
Sosígenes Bittencourt
Sosígenes Bittencourt
7 comments:
Muito boa, essa postagem. Vitória é de assombrar e assombra-se.
Faz 10 anos que eu venho repetindo exaustivamente: Vitória vai virar uma Jaboatão velha! Vitória vai virar uma Jaboatão velha! Aguarde postagem de recente viagem de Recife para Vitória, da Dantas Barreto via Jaboatão.
O mundo todo já é uma uma verdadeira assombração. É doloroso ver a maioria dos jovens enveredando por esses caminhos.
Vi um pai que não sabia o que o filho fazia, ficar surpreso ao encontrá-lo na delegacia.
Concordo com você, quando afirma em sua célebre frase:
"O belo está em crise, vivemos a exaltação do feio".
Quem quiser achar "Lapada na Rachada" uma obra de arte, que considere. Eu nasci noutra escola, recebi outra noção de estética.
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