Wednesday, April 30, 2008

Fragmentos (Retrospectiva)

Há 20 anos
Pior que a traição, foi a contradição: Tiradentes, que tirava dentes, teve a cabeça extraída.
Ninguém quer reconhecer que tem uma parcela de culpa e, por isso, um saldo de padecimento.
Há algo de comum entre o Irã e o Iraque: as sílabas da palavra IRA.
O que é bom para as axilas pode não ser bom para a Camada de Ozônio.
Há quem esteja com a vida por um “fio-dental”.
No Concurso para Professor do Estado, não era bom o estado dos professores.
(Abril - 1988)

Há 19 anos
O brasileiro é a favor da Pena de Morte (para os outros), e do Topless (na mulher dos outros).
O homem destrói, há milênios, o mundo que Deus criou em 7 dias.
A inflação é uma infração.
Quebra-cabeça com meu próprio nome: Socine, Socig(é)nes, Soscígenes, Salcisne, Socic, Seu Osi, São Si, Salsicha, Sozinho, Soisso, Solixo, etc, etc, etc
(Abril - 1989)

Sosígenes Bittencourt

Monday, April 28, 2008

De Carli, o Ícaro paranaense

Não adianta procurar o padre cujo corpo está no mar e a alma supostamente no céu. Quem lá somos nós para deduzir, julgar. Sabemos que, não fosse a queda do padre paranaense no mar, talvez jamais soubéssemos que existia alguém de nome Adelir, ademais com tanta fé e tão pouca cautela. São as coberturas jornalísticas, os media. Era domingo, e o padre Adelir de Carli resolveu voar. Queria bater um recorde de tempo, aos 41 anos, como se fora um adolescente radical, inflamado de adrenalina. Há um ditado antigo que diz: “O costume mata o corpo”. Em janeiro, De Carli levantou vôo, pendurado em 500 balões e atingiu 5.337 metros, decolando 4 horas e 15 minutos depois. Saiu de Ampère, no sudoeste paranaense, e foi bater em San Antonio, na Argentina, a 110 km na frente. Foi, em resumo, um vôo internacional. A façanha faz parte do evento Voar Social, invenção que, desde 2005, almeja chamar a atenção para sua pastoral, que presta assistência espiritual e social a caminhoneiros. Roberto Carlos foi mais prudente, cantou uma moda no asfalto e foi de carro para casa. Em contato com seus pacientes, o psicanalista austríaco Sigmund Freud aprendeu que “O homem não acredita na própria morte”. De Carli queria voar 20 horas, repoltreado numa cadeira, pendurada a mil balões, insuflados de gás hélio. Acreditava na própria morte? Não. Ademais, inebriado de tanta fé e turva precaução. Advertido por experts em balonismo, nem respeitou o mau tempo, nuvens, previsões de chuva, a ventania. Caiu ali, livre e solitário, como na expressão “me voilà libre et solitaire”, a cerca de 15 km a leste das Ilhas Tamboretes, a bordo de uma cadeira, impelido pelo vento, nas águas geladas do mar. Ícaro teve suas asas derretidas ao aproximar-se do sol, em desobediência a seu pai, e caiu no mar. Que nosso Ícaro se transforme em Elfo, ente de luz, e Deus o tenha em bom lugar.
Sosigenes Bittencourt

Saturday, April 26, 2008

Não ria se puder

Problema seu

O camarada acordou, apavorado, com a mulher cutucando e fazendo um comunicado:
- Êi, êi, você sabia que a empregada aqui de casa está grávida?
- Problema dela!
- Mas, você sabia que ela disse que o menino era seu?
- Problema meu!
- Êi, e eu, como é que fico nessa história?
- Problema seu! Não vamos misturar os problemas.

Friday, April 25, 2008

Estudando Português

"À medida que" ou "à medida em que"?
Aqui, não se trata do "a" sem acento, como na frase "A medida que ele tomou é drástica". Não é esse o caso. O que estamos discutindo é a locução conjuntiva "à medida que", a qual alguns preferem, erroneamente, substituir por "à medida em que". A forma correta é "à medida que". Apenas um lembrete: "locução conjuntiva" é todo grupo de palavras que relaciona duas ou mais orações ou dois ou mais termos de natureza semelhante.
À proporção que chovia...
"À medida que" significa o mesmo que "à proporção que".
À medida que o mês corre, o bolso esvazia.
Trata-se de uma locução conjuntiva com valor de proporção, introduzindo orações subordinadas adverbiais de proporção.
Há ainda a locução "na medida em que", que vem sendo usada na imprensa e em muitos textos com valor causal.
O governo não conseguiu resolver o problema na medida em que não enfrentou suas verdadeiras causas.
Ou seja, O governo não conseguiu resolver o problema porque não enfrentou suas verdadeiras causas.
Alguns condenam o uso de "na medida em que" argumentando que não há registro histórico dessa forma na língua. Mas o fato é que essa construção já se tornou rotina, mesmo entre excelentes escritores.
O que não é aceitável sob hipótese alguma é escrever "à medida em que".

Tuesday, April 22, 2008

Joaquim x Joaquim














Joaquim José era Tiradentes.
Joaquim Silvério era um endividado.
Joaquim José queria a independência econômica do Brasil.
Joaquim Silvério queria um perdão para suas dívidas.
Joaquim José não obteve o apoio popular devido porque estava preocupado com um tema ligado à riqueza.
Aí, Joaquim Silvério traiu a Conspiração Mineira e expôs o pescoço de Tiradentes à forca.
Fê-lo ao Visconde de Barbacena.
Hoje, deploramos o cavarde fisiologismo de Joaquim Silvério dos Reis e exaltamos o martírio de
Joaquim José da Silva Xavier.
Sosigenes Bittencourt

Abril, Brasil, rimas em "il"

Nada há que mais se pareça
com o Descobrimento do Brasil
que o mês de abril.

Ricas rimas, alveolares articulações
de rimas em “il”.

Aves marinhas esvoaçantes
sob um céu de anil
a 21 de abril,
que Cabral, alcaide-mor de Azurara,
Senhor de Belmonte, viu.

Achou, não achou, descobriu:
ventos tangeram caravelas;
das proezas, a mais bela,
à terra do Brasil.

Sosigenes Bittencourt

Saturday, April 19, 2008

Vera Cruz e Porto



-Uma tarde triste para as páginas da história do Vera Cruz, jogando contra o Porto, neste sábado, no Carneirão. O Galo, precisando vencer para se manter na elite do futebol pernambucano, acabou empatando em 2 a 2 e foi rebaixado para Série A2 na próxima temporada. Com uma grande participação de sua torcida, o Vera começou a partida indo pra cima do adversário. Porém, o nervosismo e a afobação atrapalharam na construção das jogadas. Aos 30 minutos, numa falha da defesa, o meio campista Guego aproveitou e fez 1 a 0 pro Porto. Na busca pelo resultado positivo, na volta pro segundo tempo, o técnico Adelmo Soares substituiu o zagueiro Mi pelo meia Marquinhos, colocando o Galo ainda mais na ofensiva. A resposta do Vera Cruz veio aos 16 minutos, com Ricardo, depois de muita confusão na área do Porto. 1 a 1. Sabendo que este resultado não garantiria sua permanência na 1ª divisão, o Galo continuou pressionando o Gavião na tentativa de virar o jogo, que aconteceu aos 24 minutos, de novo com Ricardo, para total delírio dos torcedores. A explosão de alegria da Torcida do Galo foi interrompida aos 6 minutos, depois do vira-vira do Vera Cruz, quando o jogador do Porto, Joelson, num chute de longe, acertou a trave onde, caprichosamente, na volta, a bola pegou no ombro do arqueiro Deloni e entrou. 2 a 2. Guerreira, a equipe lutou e pressionou o Gavião do Agreste até o apito final de Emerson Sobral, que rebaixou o Galo e fez silenciar o Carneirão. Um fato curioso é que o Vera Cruz fez sua estréia na divisão de elite em 2007, jogando com o Porto no Carneirão e, agora, fez sua última partida na Série A justamente contra o Porto.

Por: Melicio de Oliveira

Friday, April 18, 2008

Sudações rubro-negras


Sou rubro-negro desde a vida intra-uterina, sou rubro-negro genético, pois minha avó Celina, mãe de meu pai, tomava banho e penteava os cabelos para ouvir o jogo do Sport pelo rádio.
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, April 15, 2008

A poesia é essencial


Tu, só tu
Não verso mais a Capitu
Nem de Dante, a Beatriz
Verso agora apenas tu
Mais nem outra meretriz
Nem Marília de Dirceu
Muito menos Bovary
Nem Julieta de Romeu
Verso agora apenas ti
Nem Carlota Joaquina
E até mesmo escrava Isaura
Quero somente a menina
Que me refresca de aura
Carolina Xavier
Deixarei para Machado
Quero apenas a mulher
Do cabelo cacheado
Nem a garota de Ipanema
Nem as meninas da gare
Nem a virgem Iracema
Quero apenas quem me cale.
Eridelson Silva

Caso Isabella Nardoni



Não há quem não esteja nesse instante desejando que não tenham sido o pai e a madrasta da pequena Isabella Nardoni, os seus reais e desumanos assassinos, para que a face do crime não se torne mais carrancuda e torpe. Ademais, a frieza, levantada pela crítica em geral, de que a mãe não esboça nenhum desespero é outro detalhe que desafia a imaginação dos mais sinistros escritores e cineastas conhecidos. O que estará acontecendo com o nosso país, onde criança é arrastada pelas ruas pendurada em porta de automóvel, outra é torturada com as mãos atadas para o alto, e atira-se menina de edifício como se fora um brinquedo, algo sem vida, sem sonhos, inanimado? Ah! Foi-se o tempo em que todo adulto era pai de toda criança. Pai e protetor, em quem se podia confiar. Já não basta nossa cota de assassinatos ultrapassar anualmente o número de 48 mil, o que a ONU considera estado de guerra, ainda temos que catalogar crimes pérfidos, covardes, contra inocentes. Que qualidade de gente somos nós, que rumo tomamos, depois de tanto avanço tecnológico e científico, tanta ciência, sem sabedoria? A quantas anda nossa espiritualidade, nossa fé, nosso amor ao próximo, nossa misericórdia? Isabella Nardoni é filha de todos nós, de todos os indignados, todos que amam seus filhos e temem por suas vidas. Nosso clamor por Justiça parece um pesadelo, e os peritos criminais parecem encenar uma peça fantasmagórica à cata de monstros.
Sosigenes Bittencourt

Monday, April 14, 2008

Fala, Vitória



Orelhão Portátil

Tenho um celular da Claro, há anos, e nunca o roubaram. Já deixei o monstrengo em cima de mesa de bar e fui passear. Este celular, pelo tempo que possuo, já caiu uma porrada de vezes e não quebra nem a pau. Talvez, porque o sujeito seja simplesmente horroroso. Para vocês terem uma idéia, eu o apelidei de "Orelhão Portátil". Contudo, pela promoção da ÔI - essa que você bota 10 reais e ganha 100 - comprei um no valor de 99 mil réis. Não deu 10 dias, um safado o furtou - diga onde? Onde? Onde? Claro que foi no Posto Cidade. De madrugada. O meliante pediu cerveja, fumou cigarro "se-me-dão" e ainda carregou o meu pobre ÔI. Agora, me diga: É, ou não é, uma desgraça! Quando Melchisedec era vivo e morava lá atrás da Delegacia, só ouvia o estardalhaço das estudantes, gritando como umas loucas, levando botada de assaltante, nas barbas da Polícia. O próprio Melchisedec, fundador da Academia de Letras, com mais de 80 anos, levou revólver na cabeça exatamente na Praça do AABB.
Sosigenes Bittencourt

Wednesday, April 09, 2008

A amuada



É, ou não é, uma gracinha, o que essa pequerrucha fez com o presidente João Baptista Figueiredo, em 1979, quando o general participava do lançamento do primeiro carro a álcool no Brasil? Parece que a menininha estava adivinhando. Figueiredo seria o último presidente do ciclo dos generais, iniciado no regime militar em 1964. O amuo deu-se no Palácio da Liberdade, em Minas Gerais. E ninguém melhor do que o repórter Guinaldo Nicolaevsky, com esse nome de russo, para registrar situação tão russa. Damos por vista o que o presidente não teve vontade de fazer com aquela mal-humorada em pleno regime de exceção, época em que se atirava gente amarrada no rio, dava-se choque em testículo e arrancava-se unha a alicate. E Figueiredo ainda levou sorte, porque a engraçadinha apenas lhe negou a mãozinha e fez um beicinho, entronchando a carinha safadinha. Fosse hoje, na era da Egüinha Pocotó e a dança na boquinha da garrafa, ele teria visto o que é bom pra tosse. No mínimo, o dedinho médio imitando um minúsculo pênis em posição de sentido, uma língua estirada, ou um estalar de banana.
Sosígenes Bittencourt

Tuesday, April 01, 2008

A poesia é essencial

Dúvida

Entre o claro e o escuro
Entre a emoção e a razão
Entre o óbvio e o obscuro
Há uma mente em erupção
Há um descontrole de tudo
O que é normal se extravia
O bizarro se anexa
E o agitado silencia

Samuka Voice

(Samuka é locutor de rádio e funcionário da Rádio Vitória FM em Vitoria de Santo Antão-PE)