Monday, April 28, 2008

De Carli, o Ícaro paranaense

Não adianta procurar o padre cujo corpo está no mar e a alma supostamente no céu. Quem lá somos nós para deduzir, julgar. Sabemos que, não fosse a queda do padre paranaense no mar, talvez jamais soubéssemos que existia alguém de nome Adelir, ademais com tanta fé e tão pouca cautela. São as coberturas jornalísticas, os media. Era domingo, e o padre Adelir de Carli resolveu voar. Queria bater um recorde de tempo, aos 41 anos, como se fora um adolescente radical, inflamado de adrenalina. Há um ditado antigo que diz: “O costume mata o corpo”. Em janeiro, De Carli levantou vôo, pendurado em 500 balões e atingiu 5.337 metros, decolando 4 horas e 15 minutos depois. Saiu de Ampère, no sudoeste paranaense, e foi bater em San Antonio, na Argentina, a 110 km na frente. Foi, em resumo, um vôo internacional. A façanha faz parte do evento Voar Social, invenção que, desde 2005, almeja chamar a atenção para sua pastoral, que presta assistência espiritual e social a caminhoneiros. Roberto Carlos foi mais prudente, cantou uma moda no asfalto e foi de carro para casa. Em contato com seus pacientes, o psicanalista austríaco Sigmund Freud aprendeu que “O homem não acredita na própria morte”. De Carli queria voar 20 horas, repoltreado numa cadeira, pendurada a mil balões, insuflados de gás hélio. Acreditava na própria morte? Não. Ademais, inebriado de tanta fé e turva precaução. Advertido por experts em balonismo, nem respeitou o mau tempo, nuvens, previsões de chuva, a ventania. Caiu ali, livre e solitário, como na expressão “me voilà libre et solitaire”, a cerca de 15 km a leste das Ilhas Tamboretes, a bordo de uma cadeira, impelido pelo vento, nas águas geladas do mar. Ícaro teve suas asas derretidas ao aproximar-se do sol, em desobediência a seu pai, e caiu no mar. Que nosso Ícaro se transforme em Elfo, ente de luz, e Deus o tenha em bom lugar.
Sosigenes Bittencourt

6 comments:

Anonymous said...

Viajar pendurado a tantos balões!
Sera que esse padre é ruim da bola?

Sosígenes Bittencourt said...

O episódio tragicômico, a epopéia bíblica, ou mitológica, do padre paranaense, suscitou crônica. Aguarde-a aqui no blog. Forte abraço!

Unknown said...

O padre Adelir era um homem conhecedor da Palavra de Deus, mas não foi vigilante...
JESUS foi vigilante. Ele não se deixou levar pela estultícia de satanás, quando o mesmo pediu para que ELE se atirasse do pináculo, dizendo: "Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e: Eles te susterão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus".(Mateus 4:6 e 7)
Conforme afirma o dono desse Blog: "Quem lá somos nós para deduzir, julgar". Tudo que acontece aqui na terra é permissão de Deus. Ele sabe e pode tudo...
Portanto, só cabe a Ele julgar.
Que Deus o acolha.

Sosígenes Bittencourt said...

Há um provérbio persa que diz: Confia em Deus mas amarra o teu camelo. E há um popular que segue a mesma linha de reflexão: Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Mas, enfim, cada um com a sua falta de cautela pessoal. Afinal, terminamos morrendo e responsáveis por isso. Somos acusados de suicidas conscientes, pois sabemos o que é bom para nós e optamos pelo contrário. Já se tornou um truísmo, afirmar-se: O homem não morre, mata-se.

Unknown said...

No meu ponto de vista o Padre procurou a morte,qual a segurança que tinha esses balões? concordo com você Sosígens o homem não morre mata-se.

Sosígenes Bittencourt said...

Por trás do ato de se matar, ainda existe uma incógnita: se é para morrer, por que nasceu? Principalmente, quando nascer não é opcional e morrer é contra a vontade. Há duas coisas incompreensíveis na vida: nascer sem pedir e morrer sem querer.
Forte abraço!