Psicanalista defende idéia de que imaginar a entrega total do corpo é essencial na sexualidade feminina.
A psicanalista gaúcha Eliana Calligaris dedicou sua tese de mestrado à questão da prostituição - não invocando a atividade das profissionais do sexo, mas analisando-a como uma fantasia da mente feminina. A tese transformou-se no livro Prostituição: o Eterno Feminino, no qual expõe a idéia de que a fantasia da prostituição significa imaginar uma disposição do corpo sem restrições.
ÉPOCA - O que é a entrega do corpo feminino?
Eliana Calligaris - Muitos homens comentam que, ao tocar numa mulher, encostam num corpo sem vida. A mulher na verdade está ausente. A entrega seria estar realmente presente numa cena sexual e usufruir desse momento. Na psicanálise, acreditamos que a menina, em um período de sua vida, sente desejo pelo pai. Mas ela aprende que é preciso reprimi-lo. Entretanto, esse desejo precisa, mais tarde, se revitalizar na relação com outro homem. A fantasia da prostituição permite que a mulher desenvolva sua sexualidade sem as amarras do pai e se entregue à relação com um homem ou mesmo com uma mulher.
ÉPOCA - Há muitos livros com memórias de prostitutas sendo publicados. Por que as pessoas estão interessadas em saber o que passa na cabeça das profissionais do sexo?
Eliana - Com a chamada liberação sexual, imposições culturais como a virgindade antes do casamento caíram. O que nós temos ainda para descobrir? Nosso interesse, desde criança, é movido pela curiosidade sexual. Sexo não é apenas a cópula, mas tudo o que dá prazer e anima o corpo. Por mais que tenhamos derrubado tabus, ainda somos curiosos, pois o sexo organiza a vida emocional do sujeito. A vida das prostitutas continua sendo misteriosa para quem não exerce essa profissão. Elas têm uma representação social importante, pois sabem sobre o maior segredo que existe no mundo: o segredo do sexo.
Época - 10/08/2005
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