Costumo dizer, em conversa, que o homem mata infinitamente mais do que a mulher, razão pela qual considero a mulher um animal melhor do que o homem. E quando o crime envolve homem e mulher, advindo de relação passional, é que se percebe mais nitidamente a maneira de reagir de ambos. Observe, por exemplo, como aborda essa diferença de reação a professora e advogada Dayse de Vasconcelos Mayer, em sua crônica Crimes de Paixão.
"Os homens lideram as estatísticas dos crimes de paixão. Foram educados para a contenção das emoções. Mesmo as mais singelas. Quando os sentimentos não podem aflorar por inteiro vão se acumulando numa caldeira. No instante em que as válvulas se rompem pelo excesso de pressão do meio, as emoções fluem desordenadas sob o ferrete da irracionalidade. Quem já leu Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco, poderia compreender melhor essa lógica.
Na seara feminina, também as mulheres matam. E com requintes de perversidade. Mas isso ocorre, geralmente, na imaginação. Não se trata dos casos em que a mulher, vítima passiva de recorrente crueldade masculina, explode subitamente um dia e mata. Aqui é diferente: elas conseguem redirecionar a paixão para si próprias numa espécie de sadomasoquismo ou lento suicídio. Exatamente como se a morte tivesse o poder de ressuscitar a paixão no outro. Grande parte acaba por descobrir que a maior vingança é revelar ao homem amado que ainda possui a capacidade de ser feliz."
Sosígenes Bittencourt
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