Todo domingo, eu me lembro que sou um compulsivo colecionador de recortes de jornal desde menino, quando meu pai comprava o “Diario de Pernambuco”, e eu me punha a recortar as matérias e colecioná-las por assunto. Outro dia, numa de minhas elucubrações, remexendo papéis, de madrugada, encontrei um recorte já amarelado pelos domingos, onde o poeta Marcus Accioly, numa entrevista, termina por dissertar sobre a diferença entre “talento e arte”. A pergunta era a seguinte:
DP – Não há forma para ser um bom poeta. Mas, existirão aquelas para não se fazer uma má poesia?
MA – Perguntaram a um poeta espanhol o que era necessário para se fazer um poema. Ele respondeu que seria “começar por uma letra maiúscula e terminar com rima”. Perguntaram novamente: “E no meio?” O poeta respondeu: “Hay que poner talento.” Sabemos hoje que o poema nem precisa terminar com rima, mas de talento ele continua precisando. Contudo, que não se confunda “talento” (que é um dom), com “arte” (que é uma técnica).
Contam que Miguel Ângelo encontrou, ao acaso, uma pedra de mármore e ficou estático olhando a pedra. Alguém duvidou dele: “Você está vendo uma pedra?” O artista respondeu: “Estou vendo um anjo sentado.” O talento viu, intuiu o anjo sentado, mas a arte é quem retira da pedra o anjo de pedra.
O poeta Sílvio Roberto de Oliveira me contou a história, quase estória, de um escultor popular que fazia ursos de madeira. Indagado como conseguia realizar tal tarefa, respondeu: “É fácil. Eu tiro da madeira tudo que não é urso e só fica o urso.” Portanto, a única forma para não se fazer um mau poema é retirar do poema tudo o que não é poesia. Assim – como disse Mallarmé – “restará arte ou quase nada”.
(Na foto: o poeta Marcus Accioly)
Sosígenes Bittencourt
DP – Não há forma para ser um bom poeta. Mas, existirão aquelas para não se fazer uma má poesia?
MA – Perguntaram a um poeta espanhol o que era necessário para se fazer um poema. Ele respondeu que seria “começar por uma letra maiúscula e terminar com rima”. Perguntaram novamente: “E no meio?” O poeta respondeu: “Hay que poner talento.” Sabemos hoje que o poema nem precisa terminar com rima, mas de talento ele continua precisando. Contudo, que não se confunda “talento” (que é um dom), com “arte” (que é uma técnica).
Contam que Miguel Ângelo encontrou, ao acaso, uma pedra de mármore e ficou estático olhando a pedra. Alguém duvidou dele: “Você está vendo uma pedra?” O artista respondeu: “Estou vendo um anjo sentado.” O talento viu, intuiu o anjo sentado, mas a arte é quem retira da pedra o anjo de pedra.
O poeta Sílvio Roberto de Oliveira me contou a história, quase estória, de um escultor popular que fazia ursos de madeira. Indagado como conseguia realizar tal tarefa, respondeu: “É fácil. Eu tiro da madeira tudo que não é urso e só fica o urso.” Portanto, a única forma para não se fazer um mau poema é retirar do poema tudo o que não é poesia. Assim – como disse Mallarmé – “restará arte ou quase nada”.
(Na foto: o poeta Marcus Accioly)
Sosígenes Bittencourt
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