Sunday, June 05, 2011

Anoiteceres

Anoitece em Vitória. Anoiteço em Vitória. Sou figura noturnal, viajante do ocaso, sonhador como o crepúsculo vespertino, morto de saudade como o final. De olhos vendados, conheço o cheiro dos bairros, dos becos, do meio do mato de minha cidade natal. O cheiro de fumaça, de mingau, de chuva. Sou todo olfato e lembrança. Conheço os trejeitos do meu lugar, os cabelos perfumados, os enxerimentos, o flerte e o gozo. Minha cidade é todinha uma mulher. Chamar-se-ia Vitória das Marias, Maria das Vitórias, tal como é.
Anoitece em Vitória. Anoiteço em Vitória. Saio para passear, impregnado dos prazeres noturnos, das eras do meu tempo, que me viciam e me saciam. Minha cidade muda todo dia, mas não muda o meu sentimento, o fascínio elaborado pela memória, como quem ama o que odeia e odeia o que ama, num jogo de perde e ganha.
Anoitece em Vitória. Sobretudo, anoiteço em Vitória. Enlouqueço em Vitória. Porque ninguém entende o que em nós nem conseguimos explicar. Vitória, meu berço e minha tumba. Minha alma noctívaga vai enredando sua história. O acaso me espreita, a surpresa me seduz, sua bruma, sua luz. Alucinações e desejos, rimas em ‘ina’, adrenalina, serotonina, dopamina. Ah! Vitória, dos meus idos e vindas de menino, minha menina!

Sosígenes Bittencourt

4 comments:

silvio felix said...

sou nascido em moreno mais nunca morei um dia em moreno minha vida e vitória eu amo esta cidade eu vivo em vitória e durmo em cidade de Deus vitória terra amada amado abraço

Sosígenes Bittencourt said...

Infelizmente, a Vitória que eu tenho em mente pertence ao passado, ao tempo em que se podia sonhar com um futuro promissor para Vitória. Vitória obreira e pacata, sem a violência que hoje campeia e nos assusta. Vitória não se preparou para o futuro, e o futuro chegou de maneira catastrófica como um tsunami.
Perdido abraço!

Doraci said...

Professor, amo esta cidade. Tenho saudade de tudo, mas a minha maior saudade é das praças. Ah! As praças! Vamos torcer para que a atual administração devolva aos vitorienses um pouco da Vitória de antigamente. Bons tempos aqueles...
A esperança nunca morre!

Esperançoso abraço!

Sosígenes Bittencourt said...

Oh! insuportavelmente adorável DORA. Dora que vi na praça, no mesmo banco, no mesmo jardim. Gosto tanto de ti quanto de mim, de tanto que és um espelho a me refletir. És um retrovisor, por onde vejo o passado. Somos do tempo em que havia tempo de se pensar no tempo. Tempo de se pensar no pensamento. Por isso, não abro mão dessa minha Vitória, aquela que ninguém destruirá. O mundo é malvado.
aDORÁvel abraço!