Wednesday, June 15, 2011

Esse mês de junho

Esse mês de junho é, sem dúvida, o mês mais excitante e debochado do ano. Só se fala em namoro, beijo, a Espada de Apolo refletida no Espelho de Vênus. O mundo levanta a saia, desabotoa-se, caem os panos. É o mês do “frisson”, do friozinho na barriga. Diz que há 484 tipos de beijo; que o animal racional dá 24 mil beijos durante a vida; que uns beijam com a cabeça inclinada para a direita, porque ficaram envergados na cápsula uterina; que a saliva do homem injeta testosterona na boca da mulher, para ela ficar querendo se entregar. Vinícius de Moraes inventou que “a hora do ‘sim’ é o descuido do ‘não’". As noites cheiram a lenha queimando, guloseimas de milho. O som é de estampido, sanfona gemendo, arrasta-pé. A visão é de Luiz Gonzaga entrando no céu com gibão e tudo. Tempo de olhares desconfiados, mãos bobas, a musculatura pegando fogo e as vísceras abdominais resfriadas. Raro o mortal que não cometeu uma safadeza carnal nesse clima. Às vezes, com quem nunca viu; às vezes, com sua prima. Descobriram até que casados gostam de boca cheirosinha a pasta de dente, e que solteiros são chegados a um cheirinho de álcool. Vôte! Tempo de mexerico, hipocrisia. Tem gente que mete o pau naquilo que mais adora. Diz que a língua tem toneladas de terminações nervosas, por isso beijar engatilha o desejo e faz bem à saúde. A beijoterapia ensina que a ocitocina faz um elemento ficar gostando do outro. Mas, diz que o beijo movimenta 29 músculos e permuta 250 bactérias, o que pode servir para espalhar a Gripe Suína. Deus nos defenda! Por isso, o jornalista italiano Dino Segre, popularmente conhecido como Pitigrilli, enredou que “o beijo é uma troca de bactérias em campo úmido.” Enfim, o beijo é um bicho danado. Ninguém é o mesmo depois do beijo.
Ensalivado abraço!

Sosígenes Bittencourt

2 comments:

silvio felix said...

o beijo e algo tremendo sei lá eu acho que e inexplicável confuso abraço

Sosígenes Bittencourt said...

A natureza é perfeita, mas é preciso compreendê-la, não contrariar a obra divina. Todo excesso é venenoso, já diziam os antigos. O beijo é maravilhoso, mas não implica sair por aí beijando gregos e troianos. Assim como não se deve botar a mão no buraco do tatu, também não se deve botar a boca onde não deve. O nariz e a boca são as portas de entrada de todos os vícios.
Cauteloso abraço!