(No tempo de eu menino)
Dentre as figuras lendárias e
bizarras das quais tive notícias e algumas conheci, em Vitória de Santo Antão,
espero que alguém relembre MANÉ CAPÃO, MÃO DE ONÇA, CAFINFIM, PAPA-RAMA, DIDI
DA BICICLETA, BIU LAXIXA E O CORCUNDA ANÍBAL.
MANÉ CAPÃO tinha os trejeitos
de um primata. Haja vista que andava de pernas arqueadas, pendendo para os
lados, erguendo a cabeça e fazendo bico com a beiçola. Às vaias e insultos que
recebia, respondia na pedrada. Não é preciso dizer que lascou cabeça de gente,
estilhaçou vidraças e botou muito sujeito pra correr. Recordemo-lo. Penso que
quem o insultava era pior que ele.
MÃO DE ONÇA nunca deu um soco
num atrevido para não vê-lo estatelado no chão. PAPA-RAMA brigava com 4, na
braçada. Parecia um viking. DIDI DA BICICLETA tinha o corpo fechado, porque a
caixa dos peitos era rendada de tiros sem ter baixado à sepultura. CAFINFIM
dava óleo queimado para os presos beberem, e BIU LAXIXA era tão doido que,
quando corria na frente, ninguém corria atrás. E ainda tinha FERRO, um negão
que dava beliscão em menino.
Não sei quem se lembra, mas eu
conheci a figura cinematográfica do CORCUNDA ANÍBAL. Andava pelas ruas
resmungando e exalando um nauseante aroma de pão e banana, como se fosse um
personagem de filme de terror. Aníbal tinha o hábito de apalpar o seio das mulheres, o que o tornava mais
apavorante. Não sei do que morreu nem exatamente quando, o que lhe empresta uma
feição misteriosa e hugoana, à la O Corcunda de Notre Dame.
Sosígenes Bittencourt
3 comments:
Se Mané Capão era doido de atirar pedra, o que dizer de quem o insultava? Quem xinga doido, além de não ter juízo, é perverso. E uma pedrada na têmpora pode matar um doido perverso.
Minha educação doméstica foi rígida no sentido de respeitar o semelhante, sobretudo os humilhados e ofendidos.
Não abro mão da reflexão do Médico e Cientista Social Josué de Castro (1908-1973): "Fome e Guerra não obedecem a qualquer Lei Natural, são criações humanas." Depois, comungo com a óbvia constatação de Diogo de Tovar: "Aos desiguais em riqueza, torna-os iguais, a sepultura."
Sobre a morte de Mané Capão, escreveu-me dona Helci Mota Silva:
Eu vi sua mensagem muito bonita sobre Mané Capão. Meu nome é Helci e posso te informar que ele faleceu no Hospital Psiquiátrico de Pernambuco (HPP). Na época, eu era administradora de lá. Teve, à noite, uma forte dor de cabeça (segundo informação dos internos) e no outro dia pela manhã, quando eu cheguei, ele estava morto. Liguei para Vitória e avisei ao tio dele, Geraldo, que não pode comparecer ao enterro, e foi enterrado no cemitério da Muribeca. Abraços.
Aliás, há duas versões sobre o apelido do cidadão: Mané Capão e Maneca Pão.
Dona Helci não me informou a data do falecimento de Mané, mas eu acredito, piamente, que esteja falando a verdade, posto que trabalhava no HPP. O que me impressiona é Aníbal ainda estar vivo, segundo fui informado. Mainha crispou o sobrecenho quando soube, ou seja, franziu a testa.
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