A
Ponte de Gaiola - Vitória de Santo Antão – PE
A
fotografia da Ponte de Gaiola lembra-me a Vila dos Ferroviários e o arruado de
Dr. Alvinho. Arruado, aqui, não é "à beira da estrada", mas "à
margem do Rio Tapacurá". Das enchentes, dos porcos, das galinhas e
vira-latas. Da pobreza, dos panos estendidos no arame e das meninas bonitinhas,
cheirosinhas a Seiva de Alfazema. Das moçoilas semivirgens debruçadas nas
janelinhas de vaso com flor.
Quando
menino, eu tinha medo de cair desta ponte; hoje, eu tenho medo de que me
empurrem da ponte. Saudade de um tempo de paz.
Sou
do tempo que havia tempo de acompanhar a réstia do sol e contar estrelas.
Sou
do tempo que o coral dos grilos executava a sonoplastia das estrelas.
Sosígenes
Bittencourt
2 comments:
Minha mãe atravessou essa ponte, à noite, comigo na barriga. Meu pai segurava na sua mão. O desfile deu-se em 1955, antes de eu ser dado à luz. Na ida, passaram sobre as pedras no leito do Rio Tapacurá. Na volta, se equilibraram sobre a ponte, o abismo lá embaixo, o cheiro de lama, o coaxar dos sapos, a cantata sonora dos insetos silvestres. Na sacola uterina, eu viajava a bordo, já pronto para vir me apegar às coisas do mundo. Êita, meu Deus!
Quando vejo a Ponte de Gaiola, eu me lembro de Verônica. Verônica morava na Vila dos Ferroviários. Passei anos a fio frequentando sua casa. Verônica foi a única menina, no mundo, que eu nunca deixei de namorar sem nunca ter namorado. Ia para sua casinha, só pra ficar olhando pra ela, desejando ela, querendo ela. Tudo porque ela nunca dizia "sim", mas nunca dizia "não", o que me alimentava a ilusão. Às vezes, eu penso em Verônica. Paro o que estou fazendo e vou me sentar numa cadeira, só para ficar pensando nela. Eu até fiz uma poesia, um dia, pensando em Verônica e olhando para a Ponte de Gaiola. Foi assim: No meu quarto, eu plantei uma semente de sono, brotou uma Verônica. Amém!
Post a Comment