Saturday, February 01, 2014

No tempo de eu menino



A castanha é um mimo da natureza que mais se acumplicia com a nossa infância, o seu sumo, o seu aroma, o seu formato, o seu sabor, sua fumaça quando explode no fogaréu.

O caju também. Caju vermelhinho, amarelinho, rechonchudo e de delicada protuberância, que nem peito de moça desabrochando.

Em meus devaneios poético-sofístico-dramáticos, quando mastigo castanha assada, é como se mastigasse quintais ou inalasse a década de 60. Assim como sinto uma sensação de funeral quando polvilho orégano e associo quiabo a seis horas da noite. Sou um fuxiqueiro de minhas sinestesias poéticas.

Fundo de quintal foi tudo na minha infância. Era o meu paraíso. A ventania, o alvoroço das árvores, o cricrilar dos grilos em sintonia com o tremeluzir das estrelas. O cheiro de perfume e cigarro que escalava a ladeira do cabaré lá embaixo. Reunião de gatos, o desfile das galinhas... Fundo de quintal foi a minha primeira aula de leitura do mundo.

Sosígenes Bittencourt

1 comment:

Sosígenes Bittencourt said...

Na minha percepção de menino, o quintal tinha a dimensão de um latifúndio. Criança não podia abrir a porta e correr no meio da rua, por isso o quintal era um lugar emocionante, porque era livre e seguro. Eu me lembro do portão de madeira trancado a ferrolho. De noite, não, era perigoso, tudo escuro, podia aparecer monstro, algum fantasma ectoplasmático ou uma caveira dançarina e risonha. Foi no tempo que menino era proibido de fazer sexo e tinha medo de Deus. Entretanto, não raro, era no quintal que a natureza pecaminosa imitava a Queda do Éden e se rebelava contra o Criador.