Tuesday, August 12, 2014

NUA




Uma menina trabalhava, num barzinho, praticamente nua. Via-se-lhe toda fronteira das coisas proibidas. A bichinha era mesmo fraca de pudor. Tinha até um risinho enviesado no canto da boca, como se sugerisse uma safadeza carnal. Só não andava completamente nua, porque a Polícia não consentia.
E eu, namorador, frequentava o local sempre com uma menina diferente, de amigas a namoradas. Naquele tempo, todo amostrado, levava uma carteira de cigarro no bolso e bebia Brahma Chopp. Fazia pantomima, erguendo o copo e dando baforada, querendo ser o Hamphrey Bogart, mas parecendo um Don Juan de feira de mangalho.
Um dia, a atrevida veio-me e saiu-se com essa: - Êi, mestre, o senhor gosta tanto de namorar, admira tanto mulher e nunca disse nada comigo...
Aí, eu justifiquei: - Minha filha, se você andasse composta, ocultando as partes mais desejadas, talvez me despertasse mais apetite, me fustigasse a curiosidade. Mas, o que perguntaria, eu, sobre seu corpo, se está tudo à mostra, se suas carnes estão estendidas nos tabuleiros dos bares, na maior leviandade, aos olhos pidões da freguesia? 
Sosígenes Bittencourt

2 comments:

Sosígenes Bittencourt said...

Eis a diferença entre o nu pornográfico e a sugestão do nu, que é erótico. O nu pornográfico não nos permite pensar. Na sugestão do nu, cabem todas as fantasias.

Sosígenes Bittencourt said...

Mente vazia é a gruta do Capeta. O Capeta não tem sono. É um inquilino indormido que fustiga suas vítimas com o tridente em chamas. Depois, arrebanha seus escravos para o pecado e a destruição da Obra Divina.